Depois de 30 filmes no Universo Cinematográfico Marvel, resta a certeza de que a Marvel encontrou seu algoritmo próprio para produções de sucesso (de bilheteria, pelo menos) e pretende seguir com ele também em sua 5ª fase que se inicia agora com Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, o terceiro filme do segundo homem-inseto mais famoso da Marvel. Estrelado por Paul Rudd e seu carisma natural puxado para o humor, os dois primeiros filmes dessa trilogia são os filmes que mais se distanciam do que viria a ser a fórmula Marvel padrão, tendo a comédia como essência, os problemas enfrentados por seus personagens estavam distantes dos problemas de fim-do-mundo presente nas demais produções, mas o Homem-Formiga e a Vespa não estão mais para brincadeira e com uma visita ao Reino Quântico e a introdução do que pode vir a ser um dos melhores vilões da Marvel até agora.
Conforme o UCM se expande, vai ficando cada vez mais complicado ficar a par de tudo que está acontecendo, um novo filme nunca é só mais um filme e sim a extensão de um universo que compreende uma história muito maior, com mais personagens, mais detalhes a serem lembrados, mais conexões e referências que exigem que os espectadores tenham assistido não só aos de uma franquia específica, mas pelo menos uma boa parte das demais franquias também. Esse universo compartilhado da Marvel tem sido seu grande trunfo pelas últimas décadas, mas até quando isso pode continuar? É uma grande responsabilidade para as novas produções e Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania sente esse peso também e coloca ainda mais em cheque a validade dessa fórmula Marvel.
Depois dos últimos acontecimentos do UCM, Scott Lang está levando uma vida tranquila, ele pode não ser o mais famoso dos Vingadores, mas ele está mais do que feliz em ser pelo menos parte da equipe e ainda consegue um pouco de fama e alguns dos benefícios que vêm com ela. Ele acabou de lançar um livro sobre sua vida e experiência como super-herói e a relação com sua família, em especial sua filha Cassie (Kathryn Newton) está cada vez melhor. Sua família, entretanto, está se dando tão bem que Cassie e o avô Hank (Michael Douglas) estão pesquisando e estudando juntos a física que envolve o Reino Quântico, tanto que chegam a construir um dispositivo que envia sinais para esse Reino, o que seria impressionante, se não fosse um baita problema. E assim que Janet (Michelle Pfeiffer), que passou boas décadas perdida nesse “submundo”, termina de explicar as terríveis consequências que entrar em contato com esse universo teria, eles são todos “sugados” por uma espécie de portal e os piores medos de Janet se tornam realidade.
O grupo acaba sendo divido quando eles chegam no Reino Quântico, o que traz um destaque interessante para personagens como a Janet (Michelle Pfeiffer sabe roubar a cena quando lhe é dada a oportunidade), mas acabou por apagar um pouco Hope (Evangeline Lilly), que deveria ter maior relevância já que seu próprio pseudônimo está no título. A ambição de transformar essa franquia em algo maior do que jamais foi começa com a construção do Reino Quântico, carregado no CGI, ele não é nada como o que já foi mostrado na Marvel antes, com um quê de Star Wars e muita fantasia. É um cenário bem rico que gerou algumas cenas interessantes como em uma que Scott conhece várias outras versões dele próprio, aproveitando que apesar do Reino já ter sido mencionado em algumas outras produções, ele nunca tinha sido explorado dessa forma.
É também nesse Reino que conhecemos de verdade Kang O Conquistador (Jonathan Majors), o primeiro grande vilão desde Thanos. Ele é um vilão poderoso e multifacetado (literalmente, já que existem diversas versões dele), ele tem grandes e destruidores planos, mas ainda não tão explícitos. O que fica evidente, no entanto, é que ele é e será um obstáculo não só para Scott, mas muito provavelmente para todo os Vingadores. Ele é sério, focado, impiedoso e extremamente poderoso, tudo isso interpretado com louvor por Jonathan Majors, que certamente é um dos – senão o – pontos mais altos do filme, garantindo que a nova profundidade alcançada por Homem-Formiga possa ter credibilidade.
Outro ponto alto é a relação entre Scott e sua filha e os – bem mais escassos, mais ainda presentes – momentos de comédia. O grande problema é que mesmo o carisma de Paul Rudd, a emoção de relação pai e filha e o talento do elenco (de novo, com ênfase em Majors) não são suficientes para transformar Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania em algo maior do que “mais um capítulo” da Marvel. A fórmula Marvel está mais presente do que nunca e a sensação que fica é a de que já sabemos exatamente o que vem por aí, desde as tramas até as cenas pós-créditos (o filme tem 2, como é novo costume). Inovar dentro dessa caixinha que a Marvel criou para si mesma se prova cada vez mais complicado e só é possível entreter seguindo os mesmos passos até certo ponto. Resta saber o quão perto este ponto está, mas ao que tudo indica, ele pode estar mais perto do que esperávamos.