Inspirador, ‘’Um Lindo Dia na Vizinhança’’ traz mensagem sobre aceitação e benevolência

‘’It’s a beautiful day in this neighborhood

A beautiful day for a neighbor

Would you be mine?’’

Quem mais poderia interpretar um dos homens mais humildes e bondosos que já conheceu?

É cantando a icônica canção de abertura que Tom Hanks é apresentado ao público como o cativante Mr. Rogers e Fred Rogers (na vida real), o amado apresentador do programa infantil de TV “Mister Rogers’ Neighborhood”, bastante popular nos Estados Unidos na década de 1960. O longa-metragem é dirigido pela também escritora e atriz Marielle Heller e é inspirado na história real de Tom Junod, jornalista que escreveu o perfil ‘’Can you say…Hero?’’ (Você pode falar…Herói?) sobre Rogers.

A trama se inicia com um pequenino universo lúdico, uma colorida maquete onde se situa a casa/cenário em que Mr. Rogers começa a narrar a história de um rapaz que conheceu e se tornou um grande amigo.

Esse rapaz chamado Lloyd Vogel (Matthew Rhys) até então uma pessoa mal-humorada, desanimada e um afrontoso jornalista investigativo na revista Esquire, é convidado por sua chefe a escrever uma edição de personagens heroicos, tendo como sugestão um homem inspirador e marcante para tantas gerações, Mr. Rogers.

A partir do primeiro encontro com Rogers, o jornalista começa a se questionar juntamente com o público: Como um homem pode ser tão bom o tempo todo? Como na vida real consegue se parecer tanto com seu personagem? Será que se confunde? Ele se considera um herói? Ambos são desafiados por Heller a entender essa enigmática persona.

Mesmo sendo figuras de personalidades e pensamentos distintos, durante as entrevistas, Lloyd – como era chamado por Rogers – foi mudando não só sua visão em relação ao seu entrevistado como também sua visão de mundo, e logo menos se torna um verdadeiro amigo do apresentador.

A narrativa expõe em paralelo a relação dramática de Lloyd com sua família, principalmente o antigo rancor que guarda de Jerry (Chirs Cooper), seu pai.  Essa narração, com idas e vindas de aeronave, é ilustrada na mesma maquete que o programa televisivo de Rogers.

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Algo muito interessante desse filme, foi a sensibilidade que Heller teve de em alguns momentos haver uma certa interação com o espectador, como por exemplo quando os protagonistas estão conversando em uma lanchonete e Rogers propõe a Lloyd um minuto de silêncio para refletir sobre as pessoas que o moldaram com seu amor e o fizeram ser o que é hoje. O momento de reflexão é oferecido ao público – até pelo olhar direto de Rogers à câmera por alguns segundos – e durante exato um minuto o áudio do filme fica mudo e todo o cinema também, sendo comovente.

Tom Hanks faz com que o personagem consiga falar por meio do olhar, transmitindo perfeitamente a humanidade daquela figura, expressando a humildade e carisma de Rogers -no começo até irritante – de uma forma que cativa o espectador de pouco em pouco. Hanks fez uma atuação onde duas grandes personalidades se confundem e ao mesmo tempo trabalhou em um personagem surpreendentemente inspirador e adorável, concluindo mais uma atuação para guardar na memória.

A intenção de Heller em humanizar um ‘’herói’’ é incrível por conta de modificar o seu significado em um exercício diário de fazer o bem, procurar ajudar, aprender a lidar com sentimentos ruins, raivas, decepções. Ela também deixa de forma condescente, diversos elementos de autoajuda nas palavras de Rogers, para que o espectador possa se identificar e refletir.

Em alguns aspectos, como ao estabelecer o tema morte como o fator de reaproximação da família Vogel, os roteiristas Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster pecaram ao não tentarem outro modo de tal reaproximação e Heller parece não ter se importado tampouco com a ideia nada inovadora. Outro ponto fraco do roteiro além do machismo às vezes existente em atitudes de Lloyd e Jerry, é que as personagens femininas estão presentes apenas para servir aos três homens que movem a história e preencher a trama.  Lorraine (Tammy blanchard) e Andrea Vogel (Susan Kelechi Watson) estão como companheiras e motivadoras emocionais de seus maridos e Joanne Rogers (Maryann Plunkett) como mulher de Rogers em uma breve participação.

Deixando de lado pequenas falhas, ‘’Um Lindo Dia na Vizinhança’’ traz questões importantes sobre o convívio com as pessoas – até com as mais próximas -, lições para nos lembrar de aceitar os outros como são e que fazer o bem é um exercício diário e uma escolha de vida. É um filme diferente, inspirador, que propõe reflexão e faz do espectador feliz.

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