‘Para os apaixonados que acreditam nos sonhos’.
6 MOTIVOS PARA VOCÊ NÃO PERDER ‘LA LA LAND’, UM CLÁSSICO QUE JÁ NASCEU PRONTO.
RESUMO: Mia (Emma Stone) é uma aspirante a atriz que mora próximo aos estúdios de Hollywood para tentar ficar cada vez mais perto dos seus sonhos. Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista amante de jazz que tem o sonho de abrir seu próprio clube e resgatar o clássico gênero da decadência. Quando a vida dos dois se cruza, logo começa uma bela história de amor, mas que não está imune aos turbulentos altos e baixos de um relacionamento. Quem dirige ‘La La Land: Cantando Estações’ é o jovem promissor diretor Damien Chazelle, que chocou o mundo com seu filme independente ‘Whiplash’, indicado a cinco Oscars – incluindo Melhor Filme – e vencedor de três. ‘La La Land’ parece seguir o mesmo caminho do antecessor ou até superá-lo, pois recentemente se tornou o recordista de prêmios na história do Globo de Ouro, levando todos os sete prêmios que disputou.
Bela imagem onde Emma Stone é encoberta pelo filme ‘Juventude Transviada’.
UM MUSICAL NOS DIAS DE HOJE? O filme resgata a magia da era de ouro dos musicais de Hollywood. Musicais perderam muito espaço dentro do cinema pela dificuldade em dialogar com o público moderno, pois cada vez mais com a evolução do cinema, os espectadores foram se acostumando com uma abordagem mais ‘realista’ de narrativa – influenciados (neste caso, os diretores) pelo neorrealismo italiano ou a nouvelle vague, por exemplo. Por consequência, os estúdios pararam de incentivar a produção deste gênero, diminuindo muito sua popularidade. Mas, como quase tudo na arte é cíclico, vez ou outra algum musical conseguia destaque tanto de crítica quanto de público, como por exemplo, ‘Sweeney Todd’, ‘Os Miseráveis’, ‘Moulin Rouge!’ ou ‘Chicago’ (este último vencedor do Oscar de Melhor Filme). Superior a todos esses citados, ‘La La Land’ é a bola da vez, um projeto de longa data de Chazelle que finalmente pôde ser produzido para as grandes telas.
‘La La Land’ tem uma das aberturas mais incríveis do século.
ROTEIRO: Dentre todos os principais aspectos do filme, o roteiro é provavelmente o menos ‘excepcional’. Mas isso não quer dizer que seja fraco ou contenha muitos problemas, apenas que as categorias técnicas, de direção e atuação se destacam mais. Basicamente, é uma história de ‘garota encontra garoto’ (e vice-versa) com os três atos bastante comuns à comédia romântica. Mas, Chazelle é um cineasta tão habilidoso que consegue inserir uma ‘surpresa’ em determinado momento do filme, que me reverteu totalmente a expectativa – e na verdade, partiu meu coração. O filme equilibra perfeitamente a fantasia do musical com a realidade da vida. É incrível como a história retrata de maneira muito eficaz a paixão do casal, como quando alguém que acabamos de conhecer nos apresenta a um mundo novo e muda completamente nossa visão sobre aquilo que não conhecíamos (é o que Sebastian faz com Mia com relação ao jazz, por exemplo). Os altos e baixos do relacionamento são representados por montagens das estações, que trazem um charme especial e o interessante é que os personagens crescem individualmente na direção dos seus sonhos, e com arcos dramáticos que não dependem um do outro. Isso funciona, pois não há favorecimento a nenhum dos personagens e também porque assim é a vida, o tempo é relativo para cada um de nós.
O filme também conta com fotografia e direção de arte impecáveis.
