Quando o primeiro filme da saga Uma Noite de Crime foi lançado, em 2013, chamou muita atenção por sua ideia inusitada e cheia de potencial: na sociedade violenta e criminalmente fracassada dos EUA, é instituído o Expurgo, um feriado nacional de 12 horas em que todo e qualquer crime é liberado sem que haja qualquer consequência para os criminosos.
O primeiro filme foi basicamente um filme de invasão em que o povo americano só queria passar pelo feriado na tranquilidade de suas casas superprotegidas, enquanto alguns grupos mais violentos levantavam o caos pelas cidades, e foi bom dentro de suas limitações, apesar de não exceder as expectativas.
Depois do filme original, os quatro filmes que se seguiram, incluindo “A Fronteira, seguem a ideia do Expurgo, mas expandindo seu universo e adicionando comentários e tentativas de críticas sociais de acordo com o momento de seus lançamentos. O último filme antes do atual foi “O Ano da Eleição”, sendo lançado pouco antes das eleições que elegeram Donald Trump como presidente dos EUA, mas o filme teve um final um pouco mais feliz do que a vida real e o partido vencedor decidiu por extinguir a noite do Expurgo e tudo ficou bem.
Como um filme depende de conflito, no entanto, oito anos e duas eleições depois, o grupo radical NFFA está de volta ao poder e o Expurgo foi reinstaurado nos EUA. É aí que começa Uma Noite de Crime: A Fronteira, o quinto e possivelmente último (ou pelo menos deveria ser) da franquia. Juan (Tenoch Huerta) e Adela (Ana de la Reguera) são dois imigrantes do México que fugiram para o Texas à procura de abrigo contra a violência dos cartéis, mas ir para os EUA para fugir da violência parece um ato insano considerando que a violência de seus cidadãos não está nem um pouco controlada. Ainda assim, eles estão vivendo sua vida em paz, trabalhando para uma família branca num rancho no Texas, até que chega o dia de seu primeiro feriado do crime. Enquanto o casal de mexicanos procura asilo num tipo de bunker dedicado a proteger imigrantes do ódio crescente dos supremacistas brancos, seus empregadores se reclusam em seu rancho luxuoso. O dono do lugar é Caleb Tucker um homem branco e rico, mas que tem uma certa ciência de seus privilégios e trata bem seus funcionários independente de suas origens, já o seu filho é outra história, Dylan Tucker (Josh Lucas) se mostra um racista desde o começo, reclamando da falta do status legalizado dos imigrantes e se irritando quando falam espanhol e não inglês, mas ele não é tão ruim a ponto de sair nas ruas exterminando outras raças no feriado do Expurgo (não que isso queira dizer muita coisa).
A noite do Expurgo passa sem grandes eventos além dos crimes habituais, mas a grande surpresa é quando um grupo de rebeldes não aceitam o fim e defendem que o Expurgo deve durar “para sempre” com o objetivo de “purificar” a América. Um caos generalizado e de proporções enormes se instaura e vira o jogo: agora os americanos amedrontados querem cruzar a fronteira e fugir para o México. Essa parte é realmente interessante, mas não temos muitos pontos positivos depois disso.
Juan e Adela se juntam a Dylan, à sua mulher grávida e algumas outras pessoas para tentarem sair dos EUA. Dylan é racista, isso já estava estabelecido, mas é criada uma relativização simplesmente porque ele não quer que imigrantes morram, segundo ele “cada raça deveria ficar na sua”, sem se misturar, mas como eles estão “no mesmo barco” são obrigados a trabalhar juntos e no final das contas ele acaba até falando uma palavra em espanhol, como se isso fosse o suficiente para o redimir.
Se você assiste aos filmes da franquia somente pela violência, é possível que você se divirta com A Fronteira, mas só essa violência não é suficiente para transformá-lo num bom filme de terror ou de qualquer outro gênero que ele tenta ser (e não são poucos).
As atuações são boas, certamente melhores do que a trama, mas o roteiro de James DeMonaco não ajuda, frases de efeito e momentos clichês impedem que o filme seja levado mais a sério, apesar de passar a impressão de que se aprofundar nos assuntos abordados ou nas críticas feitas nunca tenha sido uma real intenção.