“O Legado de Júpiter” é a primeira adaptação do trabalho de Mark Millar feita pela Netflix para criar seu próprio universo de super-heróis. Em 2017, a plataforma de streaming comprou a Millarworld, editora de quadrinhos de Millar.
A série é sobre os primeiros super-heróis, suas famílias e o papel desses heróis na sociedade atual. A União é a Liga da Justiça desse universo, liderada por Utópico (Josh Duhamel) e sua esposa, Lady Liberdade (Leslie Bibb), eles trabalham combatendo o crime e para isso seguem à risca O Código, um código de conduta que, resumidamente, estabelece que os heróis não devem governar e nem matar, mas esse Código existe desde o surgimento da União na década de 30 e os tempos estão mudando e seus filhos, também heróis, sãos os que mais sentem as consequências dessas mudanças.
Além da trama nos dias atuais, temos também a história em flashbacks, que conta a origem dos superpoderes dos primeiros membros da União, começando com a morte do pai de Sheldon Sampson (futuro Utópico) que desencadeia uma série de acontecimentos estranhos com Sheldon.
As duas tramas andam paralelamente durante toda a temporada, mas nenhuma delas chega a ser desenvolvida completamente de forma satisfatória. A história tem potencial, os personagens são interessantes, apesar de não serem muito cativantes, e os desafios enfrentados pelos super-heróis são provocativos e polêmicos. Seguindo a mesma linha do Batman, os membros da União são veementemente contra a execução dos vilões, independente de quantas vidas eles já tenham tirado, mas as novas gerações e 78% da população dos Estados Unidos já não concordam mais com esse posicionamento e tudo piora quando Brandon, filho de Utópico e Lady Liberdade, acaba matando um vilão para salvar a vida de seus pais.
No primeiro episódio a impressão é de que “O Legado de Júpiter” seguiria o mesmo caminho de séries como “The Boys” e agora “Invincible”, por conta da relação disfuncional da família de super-heróis. Sheldon sempre colocou seu papel como herói à frente de seu papel como pai e cobra seu filho Brandon a todo momento para que o jovem consiga ocupar seu lugar no futuro, já Chloe, a filha do casal, não aguentou a pressão e abandou a vida de super-heroína para viver uma vida de celebridade, regada a drogas, festas e bebida. A mãe, Grace, é a cola que mantém a família unida, mas também começa a mostrar sinais de discordância com os ideais de Sheldon. Apesar da temática de super-heróis que não se comportam como aqueles clássicos, a série não consegue fazer algo realmente inovador, e não tem qualquer traço de comédia ou alívio cômico durante seus episódios.
A história de origem também tem pontos interessantes, mas por ter se arrastado durante todos os episódios, ficamos com uma impressão de que essa foi uma temporada introdutória, sem ter desenvolvido um enredo específico, mas sim apresentado quem são os “mocinhos” e quem são os vilões, com algumas reviravoltas inesperadas.
Além do núcleo principal, os outros supers também chamam atenção, principalmente Walter (Bem Daniels), irmão mais velho de Sheldon e que nem sempre concorda com ele e Hutchence (Matt Lanter), que aparece na história de origem como um riquinho playboy melhor amigo de Sheldon no passado, mas que acabou se tornando um supervilão no futuro. Vilões jovens também são apresentados, mas pouco desenvolvidos.
O ritmo da série vai acelerando conforme os episódios avançam, mas demora um pouco para prender o espectador. A expectativa é que uma segunda temporada estabeleça um enredo além das relações pessoais dos heróis e que a questão política e moral receba um destaque maior e consiga colocar o universo de “O Legado de Júpiter” na mira dos fãs das histórias de heróis.