Quantas histórias do universo de Jogos Mortais se é possível contar antes de começar a repetir? Depois de 8 filmes da franquia, chega aos cinemas Espiral – O Legado de Jogos Mortais, uma espécie de reboot do primeiro filme da saga, mas com cara de cópia não tão bem-feita.
O rumor de bastidores é que esse filme foi resultado de uma vontade do próprio Chris Rock, protagonista do filme, que há alguns anos teve a ideia de fazer um reboot de Jogos Mortais. Ele não só concluiu esse projeto como se tornou produtor executivo do filme e ainda conseguiu trazer Darren Lynn Bousman, um dos diretores do longa original, e o ator Samuel L. Jackson.
Ter o comediante Chris Rock como protagonista e Samuel L. Jackson como seu pai cria um clima bem diferente para o longa em relação aos outros da franquia. O talento nato de Rock para a comédia é, quase sempre, bem aproveitado e sua dinâmica com Samuel L. Jackson é perfeita, mas talvez se encaixasse melhor em um outro tipo de filme.
Espiral começa com um jogo, quando um policial vai atrás de um bandido túnel adentro. Lá, ele é capturado e conhece o “novo Jigsaw” e grande vilão dessa história, um homem com uma máscara de porco bizarra. Ele descobre que tem que decidir se prefere morrer atropelado por um trem ou perder a sua língua numa super armadilha no melhor estilo Jogos Mortais.
Quem fica responsável por solucionar esse crime é o personagem de Chris Rock, o detetive Zeke Banks, que não é um homem de muitos amigos e não é muito bem-quisto por seus colegas por conta de problemas do passado, ele é ajudado então pelo simpático e esforçado novato William Schenk (Max Minghella). Logo eles percebem que estão lidando com um assassino que tenta imitar os jogos do assassino original, John Kramer.
Zeke é filho do policial aposentado, mas até hoje muito respeitado, Marcus Bank e um ponto interessante – e um tanto curioso – do filme é a crítica bem clara e direta ao departamento policial norte-americano e seu racismo latente. É uma surpresa que um filme desse gênero faça a escolha de tratar de um assunto tão político e também tão atual. Jogos Mortais sempre foi muito mais sobre cenas angustiantes do que um contexto histórico, mas essa novidade não deixa de ser interessante.
A estrutura de Espiral é quase idêntica à de Jogos Mortais, mas a ênfase no drama policial é muito maior aqui. Os jogos, que sejamos sinceros, são o principal motivo do sucesso da franquia, parecem escassos, apesar de acertarem em cheio quando, enfim, aparecem. A caçada de Zeke e William ao novo assassino ocupa a maior parte da trama e acaba se tornando um tanto quanto cansativa, o filme tem aproximadamente 1 hora e meia de duração, mas no final das contas parece muito mais que isso.
Ainda seguindo o legado da saga, Espiral também conta um final cheio de reviravoltas, do jeito que tem que ser, mas o grande plot twist do filme passa a sensação de ter sido forçado e todas as explicações são desnecessariamente detalhadas, fazendo com que o choque inicial seja rapidamente dissipado e aquele sentimento de agonia só volte nos últimos minutos de cena.
Considerando a quantidade de filmes já feito, fica claro que esse filme não era necessário, ele pouco acrescente à continuidade da história ao mesmo tempo em que não traz elementos tão inovadores (a questão dos policiais corruptos é um toque legal, mas não sustentaria uma nova leva de filmes) e é uma incógnita a razão de Chris Rock ter tamanha paixão por esse projeto que nem de longe é o melhor de sua carreira, ele ainda vai muito bem nas partes em que se apoia no humor, mas drama e suspense continuam não sendo seu forte.
Como reboot e para os fãs hardcore da franquia, Espiral cumpre o seu papel, já para quem está procurando um pouco mais substância – ou terror, é melhor reassistir ao Jogos Mortais original, mas independente de qualquer opinião, não será esse o final da saga, uma vez que o décimo filme já está confirmado.