“O Nome da Morte” conta a história da vida e das mortes de um matador de aluguel

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O Nome da Morte é um filme adaptado do livro, vencedor do prêmio Jabuti em 2006, de mesmo nome escrito pelo jornalista Klester Cavalcanti, o qual conta a história real de Júlio Santana, um matador de aluguel com quase 500 mortes no currículo.

Julio (Marco Pigossi) é um garoto pobre que é convencido pelo seu tio Cícero (André Mattos) a ir morar com ele para começar a trabalhar na polícia, porém seu tio logo mostra que na verdade seu trabalho é matar por dinheiro.

Klester Cavalcanti conheceu Júlio enquanto realizava uma reportagem sobre trabalho escravo na Amazônia em 1999, ao questionar o porque dos escravos não fugirem da fazenda, ele foi informado que era muito comum os fazendeiros contratarem pistoleiros para matar algum membro da família de qualquer um que tentasse fugir, passando a mensagem de que se o escravo não voltasse para a fazenda, sua família iria continuar sendo morta, um integrante por vez.

Surgiu então um interesse em ir mais a fundo na questão dos pistoleiros, Klester entrou em contato com Júlio por telefone, o contato lhe foi entregue por um policial federal, o qual, como conta Klester, lhe passou o telefone de um matador de aluguel que estava livre com a maior naturalidade do mundo, então os dois passaram a se falar uma vez por mês durante sete anos, até que em 2006 Júlio concordou em encontra-lo pessoalmente, e permitiu que seu nome real e os nomes reais dos mandantes e vitimas dos crimes fossem divulgados no livro.

O que era para ser uma reportagem, se tornou um livro e agora um filme com direção e roteiro de Henrique Goldman, conhecido pelo seu trabalho em “Jean Charles”, de 2009, filme também baseado em uma história real.

O longa acompanha Júlio e o processo da sua transformação em um pistoleiro com 492 mortes e apenas uma noite na prisão, após ser convencido por seu tio Cicero que aquilo não passava de um trabalho como qualquer um, Júlio engrena de vez na profissão, mas apesar de passar a tratar o trabalho com mais naturalidade o conflito interno sobre o certo e o errado nunca deixa de existir.

A história é contada através de saltos temporais com números na tela que marcam o número de mortes, todas anotadas em um caderno que Júlio escondia dentro de uma mochila, esses muitos saltos no tempo são uma forma de mostrar a transformação do protagonista de uma maneira simples, porém fazem com que essa transformação de um menino ingênuo e pobre a um exímio matador seja retratada muito rapidamente.

Durante um de seus trabalhos, Júlio conhece Maria (Fabiula Nascimento) pela qual se apaixona imediatamente, os dois acabam se casando e tem um filho, então agora ele passa a ter mais uma preocupação, esconder de sua família sua verdadeira ocupação, ele sai de casa todo dia usando uma farda, presente de um dos amigos de seu tio, que segundo o mesmo era a melhor maneira de passar despercebido, você sai e entra de farda todo dia e ninguém percebe nada, diz Cicero ao sobrinho.

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Após a introdução de Maria à narrativa um outro lado do pistoleiro passa a ser exibido, o bom pai, marido carinhoso e homem temente a Deus, porém constantemente o publico é lembrado do que esse homem de família faz como trabalho, Júlio é ao mesmo tempo vilão e mocinho, um anti-herói que poderia estar presente em tramas hollywoodianas de gângsteres.

O filme trata de uma questão ainda muito presente e muito importante, e que não ocorre somente no interior do Brasil, onde ele se passa, que é a violência como transação comercial, o uso indiscriminado de matadores como meio de resolver questões políticas, e a impunidade tão comum destes atos tão chocantes.

Porém o longa se preocupa mais em mostrar as questões acerca da vida pessoal de Júlio e o suspense que precede a morte de suas vítimas e acaba retratando de uma forma rasa uma história tão interessante e rica em denúncias, segundo Cavalcanti ao menos 100 das mortes foram consequência de conflito de terra, encomendadas por fazendeiros, políticos e madeireiros.

Segundo o diretor Henrique Goldman, o longa é sobre “até onde vai a responsabilidade da sociedade e onde começa a responsabilidade do indivíduo, que são linhas que muitas vezes de confundem”.

Para o ator Marco Pigossi, que interpreta Júlio, o filme é uma denuncia da falta de educação e cultura, responsáveis por deixar as pessoas suscetíveis a manipulação, Júlio é fruto do meio em que vive, e suas escolhas são também consequência das escolhas da sociedade, mas o ator deixa claro que não o considera uma vítima que possa justificar suas escolhas em função das suas dificuldades. “Eu condeno tudo o que ele fez, ele é uma vítima de uma falta de consumo de cultura, de educação, de perspectiva”, afirma.

Fabiula Nascimento, irrepreensível como Maria, a esposa de Júlio, afirma que o difícil foi não julgar sua personagem, que por fim acaba compactuando com as ações do marido, passando por cima de todas as suas crenças, atitude que segundo a atriz não tem como ser defendida.

Para o autor do livro no qual o longa se baseia, Klester Cavalcanti, os atores Marco Pigossi e Fabiula Nascimento conseguiram transmitir com perfeição a essência de seus personagens, mesmo que o filme não retrate exatamente como os fatos ocorreram, os principais elementos para contar a história estão presentes.

“O Nome da Morte” é um filme que conta uma história muito interessante, com ótimas interpretações, principalmente se tratando de André Mattos como Cícero, porém poderia ter muito mais a oferecer, principalmente porque tem como base um material tão rico.

Abaixo, confira a nossa entrevista com os protagonistas e com o diretor do longa:

 

 

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