Como explicar o burburinho recente promovido pelas reações da classe artística hollywoodiana, diretores e atores como Spike Lee, Samuel L. Jackson, o casal Smith (Jada e Will) e Mark Ruffalo entre outros perante a falta de atores negros nas 20 principais categorias ao Oscar 2016? De Hattie McDaniel por ‘…E O Vento Levou’ (1939) até Lupita Nyong’o por ’12 Anos de Escravidão’ (2013), mudanças no contexto sociológico e político tornaram uma nação repressora com políticas segregacionistas numa terra de inclusão e protagonismo negro, e modelo de transformação social. Hummm, mais ou menos.
Lupita Nyong’o no vencedor do Oscar ’12 Anos de Escravidão’
O país que foi fundado pela ideologia dos navegantes puritanos do Mayflower nunca deixou de vigiar de perto esta autonomia negra. A abolição nunca foi justa, mas economicamente viável. O New Deal nunca deu casa e direitos à comunidade negra. O segundo Oscar só foi dado a um ator negro 24 anos depois com Sidney Poitier graças às tendências dos movimentos pelos direitos civis dos anos 1960. Somente nos anos 80 a profusão de atores e premiações seguiu alguma lógica.
Sidney Poitier com a aclamada estatueta do Oscar
O que faz o notório panfletário Spike Lee ter toda razão, é que tudo isto se trata de século XX. O que torna os membros velhos e 94% brancos da academia parte de um passado que ela deve desde já deixar para trás. Sem dúvida o século passado foi do Cinema, mas o advento da internet, da HBO e da Netflix coloca Hollywood em outro patamar econômico e de influência política em nosso tempo. O espectador tem o filme na palma de sua mão. As plataformas substituíram o deslocamento até a sala de Cinema, cara, consumista e infanto-juvenil, pois o que faz as salas lotarem agora são os blockbusters de heróis, duendes e adaptações de best-sellers. O que o Cinema americano tinha de melhor, os roteiristas, migraram sem pensar duas vezes para a TV.
Não é uma época de crise, infelizmente, pois crise em Hollywood já foi sinônimo de criatividade, e gerou a geração dos anos 70. Mas se não abrir os olhos, a ortodoxia destes senhores vai fazê-los perder o que mais querem; dinheiro. Como explicar a ausência de ‘Beasts of No Nation’ na festa?
Idris Elba em ‘Beasts of No Nation’
Engraçado que todos os papeis de líderes protagonistas negros são invariavelmente esnobados. Malcom X (Denzel Washington) de 1993, não ganhou, Martin Luther King Jr. (David Oyelowo) em ‘Selma’ nem indicado foi, e agora Idris Elba. Isto não é um comentário panfleto, mas uma tentativa de mostrar que conservadorismo é racismo de gente envergonhada. Coisa que a história deve e vai ultrapassar. Basta começarmos por nós mesmos.