“STAR WARS: VISIONS” OSCILA ENTRE MOMENTOS INCRÍVEIS, ABSURDOS E TEDIOSOS

A franquia “Star Wars” está saturada, isto é um fato. Mas isso não significa que boas produções não possam serem lançadas sob a marca, e “The Mandalorian” está aí para provar isso. Todavia, as formas de lidar com esta mecânica de negócio no mercado do entretenimento ainda estão sendo exploradas, com erros e acertos, afinal se trata de um modelo, ainda, inédito. Inédito porque “franquias” fazem parte de um momento muito recente da nossa história, onde até nem tanto tempo assim não existia cinema e no teatro esta lógica de exploração de um mesmo conteúdo nunca fez sentido (e não faz até hoje). Abrindo, então, o leque de possibilidades, a Disney e a Lucasfilm apresentam uma inédita proposta com “Star Wars: Visions”, onde a empresa do camundongo cedeu o plano de fundo de “Star Wars” para que estúdios japoneses criassem novas estórias e apresentassem as suas visões do universo intergaláctico.

Vale ressaltar que os produtores americanos destacaram em diversas oportunidades que “Star Wars: Visions” não faz parte do “cânone” de “Star Wars”, que em outras palavras quer dizer que o que foi apresentado ali, quando agradar, pode vir a ser explorado a fundo no futuro, mas caso não seja apreciado, eles podem fingir que nada daquilo existiu.

Com 9 episódios, com entre 13 e 22 minutos cada, a experiência de acompanhar as produções japonesas se mostra como uma grande montanha-russa sensorial. Não há nenhum padrão entre os episódios, não que devesse ter, mas esta característica acaba tornando uma maratona das produções algo bastante exaustivo de se fazer, mesmo com os tão poucos minutos por episódio.

Se há alguma constante entre as produções é a trilha sonora, que acaba sendo responsável por nos situar no familiar e convidativo universo “Star Wars”. As variações nas artes das animações são tantas que, por mais que “lembre” claramente a franquia, foi um aspecto de grande liberdade por parte dos estúdios japoneses e pode resultar em grande apreço pelo público, como também aversão. Enquanto o primeiro episódio, “O Duelo” se apresenta com um visual inovador para o ocidente, o terceiro, “Os Gêmeos” já apresenta um estilo quase repugnante aos saudosistas da qualidade artística dos traços.

Em relação às tramas, a inconstância de qualidade é claramente percebida. Enquanto algumas são extremamente simples, mas muito bem dirigidas, outras se aproximam demais das histórias que já conhecemos e ficamos com a sensação que estamos assistindo alguma cópia barata das produções originais. “A Noiva Aldeã”, quarto episódio, se destaca pela originalidade e excelente direção, enquanto “Akakiri”, nono episódio, certamente irá te fazer dormir. Aproveito o espaço ainda, caro leitor, para dizer que fiquei tão atordoado com o segundo episódio que até agora não consigo me expressar adequadamente frente ao absurdo que assisti.

O grande trunfo das produções, por outro lado, vai além do traço e cores utilizadas, e se destaca sobre os curtos plots: os valores nipônicos. Honra e distinção clara entre o bem e o mal é algo que o jovem brasileiro hoje não tem capacidade de entender, pelos níveis absurdos de analfabetismo funcional associados com o mecanismo sistêmico de desvirtuamento de valores promovidos pela mídia e sustentado pelas redes sociais no ocidente. Então, caso o seriado venha a despertar essa consciência em seus espectadores, certamente será de grande valia.

Com um formato que promete alimentar a fome de “Star Wars” dos mais fanáticos, mas que ao mesmo tempo permite uma diversão casual, “Star Wars: Visions” agrada em alguns momentos e vale pela ideia de entregar a marca na mão de uma outra cultura.

Todos os episódios chegam amanhã ao Disney+.

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