Tocante e engraçado, “Doentes de Amor” acerta ao mostrar que apenas o amor supera qualquer dificuldade

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Já parou para pensar como algumas histórias do nosso dia-a-dia são tão incríveis que deveriam virar filmes? Uma viagem inesquecível, um acidente surpreendente, um romance improvável e passageiro… Uma dessas histórias incríveis aconteceu com o aspirante a comediante Kumail Nanjiani, descendente de família paquistanesa bastante tradicional (como a grande maioria), que se apaixonou por uma garota norte-americana, algo proibido para as tradições da sua cultura. Até que uma rara doença coloca em risco o futuro desse inusitado romance.

O filme “Doentes de Amor”, que chega aos nossos cinemas essa semana, conta a história do bonito, mas conturbado relacionamento entre Kumail (interpretado por ele mesmo) e Emily (Zoe Kazan, a namorada perfeita idealizada no filme “Ruby Sparks”). O longa é dirigido por Michael Showalter, roteirista conhecido na TV americana, em sua estreia no cinema. E é escrito pela própria dupla Kumail e Emily, livremente inspirado nas suas experiências de vida, naturalmente, com algumas adaptações para o formato de um filme.

Primeiramente, não sei se é uma visão apenas minha, mas acho curioso que a comédia romântica tenha perdido bastante espaço no cinema atualmente. Portanto, ver um filme do gênero com uma história que ajuste uma abordagem pés no chão, mas ao mesmo tempo tocante e envolvente, que consiga equilibrar drama e humor, e ainda tocar em questões culturais (dando uma sensação fresca de representatividade), é uma sensação muito gratificante.

Para tentar situar o tom e o tipo de abordagem do filme, “Doentes de Amor” funciona como uma espécie de misto entre a série da Netflix “Master of None” – com as questões de um jovem vivendo em outro país, em constante conflito entre seguir as tradições de sua família ou sendo quem ele quer em uma cultura livre e diferente – e a dramédia “Tá Rindo do Que?” – que aborda de maneira até “deprimente” os bastidores dos comediantes de stand-up, pessoas acostumadas a fazer os outros rirem, mas que vivem seus próprios dramas e inseguranças na vida particular.

O filme é eficiente ao levantar a discussão da liberdade de escolha do indivíduo. Todos sabemos como é importante ter o apoio dos familiares nas principais decisões de nossas vidas, e creio que escolher a pessoa com quem iremos passar o resto dos nossos dias é uma das decisões mais importantes para a nossa felicidade. No entanto, para quem não sabe, na cultura paquistanesa casamentos ainda são arranjados. Filhos homens recebem várias visitas de moças escolhidas por seus pais, em jantares que mais parecem entrevistas de emprego. É isso ou ser expulso da família. Imaginem a situação.

 

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Além disso, o longa se aproveita da ótima sinergia do elenco para tirar sarro de situações corriqueiras, como relacionamentos e amizades, com tiradas realmente engraçadas. Se você achar o tipo de humor do filme familiar de alguma forma, não será por acaso. A produção é de Judd Apatow, uma das mentes responsáveis por vários sucessos da comédia neste século, como “O Virgem de 40 Anos”, “Ligeiramente Grávidos” e “Missão Madrinha de Casamento”.

Apesar de seus filmes serem todos “parecidos” estruturalmente (garoto conhece garota; garoto perde garota; garoto recupera garota), ele costuma deixar novos diretores à vontade para ousar um pouco mais, dando um toque pessoal nos seus filmes. Aqui em “Doentes de Amor”, por exemplo, senti que Michael Showalter deixa propositalmente as atuações levemente caricatas, se aproximando muito do estilo sitcom norte-americano, extremamente popular ao redor do mundo. Assim, coadjuvantes como Terry (Ray Romano) e Beth (Holly Hunter) – pais de Emily – têm vários momentos engraçados de destaque.

Falando em Hunter, devido a rara natureza da doença, quando orientada a confiar nos médicos, uma frase de sua personagem Beth chama a atenção, algo como: “Eles não sabem o que estão fazendo. Estão improvisando, como todos nós”. Além de ser uma clara referência ao que os comediantes de stand-up, como Kumail, fazem – já que precisam ter jogo de cintura e se adaptar à situação – isso me fez refletir. Na vida, geralmente também não sabemos o que estamos fazendo. Mas, ao contrário dos médicos, que muitas vezes ficam de mãos atadas, nós podemos dar um jeito, pedir perdão, voltar atrás… Sempre há tempo para fazermos alguma coisa a respeito.

Sendo assim, no fim das contas soa gratificante afirmar que “Doentes de Amor” é uma comédia romântica acima da média para o padrão “contos de fada” de Hollywood. Apesar de por vezes sentir que os personagens eram muito “fabricados” para serem reais, acredito que o filme funciona e consegue tocar o espectador ao tratar com honestidade seus temas, que mesmo parecendo ter um nicho específico (como a questão cultural) são inerentes a todos nós, afinal, imaginem ter de escolher entre a família e a pessoa amada. O resultado é uma dramédia simpática, que surge para nos lembrar que na maioria das vezes, o amor não é nada fácil, mas é recompensador.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!

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