Parece piada pronta, mas o vindouro longa do Marvel Studios “Shang-chi e Lenda dos Dez Anéis”, que traz o primeiro herói asiático para o universo cinematográfico do estúdio, bem como o longa “Os Eternos”, dirigido pela chinesa ganhadora do Oscar Chloé Zhao, podem ser censurados na China.
A China não possuí um mercado aberto para os filmes estrangeiros, que precisam passar por uma avaliação crítica do governo ditatorial comunista se quiserem estrear nos cinemas chineses. Além da censura por conta do conteúdo, existem cotas definidas para limitar o lançamento de filmes estrangeiros que buscam lucrar no país.
Em uma recente comunicação da CCTV6, canal estatal de cinema na China, ambos os filmes ficaram de fora do anúncio da Fase 4 do Marvel Studios. A omissão pode ser encarada como casual ou acidental, todavia este veículo atua sob a supervisão do mesmo departamento responsável pela censura no território chinês, que tem a palavra final sobre aprovação ou recusa de filmes.
A censura do longa de Zhao não seria uma completa surpresa, já que a cineasta, de forma súbita, se tornou uma “persona non grata” em seu país natal. Embora a mídia estatal tenha comemorado as conquistas de Zhao no Globo de Ouro, em fevereiro, pelo longa “Nomadland”, dois meses depois as autoridades chinesas impuseram um apagão generalizado da mídia do nome de Zhao semanas antes da Cerimônia do Oscar. E sem nenhuma razão aparente, o lançamento de “Nomadland” nos cinemas chineses foi censurado. Seria este também o destino de “Os Eternos”?
Por outro lado, com “Shang-Chi”, a história é bem mais complicada. Desde o lançamento do trailer e pôster, a reação chinesa na internet tem sido extremamente negativa, devido aos estereótipos apresentados. Embora não esteja claro se isto é o suficiente para interferir na decisão das autoridades, mesmo as histórias em quadrinhos de “Shang-Chi” são mal vistas pelos chineses.
O vilão “Fu Manchu”, pai de “Shang-Chi”, ao longo dos anos foi muito associado com o estereótipo racista do “Perigo Amarelo” e por essa razão, para o filme, precisou ser remodelado como o “Mandarim”. Todavia, parece que a mudança não foi o suficiente para os jovens chineses que publicaram uma matéria no jornal oficial da juventude comunista, ainda em 2019, alertando sobre a “sombra de Fu Manchu” na produção cinematográfica”. “Basta mudar o nome para não ser mais o Fu Manchu? Inerentemente o personagem mancha a imagem do povo chinês. Espero que o nosso governo não seja comprado por isso, este tipo de filme pode vir ganhar dinheiro em nosso país.”, escreveu um usuário chinês na rede social “Weibo”, uma espécie de “twitter chinês”.
Além deste fato, ainda pairam reclamações acerca da escolha de Simu Liu e Awkwafina para protagonizarem o filme por não atenderem aos padrões tradicionais de beleza chinesa ideal, que deve contemplar o queixo fino, nariz alto e pele clara. Há internautas que dizem que o estúdio escolheu tais atores por “descriminar a aparência do povo chinês”. “Os estrangeiros adoram escalar deliberadamente atores asiáticos com olhos estranhos!” foi um comentário publicado no “Weibo”.
Liu, que nasceu na cidade de Harbin, no norte da China, postou um vídeo em Mandarim no Weibo agradecendo os fãs e declarando: “Para todas as outras pessoas que estão sinceramente esperando que falharemos, não tenho nada a dizer a vocês. Apenas espere e veja.”. Qual será o desfecho desta história?
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“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” está com a estreia marcada para setembro nos cinemas brasileiros.
(Esta matéria foi adaptada de uma notícia publicada na Variety)