SINOPSE

Não existe forma mais concisa de descrever a América Latina em uma produção de ficção como pelos olhares dos próprios latino-americanos. José Padilha(Tropa de Elite, Ônibus 174) provou seu valor através de sua dialética que põe em conflito todas as peças do jogo político e social em suas obras anteriores, mostrando assim a complexidade das falhas institucionais que geram a violência. Em Narcos, produção ambiciosa da NetFlix não seria diferente, pois estamos falando do maior narco-traficante de todos os tempos.

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Pablo Emilio Escobar Gaviria foi o resultado direto do descaso norte-americano, incompetência e corrupção política e de segurança pública da própria Colômbia, seu berço, onde ele mesmo diria um dia que seria presidente da república. Com um império transnacional de cocaína, conduziu com sangue dos inimigos e carinho do povo que o via como um pai,( pois foi um populista nato) o novo rumo do crime organizado. De criminoso urbano, passou a terrorista político, pois suas ramificações rompiam o traçado legal ao ponto de conseguir acordos com o próprio presidente para não tornar o país uma praça de guerra com seu ‘Cartel de Medelín’ sofrendo represárias do DEA e de seu concorrente ‘Cartel de Cáli’.

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O que a série com 10 episódios quer nos mostrar, é que diferente dos anglo-saxões, não vemos heróis nem vilões, mas homens movidos por interesses. Isto é o que vemos pelos olhos do agente Steve Murphy (o desconhecido Boyd Holbrook) que conduz com a habitual narração em off toda a história do processo investigativo que derrotou Escobar. Wagner Moura defende com competência e galhardia seu difícil personagem, pois a dificuldade de mostrar um ícone nacional com a perfeição de sotaque páisa do espanhol colombiano já lhe coloca em outro nível em relação ao resto do elenco. Ele é a coluna de sustentação da narrativa, mas a direção dos 2 primeiros episódios por Padilha, apesar de didáticos em excesso tem força pela utilização de imagens reais de arquivo para reforçar o realismo documental da série.

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O tema central da trilha, ‘Tuyo’, cantada por Rodrigo Amarante dá o tom multi-cultural da empreitada que tem mãos de todos os países possíveis em sua concepção. Durante alguns episódios, a série não deixa de mexer nas feridas antigas de intromissões norte-americanas, como a CIA e sua caça paranoica ao comunismo, e a relação promíscua de movimentos paramilitares de esquerda com o narcotráfico em ascensão. Apesar de um pouco lenta em seu ritmo, temos um trabalho opulento, com uma fotografia elegante de Lula Carvalho, Adrian Teijido e Mauricio Vidal, que dá introspecção épica aos momentos solitário de Escobar e sua relação com a família.

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Wagner consegue imprimir com sinceridade a humanidade dentro do monstro. Duas cenas se destacam: A da entrada dele no congresso depois de uma aliança suja, e um assassinato feito com as próprias mãos no penúltimo episódio. Com Narcos vemos que a NetFlix ocupa com a HBO uma vanguarda do que entendemos como ‘cinema’, pois é o que seus formatos fazem acima de tudo, respeitando a própria identidade das produções em narrar suas histórias nacionais e seu imaginário político, dando liberdade a quem faz arte, sem o imperialismo que é de se esperar em Hollywood. Boa série.

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Trailer da Série:

 

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