Recriar um clássico é sempre uma tarefa difícil, mas fazê-la com sensacionalismo chega a ser burrice. O clássico de mesmo nome da série, dirigido por Roman Polanski e estrelado por Mia Farrow é tido como uma produção cheia de surpresas, a começar pelo gênero terror, uma vez que muitos o classificam como o primeiro filme de terror sem terror, já que o enredo é tomado pela tensão psicológica da personagem principal em relação ao filho misterioso que está esperando.
A primeira e mais imperdoável falha da minissérie lançada em 2014 foi dar “terror” ao terror, exatamente para transparecer toda a trama diabólica por trás da história.
A minissérie de dois capítulos, cada um com 1 hora e 25 minutos de duração, estrelada e produzida por Zoe Saldana, primeiramente, pode ser tida como uma desculpa bastante inaceitável para não realização de um filme longo, feito para a televisão e, ao mesmo tempo, uma tentativa de prender a atenção do telespectador de modo a aumentar a sua audiência.
O enredo, embora possua o mesmo argumento da produção original de 1968, se passa em época, ambiente e momentos diferentes. Primeiro, é completamente atual. Em segundo lugar, não se passa nos Estados Unidos, ou seja, em Nova Iorque, passando a se passar, dessa vez, em Paris na França. Outro detalhe é todo o mistério envolvendo o pacto entre o personagem Guy, marido de Rosemary, com o casal de feiticeiros Castevet, para que a personagem principal fosse possuída pelo mal, é completamente reveladora o que acaba, de certa forma, estragando o roteiro, principalmente aos olhos de quem apreciou o filme original.
Uma particularidade sobre o casal Castevet, responsável por convencer o casal Rosemary e Gay Woodhouse a morarem em seu prédio, é o fato dos personagens da minissérie serem totalmente diferentes daqueles do filme. Roman Castevet, interpretado pelo talentoso Jason Isaacs, eterno Lucio Malfoy da série Harry Potter, é bastante comum e um tanto preocupado sem a seriedade bastante presente do personagem original de Sidney Blackmer. A personagem de Margaux Castevet ficou a cargo da atriz francesa Carole Bouquet, a qual também muito se diferencia da atriz Ruth Gordon, no papel que rendeu para esta o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. As diferenças quanto ao trabalho das duas atrizes é marcante! Ruth Gordon interpretou uma senhora carismática, aparentemente sem malícia e, mesmo quando revela o seu lado macabro, todo o lado gentil e “bondoso” ainda é sentido ao termino do clássico de 68, ou seja, é quase impossível não gostar da atriz, mesmo com toda a maldade da personagem. Já Carole Bouquet, talvez por uma falha de produção, do roteiro ou da própria atriz, interpreta uma mulher fria, com uma visível aparência maléfica, uma irritante expressão de ódio e, a diferença mais marcante, com fortes tendências homossexuais. É, de fato, o personagem mais odioso e inaceitável da minissérie.
Os pontos mais negativos giram em torno da figura de Satã, o qual se apresenta como um homem galanteador e elegante, diferente do clássico de 68, onde se pode ver apenas uma forma nada nítida de uma figura não humana, bem como os olhos macabros e assustadores que se tornam o sinal mais marcante do filme de Polanski, onde se pôde constatar que o bebê de Rosemary nascera com os olhos do demônio, mesmo que a aparência real da criança não fosse mostrada no filme. A expressão aterrorizante da personagem de Mia Farrow, ao ver a criança pela primeira vez, foi o que consagrou todo o terror envolvido no filme, algo que não foi sentido na minissérie, já que os realizadores cometeram o maior erro da produção ao dar corpo e rosto à criança da história, destruindo todo o mistério da trama. A cena final envolvendo o culto de adoração a Satã, bastante impactante no filme original, se mostra simples demais e nada impressionante na minissérie.
Apesar de todos os pontos negativos apontados, a minissérie traz outros aspectos que, de certa forma, ficaram bem no roteiro e, mesmo se diferenciando da história original, ficou bom aos olhos do público. Na minissérie temos um Guy Woodhouse, interpretado por Patrick J. Adams, o qual, mesmo manipulável, se mostra bastante protetor em razão de sua esposa Rosemary, chegando até mesmo a afrontar o casal de bruxos, caso eles colocassem a vida se Rosemary em risco para finalizar todo o seu plano diabólico. A trilha sonora tenebrosa e as cenas assustadoras, mesmo nada originais, contribuem para tornar a refilmagem, pelo menos, um suspense um tanto aceitável. Zoe Saldana, mesmo não sendo uma atriz grandiosa e mesmo com uma fraca atuação totalmente diferente daquela feita por Mia Farrow, consegue chamar a atenção do público graças a sua simpatia e sensualidade.
De um modo geral, os realizadores da Minissérie, O Bebê de Rosemary, Scott Abbott e James Wong, tentaram a todo custo fazer algo mais interessante do que o filme original. Contudo, conseguiram apenas produzir algo bastante chato e nada extraordinário. Entretanto, para todos aqueles espectadores que ainda não conferiram o clássico de 1968 e que apreciam os filmes de terror da atualidade, existe uma pequena possibilidade de aprovarem o resultado desta minissérie.