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Quando o jornalista sueco Stieg Larsson escreveu a trilogia de livros, lançados entre 2005 e 2007, sobre uma hacker que sofreu abuso sexual e se transformou numa espécie de heroína contra a agressão masculina, ele logo se tornaram best sellers. E não muito tempo depois foram adaptados para o cinema por uma companhia sueca, que lançou em 2009 adaptações para os três livros.
Em 2011, chegou a vez de Hollywood se interessar pela história. Porém, com sua própria adaptação do primeiro livro intitulado Os Homens Que Não Amavam as Mulheres (2011), estrelado por Rooney Mara, interpretando a hacker Lisbeth e Daniel Craig como o jornalista Mikael Blomkvist.
Diante do sucesso da franquia e a morte de Larsson em 2004, antes mesmo da trilogia sequer ser publicada, a editora convidou o escritor, também sueco, David Lagercrantz para assumir a série Millennium. Então, foram publicados mais dois livros. Em 2015, A Garota na Teia de Aranha e em 2017, O Homem que Perseguia sua Sombra.
Millennium: A Garota na Teia de Aranha é baseado no quarto livro da série, o primeiro não escrito por Larsson, e serve como uma sequência do longa de 2011, mesmo evitando os dois livros sequenciais da franquia – provavelmente para evitar comparações com as produções suecas já lançadas.
Porém, mesmo continuando a narrativa do filme de David Fincher, a produção não se manteve, incluindo elenco. Dessa vez, Claire Foy ficou com a responsabilidade de dar vida a Lisbeth, enquanto Sverrir Gudnason viveu Mikael. Apesar de tudo diferente, o roteiro manteve a existência do primeiro filme, já trazendo o relacionamento dos dois construído.
Aqui, Lisbeth é contratada por Frans Balder (Stephen Merchant) para recuperar um programa chamado FireFall, que ele mesmo criou para a NSA. Capaz de controlar os códigos de lançamentos nucleares de todo o mundo, ele percebe que deixar todo esse poder nas mãos de uma única nação pode não ter sido uma boa ideia. Arrependido, pede que Lisbeth o roube de volta da NSA.
Porém, quando ela consegue recupera-lo, sofre um ataque abrupto de uma organização que rouba o programa criado por Balder e é incriminada por crimes que não cometeu. Sendo perseguida por uma organização criminosa desconhecida, Lisbeth recorre a Mikael para descobrir a identidade dos homens que roubaram o FireFall e assim tentar recupera-lo.
Se a trama de espionagem clássica lembra algum filme do James Bond não é à toa. Na verdade, todo o filme parece uma versão de 007, com exceção dos momentos iniciais, onde Lisbeth puni um empresário acusado de agredir a esposa e garotas de programa. O resto do filme tem pouco ou quase nada da psicologia formada por traumas e da personalidade particular de Lisbeth presente nos filmes anteriores.
A parceria entre Lisbeth e Mikael, antes peça central da trama, é descartado na sequência. O jornalista parece ser incluído na história apenas por respeito ao original, já que sua participação no desenvolvimento da trama é desnecessária e o personagem, antes bem escrito, é desinteressante e apático.
Camila (Sylvia Hoeks), chefe da organização criminosa, é uma vilã genérica com poses de vilã enquanto usa uma roupa muito vermelha para contrastar com toda a neve ao seu redor. Somente nos momentos finais sua conexão com o passado de Lisbeth é abordada de forma significativa, trazendo de volta um pouco da personagem que conhecemos no primeiro filme.
Contudo, até sua chegada, Lisbeth é retratada como uma anti-heroína de um filme de ação qualquer, porém pronta para salvar o mundo e dar uma surra nos vilões.
Nesta versão, Claire interpreta uma Lisbeth mais madura do que a de Rooney ou Noomi Rapace, de forma convincente, recheado de olhares profundos e poucos diálogos. Entretanto, além dela, pouco pode-se dizer da atuação do elenco de apoio, principalmente Sverrir e Lakeith Stanfield, descaradamente desperdiçados.
Ao todo, o longa é um bom suspense com reviravoltas descentes e uma performance consistente de Foy, mas por se afastar tanto da ideia original e apresentar uma história tão genérica o, em grande parte, desinteressante. Parece que não só o elenco, o diretor e o autor do livro foram substituídos, mas a história em si também.
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