Ele tinha seis anos e estava sentado diante da televisão, mais perto do que seus pais gostariam. Era um episódio de ‘Batman: The Animated Series’, o melhor desenho de todos os tempos, que estava começando. A música de abertura por si só já era um deleite. Começava mais uma viagem a Gotham, uma aventura do inconfundível e infalível cruzado de capa. Batman era o melhor. Naquela época, se alguém entrasse e dissesse que os heróis seriam pilares da indústria do cinema, construindo seus universos com filmes anuais, talvez ele só entendesse a parte em que todo ano um filme diferente chegaria as telas. Seus olhos brilhariam com tal afirmação. Já brilhavam com os filmes de Joel Schumacher.
Quase duas décadas depois, três filmes de super-herói figuram entre as dez maiores bilheterias da história do cinema. E o último lançamento da DC Comics, a casa do homem-morcego, é ‘Esquadrão Suicida’. Um time de vilões obrigados a cumprir uma missão mortal, enquanto se esforçam para conquistar a simpatia do público. O filme tem seu valor, embora seja duramente atacado pela crítica e por parte do público. O longa deixa uma impressão do que poderia ter sido, mas não foi. Acontece o tempo todo. Principalmente quando as apostas são altas.
Christopher Nolan pode ser considerado um herói (para os fãs) por sua trilogia do Cavaleiro das Trevas; Joss Whedon será sempre lembrado pela maestria em conduzir os ‘Vingadores’ e por deter, até então, o posto de filme do gênero mais lucrativo. Os diretores até levam os louros pelo sucesso, mas por culpa dos milhões, bilhões, a última palavra não é deles.
Os filmes de super-herói são vítimas do seu próprio lucro. Suas bilheterias parrudas fizeram com que se tornassem jóias aos olhos dos executivos de Hollywood. Quando quantias quase obscenas de dinheiro estão em jogo, parece que é difícil querer arriscar. Até porque, nessa indústria, o que conta é só o quanto de sucesso você fez no último ano. Há exceções a regra: um mercenário pirado quebrando a quarta parede. No geral, os que assinam os cheques preferem não se arriscar e suas demandas por alterações, com frequência, pioram os filmes.
Enquanto ‘Esquadrão Suicida’ era apresentado para o público, as atenções voltavam-se para o novo Coringa de Jared Leto. O marketing e o próprio ator gostavam de deixar claro o mergulho dentro do personagem. Então o filme veio e acabamos por pouco conhecer o Coringa. Foi barrado nas alterações, sumiu na sala de corte.
Nem heróis nem vilões são páreos para um exército de acionistas ávidos por dividendos mais gordos. Felizmente, existe um universo paralelo ao dos quadrinhos onde esses personagens caem nas mãos de pessoas que preferem contar estórias e não dinheiro: o universo dos fan films.
Não há a preocupação de adequar a obra a uma faixa etária mais rentável, deixar ganchos para sequências, escrever uma cena a mais para uma estrelinha de Hollywood aparecer mais tempo na tela. Há só a vontade de contar uma estória e prestar homenagem a personagens que integraram épocas mais simples de nossas próprias vidas. Por consequência, é na simplicidade desses filmes que moram seus maiores méritos.
Em ‘The Laughing Man’ vemos uma exibição de loucura com propósito e com significado – ao menos pelo seu perpetrador, o Coringa. Confira, em inglês:
O fan film tem que conviver com um porém: trabalhar com “produtos” de terceiros. Em ‘The Laughing Man’, os realizadores conduzem a estória com maestria, sabendo que eles não precisam atestar quem são os personagens, só sugerir. Dicas visuais constroem o Coringa sem jamais ter que dizer um nome. Palmas para os Irmãos Hallivis, responsáveis pela produção e direção do curta-metragem.
O fan film liberta.
Um Curta Por Semana é a coluna dedicada a divulgação de narrativas curtas, tão essenciais a construção da sétima arte.
Bônus 1: entrevista com os realizadores falando sobre suas inspirações e o processo de produção clicando aqui.
Bônus 2: ‘Batman: Dead End’. Uma perseguição ao Coringa leva Batman a uma batalha que ele não parece estar preparado para enfrentar, mas encara de frente.