“É uma comédia de gente muito torta”, diz diretor de ‘O Roubo da Taça’.
Em um momento com tantas comédias em tom televisivo, ‘O Roubo da Taça’ traz uma proposta diferente para narrar o golpe que causou o desaparecimento da Taça Jules Rimet, que o Brasil ganhou ao conquistar a Copa de 1970. O longa compete no Festival de Gramado.
Quem arquiteta o plano criminoso é Peralta, “o puro carioca que acha que pode ficar rico com uma jogada”, nas palavras do ator Paulo Tiefenthaler (A Noite da Virada). “Para mim, o Peralta fecha um ciclo que começou com Larica Total”, relatou Paulo sobre um tom de interpretação que lhe é requisitado. “Se eu deixar solto, vai ficar só isso e não me interessa”.
“No Larica Total, tive a oportunidade desde o princípio de ser eu mesmo. Eu desenvolvi uma relação com a câmera, ter uma noção de profundidade e enquadramento, para poder improvisar muito. No filme não dá para improvisar tanto porque o texto é muito bom”.
A escolha do protagonista influenciou o humor de ‘O Roubo da Taça’. “Conheço Paulo há vinte anos e temos intimidade. Já tinha sacado o jeito dele em cena, então pensei o filme para isso e puxei o tom para cima, alguns degraus acima da realidade”, comentou o diretor. “Nunca busquei um realismo, procurei um tom mais difícil de segurar em um filme inteiro.”
Por outro lado, o roteiro partiu de extensa pesquisa histórica. “A gente dissecou tudo que saiu no jornal na época. A história real é um pouco mais enrolada, com mais episódios”, conta Ortiz. “Aos poucos a gente conseguiu se libertar para escrever um roteiro sólido. O que tem de mais maluco no filme é o que aconteceu de verdade.”
Nessa preocupação com autenticidade temporal, vieram à tona algumas posturas que hoje não consideradas inaceitáveis. “Quando a gente começou a tatear os anos 80, foi uma memória muito emotiva. Na época, as mulheres eram as gostosas e os homens ficavam sentados tomando cerveja”, explica o cineasta. “O mundo evoluiu, mas tínhamos que voltar lá para o filme.”