A cena relatada enquadra-se como algo nonsense, qualificando-se para o riso que o redator não conteve ao final do vídeo – que não é cinematográfico o suficiente para ilustrar essa coluna. Embora a risada tenha se manifestado de forma humanamente sincera, o acontecido não pode jamais ser considerado como comédia. A improbabilidade de tal evento o aproxima da farsa.
‘Friends’ e ‘Monty Phyton’ podem e são considerados sucessos de séries cômicas e, nesse caso, ilustram muito bem uma separação entre a comédia e a farsa. ‘Friends’ é comédia, ‘Monty Phyton’ é farsa. Farsa porque se constrói de forma episódica (as esquetes) e não tem a pretensão de manter um arco dramático suspenso. O ridículo é o fim, mas também o meio. Em ‘Friends’, os personagens saem do ponto A e chegam ao ponto B dentro de uma estrutura dramática aristotélica.
Por que rimos dos infortúnios alheios? Por que a dor física a qual o Coiote é submetido ao fim de suas investidas sobre o Papa Léguas tem como resultado o riso? A resposta está no afastamento entre espectador e personagem, um esvaziamento emocional que apenas nos faz rir.
“Como regra geral rimos do que consideramos defeito, do que consideramos menor que nós. Às vezes, rimos de nós mesmos porque percebemos que somos menores do que imaginávamos”, fala o dramaturgo e roteirista Luis Alberto de Abreu através do personagem do professor em sua peça ‘Masteclé: tratado geral da comédia’.
Rimos do que foge aos nossos padrões que ingenuamente são chamados de normalidade. Rimos do nonsense que escancara extensões renegadas de nós mesmos.
Em ‘Bodily Dysfunctions’, de Aisha Madu, os pequenos episódios de farsa exageram ações cotidianas que aqui ilustradas por figuras cartunescas, mas que poderiam ser protagonizadas por qualquer um nós – e em nossos mundos particulares, de fato são ou já foram.
Um Curta Por Semana é a coluna dedicada a divulgação de narrativas curtas, tão essenciais a construção da sétima arte.