“O Homem Invisível” não pode ser visto, mas sua presença é sentida – temida, tanto pela protagonista quanto pelo público desde os primeiros segundos de filme.

O Homem Invisível, junto com outros personagens clássicos como o Dracula e o Frankenstein, é um dos monstros do Dark Universe da Universal. Em 2017 chegou-se a cogitar, inclusive, que uma nova versão desse universo compartilhado seria produzida, mas após o fracasso de bilheteria do remake de “A Múmia” estrelado por Tom Cruise, fez essa ideia ser abandonada. Ao invés, O Homem Invisível ganhou uma nova versão isolada, dirigida por Leigh Whannell.

Enquanto o clássico é muito mais um filme de ficção científica, contando a história de um homem que encontra uma fórmula para ficar invisível e, por conta da invisibilidade e da química, seu cérebro é afetado e ele passa a fazer coisas horríveis, a releitura de Whannell é muito mais assustadora.

A trama começa com Cecilia (Elisabeth Moss) numa fuga claramente bem elaborada da casa que divide com seu marido. Só esse começo já te faz prender a respiração e deixa bem claro de que tipo de homem ela está fugindo. Cecilia consegue escapar, por pouco, e se refugia na casa de seu amigo James (Aldis Hodge) que mora com sua filha Sydney (Storm Reid). Mesmo dias depois do episódio e sem ouvir notícias do marido, Cecilia segue tão apavorada que não consegue pisar para fora de casa, até que recebe uma visita de sua irmã Emily (Harriet Dyer) informando que seu abusador havia se suicidado.

Tecnicamente, a morte de Adrian (Oliver Jackson-Cohen) deveria significar liberdade para Cecilia, mas foi só o começo do pior tipo de abuso que ela enfrentaria. Até esse momento do longa, Adrian só aparece uma vez e de relance. Apesar de não haver um rosto a temer, o pânico sentido por Cecilia transborda à toda cena. A parte mais assustadora é, sem dúvidas, o quanto o modo escolhido por ele para aterrorizá-la é real. Adrian começa com coisas pequenas, um objeto fora do lugar, um fogo mais alto no fogão, mas o suficiente para fazê-la começar a desconfiar: primeiro de sua própria sanidade e depois que seu marido continuava vivo.

Após alguns episódios, Cecilia chega à conclusão de que seu marido não estava morto e sim que encontrara uma maneira de se fazer invisível. Adrian era um gênio da área de óptica, mas isso não foi o suficiente para que as outras pessoas acreditassem nela e logo ela era tachada de louca e mentalmente desequilibrada.

Qualquer pessoa que já tenha passado ou que conheça alguém que passou por um relacionamento abusivo vai conseguir identificar os sinais claros de gaslighting e obsessão por controle de Adrian, que descobriu uma forma de ficar invisível e, apesar de todas as utilidades e benefícios que isso poderia lhe trazer, usou essa vantagem para seguir torturando e controlando a vida de Cecilia. Todas as suas ações têm como objetivo desqualificar a mulher, fazer com que ela seja vista como louca e afastá-la de todas as pessoas com quem ela tinha algum tipo de intimidade.

É impossível assistir ao longa sem procurar incessantemente por cada detalhe em cada cena que possa demonstrar que o homem invisível está por lá. Com poucos sustos clássicos de filmes de terror, O Homem Invisível aterroriza pelo suspense, pela sensação de estar sendo observado por um inimigo que você não pode ver e faz isso com maestria e tensão é presente em todos os momentos.

A grande estrela do filme é Elisabeth Moss, e não poderia ser diferente. A protagonista de uma das melhores séries do momento, O Conto da Aia (Handmaid’s Tale), entrega uma performance espetacular, capaz de transparecer o desespero de uma vítima de abuso e depois a resiliência e determinação em provar que estava certa o tempo todo e, assim como em O Conto da Aia, as cenas em que Moss é capaz de demonstrar todo tipo de emoção enquanto encara a câmera também estão presentes e são alguns dos pontos altos do filme.

O Homem Invisível é assustador, envolvente e vai te deixar ansioso do começo ao fim. Não é um filme de terror com monstros e espíritos. Seu vilão é real e a história por trás além de atual é profunda e perspicaz, além disso, a conclusão do filme certamente agrada, além de surpreender.

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