“Unicórnio” não está a altura da popularidade da criatura mítica

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Exibido na Mostra Generation no Festival de Berlin este ano, “Unicórnio”, do diretor Eduardo Nunes tinha tudo pra ser um filme para ficar na memória: uma ótima inspiração – em duas obras literárias de ninguém menos que Hilda Hilst (“Contos Matamoros” e “Unicórnio”), uma fotografia de encher os olhos, locações esplendorosas na Região Serrana do Rio de Janeiro, uma direção de arte caprichosa. Porém todos estes atributos foram prejudicados por uma narrativa desmotivadora, fria e insensível.

“Unicórnio” é narrado lentamente, explorando belíssimas paisagens auxiliadas por uma fotografia de fazer gosto (assinada por Mauro Pinheiro Jr., que já havia trabalhado com Eduardo Nunes em “Sudoeste”), com pouco diálogos e uma relação dos personagens pouco explorada. É bonito de se ver, porém seu ritmo arrastado capta poucas emoções e quando o espectador acha que vai ver alguma cena que irá ao menos surpreender, o filme volta a “mesmice” e começa tudo de novo: uma alegoria de cenas vagarosas e imprecisas.

Em uma casa campestre e humilde, Maria (a novata Barbara Luz) espera junto com sua mãe (Patrícia Pillar) o regresso do pai. A fatigante rotina das duas é alterada com a chegada de um viajante que muda completamente a relação que há entre elas.

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As solitárias protagonistas vivenciam a mesma dor da ausência, porém elas aparentam estar longe uma da outra, mostrando apenas carinho, cumplicidade e aproximação logo após vagarosos e longos minutos de projeção. Maria está na fase de descobertas e amadurecimento e carrega consigo um olhar ora distante, ora frívolo, enquanto sua mãe aparenta fingir não sentir falta de seu marido. O interesse delas pelo mesmo homem aflora a sexualidade de Maria, dando adeus  a ingenuidade.

O mitológico e belo animal branco em forma de cavalo simboliza a pureza que é representada literalmente por um unicórnio (onde aparece logo no início em um plano sequência). O silêncio que está sempre presente, as lindas paisagens que falam por si só e a delicadeza contam uma trajetória de seus personagens, traduzindo também o espírito literário e é mesmo uma pena que tenha sido tão pouco rendoso nas telas. Apesar da competência de Patrícia Pillar, o resultado desinteressante, lamentavelmente cai numa vala trivial de obras esquecíveis.

Logo de cara, “Unicórnio” lembra “O Filme da Minha Vida”, de Selton Mello ou congêneres. Porém, o preguiçoso roteiro além de desperdiçar bastante de duas obras Hilda, não tem muito a oferecer, nem se quer uma reviravolta ou uma mudança radical. Talvez, se algumas cenas fossem descartadas, e não se esforçasse tanto para ser ameno, afável ou açucarado demais,  o longa não deixaria tanto a desejar, embora os momentos mais tensos (que requer maior atenção) fazem o público esquecer dos seus detalhes apoiados apenas no charme de sua beleza num filme que parece interminável.

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