Depois de Mansão Mal-Assombrada e Piratas do Caribe (o primeiro, pelo menos), mais uma atração da Disneyland foi adaptada para virar filme. “Jungle Cruise” existe no parque da Califórnia desde a década de 50, e consiste em um passeio de barco pela selva da América do Sul e esse é o cenário que o diretor Jaume Collet-Serra utiliza para contar a história de Lily Houghton e Frank Wolff e sua aventura pela Amazônia.
Lily Houghton (Emily Blunt) é uma pesquisadora e escritora, que cresceu ouvindo as histórias de seu pai, um respeitado historiador, a respeito das Lágrimas da Lua, uma flor milagrosa capaz de curar tudo e todos e que seria encontrada na Amazônia, mas a existência dessa flor nunca foi comprovada e Lily não consegue apoio para seguir as buscas de seu pai pelo simples fato de ser uma mulher e, portanto, vista como uma piada pelos outros estudiosos.
O irmão de Lily, MacGregor (Jack Whitehall), tenta ajudar apesar da sua falta de tato, mas nem assim Lily tem o apoio da universidade. Ela decide então seguir sozinha, guiada pelos mapas deixados por seu pai que, supostamente, a levariam até a lendária flor.
Para começar sua aventura, Lily e MacGregor vêm juntos para o Brasil e depois de um acidente de erro de identidade, conhecem o “capitão” Frank (Dwayne Johnson), que ganha a vida como guia turístico. Se você já foi ao Jungle Cruise na Diseyland, ou qualquer atração da Disney, na verdade, vai se divertir com o personagem e suas piadas dignas dos guias dos parques da Disney.
Lily e Frank se odeiam logo de cara, mas aquele tipo de ódio que a gente já sabe que vai se transformar em amor e é divertido de assistir. Emily Blunt e Dwayne Johnson têm uma ótima química e as provocações trocadas por ele conseguem divertir do começo ao fim sem nunca passar do ponto, mas os nomes de peso do elenco não param por aí. Paul Giamatti é Nilo, o primeiro obstáculo dos aventureiros, mas que não chega a ser relevante para a trama, quem faz o real vilão, o Príncipe Joachim, é Jesse Plemons que acerta em cheio sua caracterização, roubando a cena sempre que está presente, e para completar o elenco temos Edgar Ramírez como Aguirre, sim, aquele espanhol que procurava por El Dourado, aqui ele procurava pelas Lágrimas da Lua e teve seu espírito tomado pela selva Amazônica.
A trama se passa em 1916 e a Primeira Guerra estava no auge, então é claro que nosso vilão Joachim estava atrás das Lágrimas da Lua para usá-las como arma, enquanto Lily as queria para salvar a humanidade. Frank também estava atrás de uma flor para ele, mas seu motivo só é explicado mais tarde. Pode parecer simples, diferentes personagens com o mesmo objetivo, e poderia ser, mas o roteiro acrescenta questões que complicam a história sem realmente acrescentar valor ou desenvolvimento.
Apesar de se passar no começo do século passado, é claro o cuidado para trazer questões mais atuais. Inclusive, a própria atração que inspirou o filme passou por reformas recentemente para reparar as caracterizações racistas e coloniais que faziam parte do cenário. No filme Lily, ao contrário das mulheres da época, veste calças e pouco se importa com as convenções machistas da sociedade e seu irmão MacGregor faz um discurso sobre ter sido excluído pela família por simplesmente por conta da pessoa que ele amava, sem usar qualquer palavra explícita, ao mesmo tempo que demonstra um certo interesse da Disney em avançar sua representatividade da comunidade LGBTQIA+, o faz com cautela e com falhas. O próprio MacGregor, nos dois primeiros atos, é um poço de estereótipos associados à personagens gays, ele quer levar milhares de bagagens para a expedição, não tem qualquer tato para a natureza, quer usar uma roupa diferente para cada refeição e acaba sendo motivo de piada até o terceiro ato, quando passa por uma mudança e deixa os estereótipos para trás, se tornando um personagem muito mais interessante.
Jungle Cruise é um filme com ação do começo ao fim e, além da atração da Disneyland, é evidente sua inspiração em filmes como Piratas do Caribe, Indiana Jones e A Múmia, mas o excesso de tramas e de recursos tecnológicos na criação dos animais e cenários criam uma superficialidade que nos impede de conectar com tudo que está acontecendo. Ainda assim, o elenco e principalmente a química entre Dwayne Johnson e Emily Blunt resultam num filme para assistir em família.