Mais ForteQue Bombas

Joachim Trier é um jovem diretor e escritor norueguês que ganhou notoriedade após ter ganho o prêmio de “Melhor Descoberta” no Festival de Toronto por seu primeiro filme chamado ‘Começar de Novo’ (2006). Nele, dois amigos bastante competitivos e talentosos no meio da literatura, se deparam com a dificuldade de lidar com temas como amor, depressão e carreira. Alguns anos depois, lá estava o diretor em Cannes com seu filme ‘Oslo, 31 de Agosto’ (2011) sendo indicado. Trier mostrou desde o início da carreira que dramas são o seu forte e sua capacidade de dialogar com temas profundos, como a depressão, seria sua marca registrada neste início de carreira.

Falando em Cannes, seu novo filme ‘Mais Forte Que Bombas’, foi indicado a Palma de Ouro. Na história, um pai, Gene (Gabriel Byrne), e seus dois filhos Jonah (Jesse Eisenberg) e Conrad (Devin Druid) confrontam seus sentimentos pessoais e lembranças de sua falecida esposa e mãe, Isabelle (Isabelle Huppert), uma renomada fotógrafa de Guerra. Algum tempo após sua morte será feito um documentário para a TV sobre a vida e carreira da fotógrafa, fazendo com que o filho mais velho Jonah retorne à antiga casa do pai para ajudá-lo a separar as coisas da mãe.

O interessante na direção de Trier é que ele explora tanto os problemas individuais dos personagens, como da família em conjunto. O bom elenco conta ainda com coadjuvantes de muito talento, como os indicados ao Oscar Amy Ryan e David Strathairn, neste primeiro filme de língua inglesa do diretor. Aproveitando-se do movimento que iniciou lá na década do 90, quando a União Européia passou a investir muito mais no cinema do continente derrubando fronteiras e impulsionando as coproduções, Joachim Trier parece estar seguindo os passos de diretores consagrados que conseguiram sucesso dentro e fora do seu país, ganhando destaque ao redor do mundo como Michael Haneke, Paul Verhoeven e Lars Von Trier. Sendo assim, o diretor pode se sentir à vontade para rodar um filme em inglês e até trabalhar futuramente em Hollywood sem perder sua veia autoral.

O ritmo do filme é bastante cauteloso, onde aos poucos são apresentados primeiramente Jonah, que acaba de ser pai pela primeira vez, e depois foca na difícil relação pai e filho entre Gene e Conrad. Este último é na verdade um adolescente bem problemático, que claramente não reagiu bem à perda da mãe e criou um abismo entre ele e o pai. A forma como Trier retrata essa distância entre os dois é plausível, um mal que afasta cada vez mais as pessoas, pela dificuldade de diálogo ou apenas parar para realmente compreender o que está acontecendo em sua própria casa. Apesar de ser um drama familiar, normalmente capaz de emocionar, apelar para o sentimental não é o enfoque do filme. ‘Mais Forte Que Bombas’ não está preocupado em arrancar lágrimas da plateia, mas como sugere o slogan do filme, deseja apenas “quebrar o silêncio”. Com sua “frieza” europeia, Trier dita o tom da trama focado nos fatos e em uma possível solução para o problema, através do diálogo e da convivência.

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A escolha e contribuição do elenco são excelentes. Esse é o tipo de filme que consegue te fazer enxergar um ator com outros olhos. Esienberg está muito mais maduro e numa atuação completamente menos afetada do qualquer outro papel que tenha feito na vida, e o resultado é muito bom. Gabriel Byrne e o garoto Devin Druid se esforçam para convencer e, apesar de não terem uma atuação digna de grandes elogios, são competentes em seu desempenho. Já mencionei os coadjuvantes e confirmo que suas participações agregam muito ao filme, apesar da pouca aparição de ambos.

Tecnicamente o filme é bem feito, nada salta aos olhos, mas também não deixa a desejar. A trilha sonora de Ola Fløttum (de ‘Força Maior’) mais uma vez ambienta muito bem a história, sendo suave e sentimental nos momentos certos. Como não há aquela cena mais visceral ou marcante, Ola sabe como criar um clima psicológico que acompanha muito bem a cena. A expressão visual do filme também combina bastante com seu tom melancólico, se passando em um ambiente urbano, mas ao mesmo tempo “frio” e distante, assim como a relação entre os personagens.

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‘Mais Forte Que Bombas’ é um filme com estrutura e nuances muito semelhantes aos dramas norte-americanos, mas ao mesmo tempo não perde o toque autoral do seu diretor. Por mais que não haja uma grande conexão emocional com o público e falte uma catarse mais poderosa, a forma como conta sua história contém certa carga dramática embutida e o tema do luto e da relação interpessoal – quando bem trabalhados – sempre são relevantes. Provavelmente não irá concorrer a grandes prêmios, nem proporcionar uma lição duradoura ao espectador, mas funciona como um olhar mais distante sobre como a falta de comunicação dentro da sua própria família acaba se tornando algo maior e mais perigoso, pois não há relacionamento sem confiança e com sentimentos não se brinca.

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