Em “Vermelho Russo”, Marta (Martha Nowill) e Manu (Maria Manoella), duas amigas, viajam para a Rússia para estudar o método Stanislavski de atuação. No entanto, algumas dificuldades como saudades de casa, um triângulo amoroso e algumas diferenças entre elas surgem como barreiras que vão precisar ultrapassar ao longo da estadia em Moscou.
Escrito e dirigido por Charly Braun (“Além da Estrada”), o filme foi realmente rodado na Rússia e venceu o prêmio de Melhor Roteiro no Festival do Rio 2016. O longa é praticamente um documentário e foi inspirado nas experiências da própria atriz e escritora Martha Nowill. “Vermelho Russo” é um filme bastante indicado para jovens atores e atrizes, ou pessoas que se interessam em conhecer métodos de atuação.
O filme mostra de maneira bem competente que a essência da atuação é derrubar seus próprios limites interiores, sair da sua zona de conforto. A atmosfera é contagiante e sabe expressar a excitação das amigas correndo atrás de seus sonhos, por meio de uma trilha sonora alegre e mostrando o lado bonito, educado e até acolhedor (ao seu modo) do povo russo.
Outro fator interessante é a personalidade distinta dos estudantes que frequentam o grupo de estudo. Uma delas quer ser atriz para ser amada pelas pessoas, e aceita papéis coadjuvantes por ser insegura com sua aparência. Uma outra é uma mulher muito bonita, que ganhou vários papéis por conta de sua aparência e agora quer quebrar essa “imagem” superficial, aceitando personagens mais desafiadores e profundos. E há outros exemplos também. Desta forma, os arquétipos representados são uma forma muito eficiente de gerar empatia com a plateia, e funcionam muito bem.
“Vermelho Russo” também acerta na concisão. Sua duração de 1h30m é mais que suficiente para contar a trajetória das amigas sem tornar a história maçante ou também os eventos parecerem “apressados” demais. A estrutura funciona porque a direção consegue criar um fluxo de tempo sempre plausível. Por mais que não aconteçam grandes eventos, há uma sensação de verossimilhança muito sincera, fruto da direção competente e das ótimas atuações do elenco.
O filme também conta com uma boa dose de conflito, fundamental para tornar qualquer história interessante. Ao contrário do esperado, o foco não está nas diferenças culturais entre os países, como a maioria dos filmes fazem. Em “Vermelho Russo”, o conflito interno das protagonistas é muito mais explorado, como problemas pessoais e profissionais. A viagem também serve para esclarecer e fortalecer a relação entre as duas, por meio de temas como rivalidade, ciúmes e etc.
Mais um destaque vai para as cenas com o professor russo. Suas cenas são muito bem decupadas, dando um ar de naturalidade e passando credibilidade nas dicas de atuação que ele dá aos alunos. Em outras palavras, o filme consegue traduzir o sentimento do que é viver outras vidas nos palcos e nas telas. Deve-se começar conhecendo a si mesmo, e depois de se compreender, olhar para o mundo.
Concluindo, “Vermelho Russo” é uma ótima opção para quem procura um bom filme nacional sobre método de atuação. Por mais que a produção explore pouco a rica e peculiar cultura russa, muito impactante em vários aspectos para o cinema nos seus primórdios, a história de Marta e Manu cativa pela ótima entrega das atrizes, além do tom divertido e envolvente da trama. Um filme simples, porém, muito bem realizado – e talvez seja justamente aí que resida seu charme.
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