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Em um mundo invadido por seres hostis, uma família é forçada a viver em silêncio se escondendo dessas criaturas assassinas que são atraídas por qualquer tipo de barulho. Tudo muda quando uma tragédia abala seu convívio e a chegada de um futuro integrante poderá colocar em risco a segurança de todos. “Um Lugar Silencioso” estreou esse ano no SXSW Film Festival, arrancando aplausos da crítica local. Assim como eu, muitos se surpreenderam quando souberam que John Krasinski – mais conhecido pelo seu papel de Jim Halpert na sitcom “The Office” – estaria no comando do projeto. E que grata surpresa nós tivemos.
No entanto, esta não é a estreia de Krasinski na direção. Em 2016, ele dirigiu a comédia romântica “Família Hollar”, com pouquíssimo alarde e que (quase) ninguém acabou assistindo. “Um Lugar Silencioso” foi escrito pela dupla de roteiristas Bryan Woods e Scott Beck, adaptado juntamente com o diretor para uma versão visualmente assustadora, com uma atmosfera angustiante e tensa. A título de curiosidade, vale mencionar que a trama se assemelha muito ao best-seller de Tim Lebbon “The SIlence” (2015), onde uma protagonista surda (assim como a filha do casal no filme) precisa sobreviver com sua família de criaturas de caçam através do som.
“The Silence” também ganhará uma versão cinematográfica e será dirigida por John R. Leonetti, responsável por algumas “pérolas” como “Mortal Kombat: A Aniquilação”, “Efeito Borboleta 2” e “Annabelle”. É esperar para ver… Mas enfim, vamos falar do filme. Vocês sabem que cada um tem seus critérios que julga importante na hora de apreciar e analisar uma obra. Quem me acompanha há um tempo sabe que, de maneira bem pessoal, gosto de tentar explorar duas vertentes presentes em cada filme: a “ideia” (o significado, os temas que o filme toca) e a “realização” (a maneira como a direção explora e executa suas ferramentas). Vamos começar pelas ideias.
O lugar silencioso em que vivemos (e também na nossa mente)
Provavelmente você vai ler muito por aí que o filme é angustiante e assustador, com bons sustos e muita tensão, mas eu queria fugir um pouco do óbvio. Assim como o Japão usava filmes de invasão de monstros gigantes – como “Godzilla” – como uma metáfora para o medo da ameaça nuclear que destruía cidades inteiras nos anos 50 (devido ao trauma das bombas de Hiroshima e Nagazaki), para mim, “Um Lugar Silencioso” também é um filme de “monstro”, mas que conta história de uma família que com o tempo perdeu a habilidade de se comunicar – e se escondeu no silêncio da própria mente.
Após uma perda pessoal e a invasão das criaturas, sentimentos como culpa e processos de dor e luto tiveram que ser abafados, alimentando internamente os personagens com ressentimentos e sensação de impotência, especialmente entre pai e filha (Millicent Simmonds), uma pré-adolescente incompreendida e deficiente auditiva. Sem perceber, a família se distanciava cada vez mais – talvez por isso, um dos momentos mais singelos entre o casal Lee (o próprio Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt) seja uma dança ao som de “come a little bit closer” (“chegue um pouco mais perto”, de Harvest Moon, música de Neil Young), uma cena que destoa totalmente da constante sensação de medo que os personagens estão habituados.
O filme também parece preocupado em mostrar a importância de proteger e cuidar dos filhos mesmo vivendo em um universo completamente destruído e sem esperança. “Quem somos nós se não pudermos protege-los”? – pergunta Evelyn a Lee, referindo-se aos filhos. Semelhante, porém menos clichê que o drama familiar vivido em “Guerra dos Mundos” (2005), isso o faz questionar se consegue ser um bom provedor, se mesmo entre tantas dificuldades é capaz de ensinar que não importa o que aconteça, a união da família é sempre o mais importante. E graças aos obstáculos do roteiro bastante perspicaz, aprenderão isso das maneiras mais desafiadoras possíveis. Krasinski acerta ao se dedicar a uma proposta bem mais “intimista” e não no apocalipse global como um todo.
É importante lembrar que filmes de gênero que divertem/entretém são muito bons, mas quando conseguem atingir essa sensação e ainda passar uma mensagem mais profunda, são muito melhores – caso de “Corra!” no ano passado. Em “Um Lugar Silencioso”, Krasinski consegue aliar propostas diferentes do gênero com certa habilidade, a combinação de um termo que muita gente detesta, o “pós-horror” (com poucas explicações e muito investimento na atmosfera, como “Ao Cair da Noite”), com cinema comercial extremamente envolvente (tipo “Cloverfield” ou “O Homem nas Trevas”). E isso não é uma tarefa fácil, especialmente para um diretor iniciante que abraçou um projeto tão pessoal quanto este – explicarei um pouco mais à frente.
