Há filmes que são o epítome de conceitos de arte, da teoria e do abstrato, filmes complexos com questões profundas e reflexivas, que mexem com a nossa mente e ficam com a gente por dias e até meses depois de assistidos. Vez ou outra, no entanto, aparecem filmes cujo único objetivo é divertir e entreter e quando esse objetivo é alcançado, tornam-se uma ótima pedida. “O Urso do Pó Branco” poderia, mas não cai no erro de ser (ou tentar ser) um filme sério, ele começa nos passando informações sobre o comportamento de ursos, mas já informa, também, que sua fonte é o Wikipedia, indicando com precisão o que esperar da produção que acaba misturando comédia com “terror”.
O filme tem uma premissa no mínimo curiosa: o que poderia acontecer se um urso fizesse uso de cocaína. Pode parecer uma grande viagem e te fazer se perguntar o que se passa na cabeça dessas pessoas de Hollywood que não tem mais o que inventar e chegam nesse tipo de ideia para um filme. Acontece que até aí a história é, realmente, baseada em eventos reais. Como acontece no longa, nos anos 80 um traficante chamado Andrew Thornton (no filme interpretado por Matthew Rhys) pulou de um avião que transportava grande quantidade de cocaína, ele pulou de paraquedas, mas estava carregando a droga também no corpo e acabou pulando com mais droga do que deveria, o resultado foi que o paraquedas não aguentou, Andrew acabou morrendo e as drogas que ele carregava no avião se espalharam. Andrew, no entanto, não foi a única vítima fatal, já que logo depois foi encontrado numa floresta na Georgia o corpo de um urso negro que morreu de overdose de cocaína depois de encontrar parte da droga perdida pelo traficante.
Dirigido por Elizabeth Banks, o filme usa como inspiração apenas a primeira (e obviamente mais interessante) parte da história e ignora a morte do urso, deixando a imaginação rolar solta para criar o que poderia ter sido uma carnificina conduzida por um urso drogado de cocaína solto dentro de uma reserva municipal aberta ao público. Acrescente personagens caricatamente engraçados, crianças fofas, um roteiro sem pretensão de ser o que não é e muita violência e gore em cenas de ação que envolvem desde tiros e atropelamentos até, é claro, ataques de um urso extremamente raivoso.
O fator mais inteligente dessa soma é ter o urso como um protagonista, afinal a história é sobre o urso do pó branco, mas cerca-lo de personagens e subtramas (que variam entre luto, amizade e relações familiares) interessantes o suficiente para manter a história girando com eficiência do começo ao fim. É claro que nem todas as piadas funcionam e não é como se estivéssemos falando de um filme genial ou atemporal, mas quando você mantém a mente aberta e se entrega para aproveitar a narrativa oferecida, sua diversão no cinema é garantida. O elenco tem um grande peso nesse resultado também, desde o saudoso Ray Liotta como um traficante procurado pela polícia, até Jesse Tyler Ferguson como um excêntrico ambientalista passando por muitos nomes bons entre eles, um destaque é o ator mirim Christian Convery (o Gus de Sweet Tooth) que faz Henry, uma criança esperta e sarcástica que não deixa passar uma oportunidade de fazer rir.