ELENCO E ATUAÇÕES: Demonstrando excelente química, Ryan Gosling e Emma Stone – que fizeram par romântico no ótimo ‘Amor a Toda Prova’ – estão em estado de graça no filme. Chazelle sabe como direcionar, ao mesmo tempo em que confia na capacidade de criação e liberdade do seu elenco principal, deixando-os completamente à vontade. O resultado são personagens inspiradores, que nos mantém investidos na história e torcendo por eles durante todo o filme, pois são como muitos de nós, amantes da arte correndo atrás dos próprios sonhos. Gosling traz muito do humor físico que surpreendeu no ótimo ‘Dois Caras Legais’ e ainda aprendeu a dançar e tocar piano, trazendo um realismo as suas cenas que nenhum CGI ou dublê no mundo seria capaz de chegar aos pés. Já Emma, na minha opinião, ‘rouba’ o filme. Beneficiada por um roteiro que lhe dá várias cenas onde pode expressar toda sua capacidade dramática e pela direção de câmera de Chazelle, que valoriza demais seus esforços, a atriz conseguiu me ganhar tanto que se tornou minha opção pessoal ao Oscar de Melhor Atriz. Os coadjuvantes também funcionam, com destaque para a cena de J.K. Simmons fazendo o que faz de melhor, um chefe mandão.
o ‘chefe’ J.K. Simmons demite Sebastian (Gosling), enquanto Mia (Emma Stone) observa ao fundo.
TRILHA SONORA E OUTROS ASPECTOS TÉCNICOS: Para não soar redundante com relação a trilha sonora espetacular do filme, darei apenas uma dica: escutem até enjoar. Justin Hurwitz, o compositor (que conheceu Chazelle ainda na faculdade), repete o que fez em ‘Whiplash’ colocando sua alma nas canções, com melodias que marcam e emocionam. Talvez os dois Oscars mais certos do filme sejam os de Melhor Canção Original e Trilha Sonora. Ah, para quem é muito fã de Whiplash, há uma cena no clube de jazz onde toca ‘When I Wake’, composta originalmente para o filme anterior do compositor. Um fato que surpreendeu a muitos foi que a coreógrafa principal do filme é a atriz e cantora Mandy Moore (de ‘Um Amor Para Recordar’). As coreografias do filme são muito boas, embora (naturalmente) não cheguem nem perto das performances de Fred Astaire ou Gene Kelly, ícones máximos do cinema musical. Fotografia e direção de arte também são impecáveis, com destaque para as cores, que possibilitam imagens belíssimas a serem captadas pelas lentes de Linus Sandgren (de ‘Trapaça’), além de um trabalho de iluminação irresistível – a maneira como mudam o cenário no meio da cena escurecendo ou iluminando dando foco aos personagens representam a verdadeira magia do cinema.
Mudanças de cenários por meio da iluminação, a verdadeira magia do cinema.
DIREÇÃO, MONTAGEM E CONCLUSÃO: Se há um pequeno ‘defeito’ que podemos considerar em ‘La La Land’ é seu ritmo, que alguns podem achar um tanto arrastado para as 2hs e 08min de filme. Mas, eu mesmo vou me contradizer, pois sei que os planos longos, grandes cenas e poucos cortes não foram por questões de necessidade ou erro, mas uma opção de Chazelle juntamente da sua equipe. Neste caso, a montagem (do vencedor do Oscar por ‘Whiplash’, Tom Cross) prioriza esses planos para se aproximar mais do estilo clássico dos musicais antigos, ‘sacrificando’ o ritmo do filme. E a abertura musical é um dos momentos cinematográficos mais incríveis desse século (sem exageros), com uma sequência sem cortes extremamente difícil de ser filmada e coreografada, que já determina o tom inteiro do filme e impressiona. A direção de Chazelle é espetacular, a forma como sempre movimenta a câmera, dando ao filme um ar de universo ‘vivo’. Também suas sutis aproximações dos rostos dos atores destacando suas emoções, o que valoriza muito. ‘La La Land’ é uma incrível homenagem ao jazz e aos filmes clássicos, ao charme dos grandes estúdios de Hollywood, e seu discurso também funciona como metalinguagem para o cinema atual: como ser revolucionário, sendo tão tradicionalista? É necessário coragem e renovação para atrair novos públicos, e tenho certeza que muitos perderão o preconceito com musicais após este filme. Uma obra-prima dentro do seu gênero, um clássico que já nasceu pronto, um filme para sonhadores apaixonados.
E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!