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Na imagem vemos uma representação da distância do pai (vestindo preto pelo luto ainda não superado)
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Se eles te ouvirem, eles te caçam
Falando agora sobre a maneira extremamente eficiente como Krasinski faz para atingir sua proposta de imersão do espectador naquele universo de conflito, primeiramente ele entende que o medo em um filme de terror é muito mais impactante quando vem do envolvimento com os personagens do que com sustos forçados e aleatórios – como a maioria dos filmes do gênero fizeram nos últimos anos, embora felizmente este panorama pareça estar mudando recentemente.
Não que os sustos não existam, mas funcionam porque nos importamos com a segurança daquela família. Como já nos havia ensinado Aristóteles na sua famosa “Poética”, uma das melhores formas de construir o medo trágico no cinema é fazer o espectador se identificar com o sofredor e Krasinski acerta em cheio ao criar uma atmosfera de total tensão e envolvimento. A dedicação com cada ruído, desde objetos até pegadas no chão, aqui são usados como ferramentas que vão condicionando o espectador a se acostumar cada vez mais com a ausência de som, devido à grande ameaça que está sempre à espreita.
A ausência de diálogos, que obriga os atores a se comunicarem por meio de sinais e olhares, reforça ainda mais essa condição angustiante, revelando um grande trabalho por parte do elenco. As descobertas acontecem de forma orgânica dentro da trama, e considerando uma ou outra ressalva (que entrariam na questão da suspensão da descrença), conflito após conflito apresentam um roteiro muito bem estruturado, desafiando os personagens. Apenas para não deixar passar em branco, a trilha sonora é importantíssima para climatizar a atmosfera e o uso das cores é formidável – como o vermelho para realçar a situação de perigo no subconsciente do espectador.
E o que é o mencionado medo trágico? Aristóteles dizia que aquilo que nos dá pena de ver acontecer com os outros provoca em nós o medo mais profundo: o medo trágico, ou seja, aquilo que não suportaríamos que acontecesse conosco. Por isso a abordagem de Krasinski em investir mais na família e menos nos monstros seja tão eficiente, afinal. Resumindo, se você é um daqueles que gostam de experienciar tensão e medo em uma sala de cinema, “Um Lugar Silencioso” é o filme perfeito, no qual você pode vivenciar essa sensação com o máximo de intensidade te levando ao limite.
Considerações finais
Uma das poucas ressalvas que tenho com o filme é que sinto que ele seja “esquecível” rápido demais. É uma experiência para o momento, mas que com o tempo ao invés de crescer, não marca tanto. Acredito que seja um filme que não enriqueça com as revisitas, pois vai contar com o fator da previsibilidade, que deve tirar o peso da sensação de o ter visto pela primeira vez. Mas só posso afirmar depois de ter revisto. Sem dar spoilers, algumas escolhas de roteiro também são questionáveis e no papel parecem ter funcionado melhor (talvez o excesso de monstro tenha sido uma imposição dos produtores, mas acabam tirando um pouco do impacto do medo por aparecerem demais).
Por fim, uma última consideração. Tive oportunidade de ler o roteiro original depois de ter escrito essa análise e fiquei ainda mais impressionado. “Um Lugar Silencioso” é um filme muito pessoal que tocou Krasinski em um momento peculiar da sua vida: três semanas antes de receber o roteiro para ler, sua esposa (a própria atriz Emily Blunt, que contracena com ele) havia acabado de ganhar sua segunda filha. Em entrevista, ele declarou que uma experiência afetou a outra. O fez questionar ser um bom pai, manter as três mulheres que vivem com ele seguras, coisas desse tipo. E após ver o filme e ler o roteiro, consigo perceber como sua influência contribuiu para a história. Segundo uma frase do mestre Alfred Hitchcock: “o único modo que encontrei para me livrar dos meus medos foi fazer filmes sobre eles”.
Isso me fez lembrar de uma frase na parede do galpão onde Lee se protege com a família: “Shall I compare thee to a summer’s day?”. Em uma tradução livre: “Devo te comparar a um dia de verão”? A frase pertence ao Soneto 18 de Shakespeare, um dos seus mais famosos. Foi uma homenagem do escritor à sua amada, uma explicação de que o verão passa e leva com ele sua beleza, mas as palavras deste poema imortalizariam a beleza dela para sempre. Assim como o amor de Lee pela sua família (e possivelmente o de Krasinski por Blunt e suas filhas), algo que nada jamais poderia separar. “Um Lugar Silencioso” é um filme assustador, sem dúvidas, mas nem por isso deixa de ser tocante e emotivo, mostrando que no final das contas o que importa é proteger aqueles que amamos e torcer por um futuro melhor.
Como hei de comparar-te a um dia de verão?
És muito mais amável e mais amena:
Os ventos sopram os doces botões de maio,
E o verão finda antes que possamos começá-lo:
Por vezes, o sol lança seus cálidos raios,
Ou esconde o rosto dourado sob a névoa;
E tudo que é belo um dia acaba,
Seja pelo acaso ou por sua natureza;
Mas teu eterno verão jamais se extingue,
Nem perde o frescor que só tu possuis;
Nem a Morte virá arrastar-te sob a sombra,
Quando os versos te elevarem à eternidade:
Enquanto a humanidade puder respirar e ver,
Viverá meu canto, e ele te fará viver.
E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!
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