Rivais
Director
Luca Guadagnino
Cast
Zendaya, Mike Faist, Josh O'Connor
Writer
Justin Kuritzkes
Company
Warner Pictures
Runtime
171 minutos
Release date
25 de abril de 2024
Depois do subestimado “Até os Ossos” (2022), Luca Guadagnino volta às telonas para provar, mais uma vez, que a segurança e expertise que tem atrás das câmeras é capaz de criar experiências cinematográficas únicas. É raro, e extremamente gratificante, encontrar filmes que simplesmente exigem sua atenção. Em “Rivais”, são tantas sensações exploradas em cena que é impossível que você saia da sessão sem ser impactado de alguma forma. Mais impressionante ainda é a maestria de Guadagnino na direção, ao utilizar as entrelinhas para relevar e escancarar sentimentos explícitos. É uma obra tão peculiar que dificulta sua classificação, seria redutivo dizer que se trata de um filme de drama, ainda pior um filme de esporte. “Rivais” possui o melhor do drama, do esporte, do suspense, do erótico – e não se resume a nenhum desses gêneros.
Tendo o ambiente competitivo do tênis como cenário, surge um triângulo amoroso que se torna o grande protagonista dessa história. Não é sempre (muito pelo contrário) que vemos triângulos amorosos tão bem integrados numa narrativa, sendo majoritariamente usado como um artifício para impulsionar um romance mal resolvido. Em “Rivais”, não é isso que acontece, o triângulo amoroso é o coração da história e a razão de cada um dos três personagens principais. Art (Mike Faist) e Patrick (Josh O’Connor) são aspirantes a jogadores profissionais de tênis e melhores amigos com uma intimidade que só pode existir entre pessoas que são colegas de quartos desde os 12 anos de idade. Eles são inseparáveis, unidos pela paixão pelo tênis e pela infância compartilhada, mas desde cedo é perceptível as diferenças existentes entre eles. Art é o típico bom garoto, mimado pelos pais, Patrick também é mimado pelos pais (os dois são de famílias de classe alta), mas se recusa a passar a imagem de que é mimado e carrega em si um espírito de rebeldia. Os dois são uma dupla no tênis, disputando campeonatos juniores e, em sua maioria, vencendo. Art quer ir para a faculdade, Patrick acha os estudos uma perda de tempo: seu único objetivo de vida é jogar tênis, então prefere pegar o caminho mais difícil – mas também mais rápido, se der certo – e se profissionalizar sem passar pela faculdade.
Ao longo de 17 anos, com flashbacks misturados com a linha de tempo atual, vemos os desdobramentos da história de Art e Patrick com uma adição essencial, que se torna o centro de tudo: a tenista Tashi Donaldson (Zendaya). Os amigos conhecem Tashi ainda jovens, num campeonato de tênis, enquanto eles ainda eram apenas garotos promissores, Tashi já era uma estrela, com direito a patrocínio de grandes marcas e festas em sua homenagem e isso não é à toa; mesmo ainda uma adolescente, além de uma tenista excelente e com um grande potencial para se profissionalizar no esporte, ela já tem um magnetismo impressionante e uma personalidade digna de uma estrela, e é aqui que a excelência de Guadagnino e o talento ímpar de Zendaya se encontram para criar a força dessa personagem, que demonstra total controle de tudo e de todos ao seu redor a todo instante (tal como Zendaya). Tashi não tem qualquer característica de estereótipos, ela é uma mulher forte e decidida, esbanja autoconfiança, nunca demonstra fragilidades ou características mais negativas e, assim que os meninos a conhecem, é amor – ou outra coisa – à primeira vista, para os dois.
A relação dos 3 ao longo dos anos passa por todas as fases da transição da adolescência para a vida adulta, incluindo seus desafios e incertezas, mas os três permanecem presentes nas vidas uns dos outros, mesmo quando essa presença não é física. “Rivais” usa o jogo de tênis pra falar de jogos muito mais subjetivos, os jogos mentais, os jogos de sedução. A tensão sexual entre os personagens é palpável, mas existe muito mais nas sutilezas do que na ação de fato, o que só colabora para a atmosfera criado por Guadagnino para o filme. Assim como para os personagens, pouco importa para o espectador o que acontece fora desse triângulo e fora das quadras. O tênis é a externalização do relacionamento complexo entre os três e as partidas são filmadas com ângulos e movimentos inspirados, sem tirar o foco dos jogadores e de suas emoções, ao mesmo tempo em que aumenta a tensão.
A química entre Mike Faist, Josh O’Connor e Zendaya era um ponto necessário para essa trama funcionar, e não decepciona. Os três têm domínio de seus personagens e das situações, sabendo quando demonstrar e quando suprimir os sentimentos. A disputa e a competitividade entre Art e Patrick, tendo como objeto de desejo não só a vitória no tênis, mas principalmente a vitória da atenção de Tish, quando, mais uma vez, tênis, amor e desejo se confundem e se fundem numa história efervescente e impactante.
Por Júlia Rezende