Não Fale o Mal
Director
James Watkins
Cast
James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy
Writer
James Watkins
Company
Blumhouse
Runtime
110 minutos
Release date
12 de setembro de 2024
No Festival de Sundance de 2022, Christian Tafdrup lançou o longa dinamarquês Não Fale o Mal, um terror psicológico sorrateiramente perturbador e absolutamente brutal sobre uma família que não sabe dizer não e acaba tendo que lidar com as consequências extremas disso. Agora, apenas dois anos depois, Hollywood estreia seu remake, de mesmo nome, com direção e roteiro de James Watkins e com James McAvoy como grande protagonista. Ainda que a arte não precise de uma justificativa para existir, a ideia de um remake americano quando a obra original ainda é tão recente foi recebida com ceticismo por muitos (por mim, inclusive). É verdade que um remake não era “necessário”, o filme dinamarquês tem muita qualidade e passa sua mensagem, mas a nova versão de “Não Fale o Mal”, apesar de americanazada e mais “palatável” para Hollywood, acaba se tornando um filme muito diferente em muitos aspectos e é capaz de existir por si só.
“Não Fale o Mal” é um ótimo representante do gênero do terror psicológico, principalmente em seu primeiro ato, que pode até parecer monótono por conter pouca ação, mas estabelece uma fundação necessária para tudo que vem depois (e não é pouco). Quando conhecemos as duas famílias da história, quase tudo parece normal, mas o roteiro e a direção são cuidadosos ao nos apontar pequenos detalhes que podem indicar que nem tudo é tão normal assim. As duas famílias nos são apresentadas durante suas férias na Itália, onde dividem a mesma pousada. Ben (Scoot McNairy) e Louise (Mackenzie Davis) parecem um casal estável e ordinário, aos poucos vamos descobrindo que eles estão morando em Londres e passando por um momento de mudanças em suas vidas – nem todas bem-vindas, e essas mudanças também afetam Agnes (Alix West Lefler), a filha de 11 anos do casal que já apresenta alguns sinais de ansiedade.
Os três formam uma família tradicional e dentro de todos os padrões esperados, mas suas férias de calmaria são interrompidas quando eles conhecem a família de Paddy (James McAvoy), Ciara (Aisling Franciosi) e seu filho Ant (Dan Hough), o casal é aventureiro, expansivo e parece não ter qualquer consciência ou preocupação em relação ao que suas ações podem provocar naqueles ao seu redor, já o filho Ant é uma criança mais arredia e menos sociável, comportamento justificado pelos pais como consequência de uma doença que impede o menino de falar. O contraste entre as duas famílias é gritante e o ponto central para o desenvolvimento da narrativa, principalmente por conta da relação entre Paddy e Ben. Enquanto Paddy parece confortável com sua vida e o lugar que o ocupa no mundo, Ben desde o princípio dá sinais de que não está onde gostaria de estar e não sabe lidar com diversas questões internas, incluindo seu próprio ideal de masculinidade e vê em Paddy um exemplo do que ele gostaria de ser, mas não consegue.
É essa admiração de Ben que faz com que ele a esposa aceitem um convite de Paddy para visitarem sua fazenda no interior por alguns dias – e é aí que tudo começa a dar errado. A construção do suspense em “Não Fale o Mal” é muito bem feita, deixando pequenas pistas do que pode estar errado, até chegar no problema de fato. Diferente da versão original, nessa temos um desenvolvimento muito maior dos personagens e suas motivações, principalmente de Paddy e Ben e os atores James McAvoy e Scoot McNairy entregam atuações que aprofundam ainda mais essas nuances e transformando a relação entre os dois em mais um elemento psicológico do filme.
Os detalhes que demonstram ter algo errado não encontram resistência de Ben e Louise, que apesar de conscientes da estranheza, seguem inertes diante do desconforto. A inércia, a incapacidade de dizer não e de impor suas vontades por medo do incômodo é o que leva os detalhes a culminarem em algo muito maior, quando já é tarde demais. O resultado disso é um terceiro ato tenso, dinâmico, genuinamente assustador e um filme que comprova não a necessidade, mas a satisfação de sua existência.
Por Júlia Rezende