O Prefeito

O novo trabalho do diretor carioca Bruno Safadi tinha tudo para ser um filme, no mínimo interessante. Tem um bom enredo, um ponto de partida original, uma fotografia bonita, uma interessante visão sobre o momento atual no Brasil e piadas que poderiam funcionar. Tinha tudo, verdade. Seu erro talvez tenha sido na escolha de seu intérprete para viver seu protagonista, o personagem-título. É notável que Nizo Neto, conhecido por dublar famosos personagens em TVs, filmes e séries (e também se meter a fazer “stund up”), se esforce para dar a vida que seu personagem tanto necessita. Mas, tal esforço fica escondido por trás de uma atuação morna e apática pois seu desempenho não ajuda o filme a tomar seu rumo.

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O roteiro tem um desenvolvimento engenhoso e reflexivo, permitindo que o espectador tire suas próprias conclusões. Porém sua proposta não desenvolve os delírios do prefeito de maneira como se esperava. Seu gênero é comédia (que embora seja concentrada no choque entre a observação, do jeito subterfúgio do prefeito tentar fugir de seus compromissos, e sua maneira de querer crescer sua cidade maravilhosa), e no filme inteiro se sente falta do humor e densidade, desperdiçando por completo o material de uma produção, por aparentar ser arrastada. Porém, o contato com a plateia é constante e torna-se um pouco claustrofóbico, pois parece um pesadelo que não termina por causa da narrativa.

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Filmado quase todo sob as ruínas do viaduto do Elevado da Perimetral na cidade maravilhosa (onde a última parte foi demolida em 2014), ‘O Prefeito’ não tem um tom patriota, mas, tem um enorme vigor histórico – os destroços servem como um palácio ministerial. O prefeito – sem nome – tem um plano um tanto inusitado para a cidade: planeja separá-la do Brasil (isso mesmo, torná-lo um estado independente do país). Com um traje nada convencional, de um verdadeiro líder político, ele age, conversa e interage com outros governantes (inclusive com a presidenta) e possui trejeitos de um estadista picareta e corrupto. A ousadia do prefeito é compatível com o roteiro, (acredite) ilustre, que por vezes perde sua essência quando insere um pouco de romantismo.

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‘O Prefeito’ tem enquadramentos em planos abertos, bem interessantes, assim como os planos médios e fechados em que flagra um sujeito presunçoso e que gosta de ver seu gabinete organizado ajustando ele mesmo para que fique do seu agrado, enquanto planeja como fazer do Rio de Janeiro a melhor cidade do Brasil, mesmo fora dele. Nisso, não se sabe de fato, qual o verdadeiro objetivo do longa, se é fazer uma leve crítica, mas que também não compra briga, ou defender algum partido, levando em consideração uma aparição de uma bandeira do partido da república atual do Brasil. É aí que o espectador tira suas conclusões por se tratar de uma trama complexa. Talvez funcione melhor daqui alguns anos, por que a natureza do seu tema, não intercala o teor de sua ”tragicomédia” mesmo se tratando de uma pomposa ideia, de fazer maledicências e de se assumir um cargo para defender os direitos do povo.

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