Em uma realidade na base de curtidas, comentários e visual, o externo acaba tendo uma importância muito maior. Claro que essa não é uma exclusividade do século XXI, com o avanço tecnológico, já que as pessoas mais bonitas visualmente eram tidas como o exemplo a seguir.

Com este padrão estabelecido, há uma guerra para ver quem é melhor. O que resulta em conflitos internos e até externos entre as pessoas. Muitos passam a se questionar sobre sua própria aparência ou ideologia dependendo do grupo a qual está inserida ou dependendo do que a sociedade estabelece como “o certo”, enquanto “o diferente” é desprezado e maltratado. Há uma versão desse cenário para diferentes segmentos, e não só focado na beleza. Porém, este é o explorado por Uglydolls.

Baseada na linha de brinquedos de pelúcia criado por Sun-Min Kim e David Horvath, a animação, resumidamente, funciona apenas como uma importante lição sobre amar as diferenças e se focar mais no interior de cada um. Animações que exploram sua técnica para ir além do infantil e conseguir estabelecer uma reflexão mais complexa, merece a atenção, apesar da técnica. Uglydolls, nesse quesito, funciona muito bem.

Em tempos nos quais as redes sociais predominam o significado do “perfeito”, é fundamental ensinar, principalmente para crianças – que acabam sofrendo mais isso – a importância de entender que o diferente não é errado, e ainda, conseguir transmitir a necessidade da representatividade. Em sua conclusão, o longa realiza as duas funções, dentro de uma narrativa divertida. No entanto, apesar da importante e bela mensagem, Uglydolls não apresenta nenhum recurso inédito, nem em sua técnica, e muito menos em sua narrativa.

O recente O Parque dos Sonhos é outro que também explora uma narrativa inspirada em outras obras, mas que consegue entregar conceitos novos. Aqui, por sua vez, é muito fácil encontrar as inspirações, e as mesmas dominam toda a história. Inspirações essas que começam com Toy Story (1995), sendo essa a mais óbvia, inclusive, não só na exploração da vida dos brinquedos, mas também da exclusão pela diferença (Toy Story 2) e a busca por uma criança; e indo até Robôs (2005), principalmente no conceito semelhante sobre o novo ser superior ao velho, que conversa diretamente com o belo x feio. Há também momentos cruciais de elementos parecidos com Três Espiãs Demais (2001-2014), Meninas Malvadas (2004), Pé Pequeno (2018) e O Corcunda de Notre Dame (1996). Este, inclusive, é o mais próximo, já que os dois concluem sua narrativa com a lição sobre a beleza interna.

Neste ponto, vemos a falta de originalidade de Uglydolls, e que é o principal fator para o enfraquecimento da história. Apesar de influências serem fundamentais para uma construção, elas não devem ser a única característica presente. Afinal, filmes precisam marcar por si só e não com base em memória afetiva de outras obras. Mesmo que aqui haja a mensagem, o sentimento de “já vi isso em outro lugar” sobressai bem mais.

A musicalidade também é outra decepção. Enquanto o já citado Pé Pequeno consegue trazer algumas canções bem construídas musicalmente, Uglydolls deixa a desejar, ainda mais com um elenco formado por Nick Jonas, Kelly Clarkson, Blake Shelton, Pitbull e Janelle Monáe – inclusive, decepção não contar com a presença de Christina Aguilera, devido sua canção Beautiful. O tom dramático do filme também traz momentos segmentados de outras obras, fazendo o famoso “feijão com arroz” de forma até que preguiçosa, ainda mais vindo da direção de Kelly Asbury, responsável por obras únicas como Spirit: O Corcel Indomável (2002) e Shrek 2 (2004). Aqui, então, faltou um toque de coragem para conseguir ir além do que o público está acostumado.

Ainda com as críticas, Uglydolls funciona da maneira que deveria funcionar. Sua técnica de animação estabelece um universo bem definido e colorido da forma que deve e transmite a bonita lição para a criançada. No entanto, há uma certa dúvida do quanto os divertidos bonecos vão conseguir ficar na memória dos pequenos da mesma forma que os outros longas citados ficaram.

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