O AMOR DÁ VOLTAS | ENCONTROS E DESENCONTROS MARCAM ESSA COMÉDIA ROMÂNTICA POSITIVAMENTE SURPREENDENTE

André (Igor Angelkorte) é um jovem retornando ao Brasil depois de passar 2 anos na África trabalhando como médico para comunidades carentes. Chegando ao Brasil, ele é recepcionado no aeroporto por sua namorada Beta (Juliana Didone) e sua cunhada Dani (Cleo), mas ele é pego de surpresa ao descobrir que Beta seguiu sua vida enquanto André se aventurava na África, ao ponto de se casar com outro cara e ter uma filha com ele. A situação é inusitada, mas a surpresa de André é justificada: sua relação com Beta já passou por maus bocados, principalmente quando ele fez um “detox” e passou 6 meses sem dar notícias, mas depois disso, quando voltou a se comunicar, apenas através de cartas e foram essas cartas que o fizeram acreditar que seu relacionamento estava melhor do que nunca, já que elas eram cheias de confissões e juras de amor que nenhum dos dois jamais fizera quando estavam juntos pessoalmente. Acontece que desde essa “pausa” no relacionamento, quem continuou se correspondendo com André foi sua cunhada Dani, e assim temos um triângulo amoroso.

A ideia de que André pudesse estar trocando cartas com outra pessoa achando ser sua namorada, sem ter trocado qualquer palavra com ela por telefone ou redes sociais parece um tanto quanto forçada a primeiro momento, mas conforme vamos conhecendo melhor os personagens e suas circunstâncias, toda história fica cada vez mais crível e, consequentemente, mais envolvente. O roteiro de Marcos Bernstein, também responsável pela direção, sabe amarrar todos os pontos da história sem perder a naturalidade e a fluidez. A viagem de André para África está diretamente conectada com sua personalidade e suas limitações, que também estão diretamente conectadas com os dilemas da sua geração como um total.

O foco do filme está nos personagens de André e Dani e de sua relação, mas além de uma comédia romântica, ele é também um filme sobre crescimento pessoal, entender sobre quem você é e como você pode se relacionar com o mundo em meio às pressões e superficialidades inerentes ao nosso tempo. É claro que o filme ainda é uma comédia romântica e não foge completamente dos clichês, alguns mais óbvios e desnecessários que outros, mas nada que atrapalhe a experiência geral e o carisma dos personagens que apesar de simples, passam sentimentos palpáveis o suficiente, com suas imperfeições e falhas tão acentuadas quanto suas qualidades.

Apesar de ser um triângulo amoroso, essa não chega a ser uma situação maçante. Beta fica mexida com a volta de André e isso desperta nela uma nova autoavaliação para entender melhor o lugar que ela quer ocupar, mas Beta tem suas questões além de André e a história nunca leva a algum tipo de rivalidade entre irmãs que brigam pelo mesmo cara. A relação de Beta e Dani não é tão desenvolvida quanto a André com elas, mas ainda assim é possível ver o carinho entre elas, uma vez que tudo é contado de forma sensível e honesta (ainda que com algumas mentiras pelo caminho).

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