Mas como sabemos, sexo sempre foi um tabu. A prática do coito embora seja algo comum, no cinema, não é vista por muitos como uma coisa normal, mas hostilizado por muitos que preferem manter sua integridade ao ver cenas obscenas, de atos sexuais ou nudez. Talvez esse seja o caso de muitos repudiarem a exibição de “Love” no Festival de Cannes este ano. Se tratando de uma obra de Noé, pode-se esperar qualquer coisa por chocar o público, como em 2002 quando o seu perturbador “Irreversível” também foi exibido no Festival. O efeito dos dois filmes foi o mesmo: muitos saíram da sala de exibição antes que os filmes terminassem. Para o público é mais viável aceitar o péssimo “Cinquenta Tons de Cinza” por ser discreto e composto.
Para ir direto ao ponto, o diretor resolveu começar com uma cena sequência de masturbação com direito a ejaculação. Daí em diante, segue-se um suspense envolvendo o desaparecimento de Electra, ex-namorada de Murphy, um estadunidense que estuda cinema em Paris. A vida de Murphy é chata por não ter casado com a mulher que realmente ele amou (no caso Electra) e certo dia recebe uma ligação da mãe de Electra, dizendo que a filha tinha desaparecido. Começa então um flashback com cenas de penetração (o ator Karl Glusman aparece sempre ereto), orgia a três e grupal, felação, lesbianismo, pedofilia (a vizinha com quem o jovem casal se envolve é menor de idade) dentre outras coisas. Mas não só o sexo está nas memórias dele. Nas lembranças do jovem mostram também como eles se conheceram e o motivo da separação do casal.
A experiência em 3D é um tanto curiosa quando em um plano detalhe o falo de Murphy ejacula. Óbvio que o sêmen não jorra literalmente no público, embora tenha causado uma repercussão negativa, não chega a ser tão embaraçosa. Com forte evidência sob influências de filmes como “Ken Park” ou “Nove Canções”, o fato de ser em 3D torna diferente por estimular o público a conferi-lo (apesar das críticas negativas).
Embora a história seja interessante com um epílogo excelente, em meio a tantos atos sexuais, infelizmente perde um pouco o fôlego. O clima favorável para o suspense só ocorre no início e segue apenas com a saudade que toma lugar da preocupação com o paradeiro de Electra. Talvez por conta disso, Noé estivesse mais interessado em mostrar atores em intimidades amorosas do quê o próprio enredo (e em alguns momentos o modo como é conduzido, não parece exigir muito deles).
Gaspar tem uma característica nas fotografias de seus filmes, que é o forte tom vermelho. Este sinônimo que é marca registrada, vem desde “Sozinho Contra Todos”, passando por “Irreversível” e seguindo com “Viagem Alucinante” com climas perturbadores. Mas em “Love” a fotografia tem um tom erótico. Co-produzido por um brasileiro, Rodrigo Teixiera (produtor também de “Heleno” e “O Cheiro do Ralo”), um ponto bastante positivo é a trilha sonora de ótima qualidade que mistura Roger Waters (ex-Pink Floyd) e um solo super sexy de guitarra de John Frusciante (ex-Red Hot Chili Peppers) nos tórridos espetáculos de fornicação que foge do convencional que estamos acostumados a ver (estalos de beijos, gemidos, sussurros e posições onde nenhuma genitália é exposta – apenas seios, nádegas e pêlos pubianos).
Mas, captar sentimentos que misturam prazer carnal em ângulos com tecnologia em 3D é um desafio, já que muitos não enxergam o amor que os personagens sentem um pelo outro, po que repercutiu com tanta negatividade por causa do forte impacto que causou em Cannes. Mas para conferir “Love”, é preciso encarar com naturalidade já que transar é tão natural quanto sentir sede e beber água…
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