Em abril de 2012 a cidade de Timbuktu, localizada no norte do Mali, também reconhecida pela Unesco como patrimônio da humanidade, foi invadida pelos rebeldes do Movimento Nacional de Libertação de Azawab. Dentre manuscritos históricos destruídos (maior parte deles conseguiu ser salvo) foi noticiado também o caso de um jovem casal que foi apedrejado até a morte por não ser casado. Todas estas lástimas ocorridas são revoltantes, claro. Mas este episódio não é relatado no filme de Abderrahmane Sissako (seu quarto longa-metragem como diretor) e sim, a história de uma família que mora na cidade.
Sissako apresenta ao espectador cenas que ficam na cabeça como a de um grupo de meninos jogando futebol sem a bola. Eles agem como se tivesse uma bola presente: fazem gols, chutam, driblam os adversários e até mesmo fazem faltas. Na chegada dos atuais líderes, eles simplesmente dissimulam. Isto é só o reflexo do medo que foi imposto pela autoridade dos fundamentalistas islâmicos que se tornaram os “novos donos do pedaço”.
Na trama, o pastor Kidane mata acidentalmente um pescador. Ele não tem direito a defesa, pois a situação o coloca como réu, já que segundo o julgamento pelos religiosos seu crime é grave. Os milicianos já haviam tomado posse da cidade durante oito meses fazendo suas próprias leis e proibindo qualquer coisa que consideram inapropriada para a sua nova “nação”, como música, futebol, cigarros, além de impedirem as mulheres de saírem sem luvas e meias, deixando as pessoas isoladas em suas casas.
Uma mistura de sensibilidade e crueldade com situações que fazem o espectador refletir sobre a realidade que existe naquele país. “Timbuktu” é uma ótima oportunidade de conhecer mais um pouco da cultura de um povo que vive como se fosse primitivo. O modo de vida de seus habitantes transcende o filme, tornando a cada minuto que passa mais interessante.
Vencedor dos prêmios como Prémios Lumière (Melhor Filme e Realizador) e Prix Syndicat Français de la Critique de Cinéma como Melhor Filme, “Timbuktu” é um candidato fortíssimo no Oscar 2015 na disputa de Filme Estrangeiro.
Uma simples e apreciável obra filmada de maneira como se o diretor se limitasse apenas a realizar as filmagens com poucos rolos de filmes. A fotografia excelente de Sofian El Fani (“Azul é a Cor Mais Quente“) consegue pôr em tons calorosos as paisagens que mais parecem um deserto habitado por pessoas. Produção de orçamento modesto que com sua alta intensidade, é mostrada de maneira singela.
Trailer do filme: