Julia Roberts sustenta com honraria a popular narrativa de “O Retorno de Ben”

[et_pb_section bb_built=”1″][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text _builder_version=”3.12.2″]

O cinema se apoiou diversas vezes em narrativas envolvendo drogas e adolescentes. Isso devido a uma forte realidade não só americana. No entanto, as histórias costumam trazer o retrato do período do uso ou até mesmo do início, mostrando o porque tais personagens passaram a usar. O Retorno de Ben, por sua vez, explora uma narrativa interessante, retratando o pós, fazendo uma análise sobre as consequências deixadas por quem já passou do período de uso e está em tratamento.

O roteiro de Peter Hedges trabalha a temática da melhor maneira possível no sentido de não encher a narrativa com flashbacks coloquiais. Ao invés disso, seu texto é mais natural ao deixar as situações fluírem e falarem por si só. A partir disso, Peter não se utiliza de um personagem como base para usar como justificativa para determinadas revelações. O espectador, então, passa a descobrir sobre o passado do Ben – interpretado por Lucas Hedges – aos poucos, enquanto as coisas acontecem, chegando até deixar algumas coisas implícitas.

O melhor disso é que Peter realiza o trabalho com base em um roteiro mais popular. Comparando com o recente Querido Menino, pela temática, a obra de Van Groeningen possui um filtro mais artístico, por toda a narrativa mais cadenciada, explorando a dramaticidade com mais delicadeza. Aqui, Peter se aproveita de um texto mais comum, por assim dizer. Os diálogos, por mais que não sejam expositivos (a não ser quando precisa) são muito básicos e fazem o que precisam fazer de forma direta, conseguindo ser tão brutal quanto o longa de Van Groeningen, mas que não exige tanto de seu elenco.

A própria escolha de Peter criar uma história mais fechada e controlada, que se passa dentro de 24 horas, consegue conquistar e prender mais o espectador, esse que é conquistado logo no início. Não só pela presença de Julia Roberts, mas também por compreender tudo o que se passa. Afinal, somos humanos e entendemos o sentimento de cada um dos personagens. Sobre isso, Peter foi feliz em construir seres com diferentes pensamentos sobre o assunto, justamente para atingir um número maior de pessoas.

Pode ser que concordemos mais com a ideologia dos personagens de Kathryn Newton e Courtney B. Vance, porém, entendemos completamente a forma como a personagem de Julia age, porque conseguimos imaginar como uma mãe sente. Neste ponto que o longa conquista.

Mesmo que Ben seja o centro da narrativa, Lucas Hedges está longe de interpretar o personagem principal. A construção em volta dele funciona para todo o universo ao seu redor caminhar e revelar o verdadeiro objetivo do filme: mostrar o poder de uma mãe. A característica em questão é também o cerne do roteiro de O Quarto de Jack (2015). Nos dois, somos capazes de compreender os limites de uma mãe e a capacidade da mesma em fazer tudo aquilo que ela não quer, mas que, de alguma maneira, salvará seu filho(a).

Este ponto faz de O Retorno de Ben uma obra forte, e que não se aproveita de um visual mais sujo e realista como em Trainspotting – Sem Limites (1996) e Diário de um Adolescentes (1995) – ambos também citados na crítica de Querido Menino. Como comentado, a narrativa busca atingir um público mais amplo e sem procurar servir como um manual do que fazer ou refletir. O Retorno de Ben funciona como um retrato de uma mulher forte e a capacidade de uma mãe agir em prol do filho, mesmo que ela o enxergue como algo perdido.

Essa fórmula narrativa poderia ter sido muito bem desprezada. Contudo, Julia Roberts carrega o longa de forma poderosa. Seu tom dramático encaixa perfeitamente com a narrativa proposta por Peter, que se aproveita ao máximo de sua interpretação. Suas nuances e transformações constantes de uma mãe ingênua e amorosa para uma mãe forte e bruta, encantam os olhos de qualquer espectador. A americana consegue muito bem realizar essa transição de maneira natural sem qualquer forçação narrativa e entrega o peso necessário nas horas que precisa tomar difíceis decisões, algo muito remetente a interpretação de Meryl Streep em A Escolha de Sofia (1982).

O encanto de Julia vem também muito do trabalho textual de Peter. Por mais que haja a simplicidade nas trocas de palavras, seu texto constrói uma narrativa muito simples e bem costurada, muito disso pela limitação de tempo e espaço. Mesmo com Julia ganhando seu merecido destaque em tela, Lucas Hedges, aos poucos vem se mostrando mais capaz de chamar a verdadeira atenção em Hollywood. Apesar da indicação ao Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante em 2017, ele continua distante de atingir a maturidade interpretativa de Timothée Chalamet – puxando novamente Querido Menino. Entretanto, o ator se apresenta de maneira mais leve – provavelmente pela presença no pai na direção – ainda que seu texto não exija tanta entrega.

Não só o elenco ajuda a narrativa andar, como a direção conversa bastante com toda a ambientação proposta. Peter estabelece esse tom de forma muito clara logo no início quando apresenta a família com uma fotografia estática e no momento de introdução de Ben, Peter passa a utilizar uma steadcam, dando um visual mais bagunçado, sem a firmeza em sua realidade. A direção se aproveita dessa técnica até sua conclusão, reforçando a simplicidade que o diretor/roteirista escolheu para sua história.

A falta de um controle mais artístico para a narrativa não diminui a história proposta por Peter Hedges, dando mais espaço para um brilhantismo de Julia Roberts para um retrato poderoso de uma mãe.

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]

pt_BR