‘Maggie conhece John. O caso começa. Uma mudança no coração. Maggie tem um plano’.
Maggie (Greta Gerwig) é uma professora que planeja ter um bebê por meio de inseminação artificial e cuidar dele como mãe solteira, já que nenhum relacionamento seu dura mais de seis meses. Mas seus planos começam a mudar quando conhece John Harding (Ethan Hawke), um novo colega de trabalho que ensina antropologia e está escrevendo um livro. Ao passo que os dois vão se conhecendo, uma atração mútua vai crescendo até que ambos começam um caso. A partir daí os planos de Maggie mudam e uma série de confusões está prestes a acontecer. A direção e o roteiro são de Rebecca Miller, que já dirigiu alguns dramas interessantes como ‘Personal Velocity’ e ‘The Ballad of Jack and Rose’ – este último com seu marido Daniel Day-Lewis e Catherine Keener. Como praticamente todos os seus filmes são focados na complexidade dos relacionamentos e com protagonistas do sexo feminino, ‘O Plano de Maggie’ não chega a ser uma grande novidade para a diretora, a não ser pelo fato de aqui haver um tom muito mais bem-humorado e divertido.
O filme é de certa forma bastante inspirado na obra ‘Sonhos de Uma Noite de Verão’ de Shakespeare, onde há uma espécie de quarteto amoroso entre Hérmia, Lisandro, Demétrio e Helena. Em ‘O Plano de Maggie’, obviamente são feitos alguns ajustes de contexto e de época (assim como a comédia adolescente ‘Volta por Cima’), mas entre muitas confusões (características do gênero) e sentimentos conflitantes, a protagonista recebe uma carga dramática maior por ter que resolver seu conflito interior precisando tomar decisões maduras e importantes desde pequena, mesmo ainda não estando pronta para isso. Sendo assim, seus relacionamentos acabam sofrendo pelo fato de ela sempre ter sido muito independente e dedicar sua energia em outras áreas da vida. Completam o elenco Travis Fimmel como Guy (o doador de esperma), Julianne Moore (como a esposa de John), e os sempre ótimos comediantes Bill Hader e Maya Rudolph (amigos de Maggie). Convém lembrar que Greta Gerwig revive como Maggie muito do que já fez em outras personagens ‘maluquinhas’ e meio desajustadas, como nos filmes ‘Frances Ha’ e ‘Mistress America’.
O roteiro do filme é algo difícil de avaliar ‘friamente’, basicamente por dois motivos: a) por hora ele é confuso, mas reflete a própria personalidade da protagonista que planeja e pensa querer alguma coisa, mas quando o plano não dá certo ou ela descobre que não era aquilo o que queria, acaba buscando um novo rumo. E b), em alguns momentos o filme tem a capacidade de surpreender o espectador ou ao menos deixar uma sensação de incerteza pelo que vai acontecer, mas por outro lado, muito dos conflitos e até algumas cenas despertam aquela sensação de familiaridade, de ‘acho que já vi isso antes’. Se o ponto a) não é necessariamente um defeito, pois acaba tendo uma função narrativa, o ponto b) pode incomodar bastante algumas pessoas – especialmente as que não morrem de amores pelos clichês de comédias românticas. Para equilibrar as coisas, por sorte o filme conta com a presença de Bill Hader no elenco. Vivendo um papel coadjuvante muito semelhante ao que fez em ‘Ressaca de Amor’, é incrível como as melhores piadas e os momentos mais engraçados surgem quando o ator está em ação. E entre os percalços já esperados e manjados do subgênero, consegue tornar tudo mais interessante com seu timing cômico impecável. Após grandes trabalhos em filmes como ‘Superbad’, ‘Descompensada’ e ‘Irmãos Desastre’, por exemplo, certamente Bill é um dos melhores coadjuvantes cômicos do cinema atualmente.
Greta Gerwig também atinge muito bem seu papel dentro filme. A atriz realmente convence como uma garota comum, ás vezes decidida e ás vezes insegura, passando bastante credibilidade a sua personagem por meio de uma pureza de intenções bem honesta. Mesmo quando envolve os outros em problemas, não é por querer, assim é a vida. Aliás, o filme inteiro pode ser visto desta forma, o amor nem sempre faz sentido e muitas vezes deixa pontas soltas bagunçando a vida de muita gente. Como uma ressalva importante para o filme, nenhuma das relações amorosas parece realmente convencer, nem do quarteto principal e nem do casal de amigos de Maggie. Os únicos momentos onde uma relação parece bem plausível, surgem das brigas de casal entre Ethan Hawke e Julianne Moore, mas em aspectos de paixão e amor, o filme não consegue expressar esses sentimentos de forma efetiva. Concluindo, ‘O Plano de Maggie’ é um filme que tem momentos divertidos e se esforça muito para não ser uma comédia romântica tão previsível, mas peca pela falta de emoção e de coesão em vários momentos. Só ganha uma sobrevida extra e merece uma indicação aos amantes do gênero pelas (apesar de repetitivas) ótimas atuações de Greta Gerwig e Bill Hader.
UM MOMENTO APIMENTADO: Tony (Bill Hader) chega bêbado em casa e acaba fazendo uma grande revelação na hora errada.