“Paixões Unidas / United Passions” (2015) é um longa-metragem sobre a história da FIFA (Fédération Internationale de Football Association), produzido na França e exibido no Festival de Cannes em sua seleção oficial de 2015. O filme ainda não tem previsão de estreia no Brasil, mas já vem envolto em uma curiosa aura cômica, por causa dos recentes escândalos denunciados pelos EUA, acerca das inúmeras irregularidades que envolvem muitos membros da Federação Internacional de Futebol. Apesar de ter algumas poucas qualidades, a produção que foi em parte financiada pela própria entidade, não oferece muito mais do que quase duas horas de uma propaganda dispendiosa pró-Fifa, nem um pouco imparcial e nada desinteressada, sobre os mais de cento e dez anos da controversa crônica da organização.
O elenco conta com Gérard Depardieu (Jules Rimet), Sam Neill (Joao Havelange), Tim Roth (Sepp Blatter) e é dirigido pelo francês Frédéric Auburtin, que já havia trabalhado com Gérard em “Uma Ponte entre Dois Rios” (1999/França). Apesar de contar com atores qualificados, eles não parecem estar à vontade em seus papeis, ainda que existam raros bons momentos, principalmente de Depardieu, que consegue transmitir alguma dramaticidade ao seu personagem. Mas, no geral, são todos muito estereotipados e Sam Neill causa muito estranhamento, especialmente para o expectador brasileiro, tentando encarnar o ex-presidente da FIFA (que dirigiu a instituição por um período de vinte e quatro anos), João Havelange. Se um ator brasileiro tivesse interpretado Havelange, não teria melhorado a representação da figura histórica, mas seria um pouco menos estranho de se ver.
Apesar de o filme apresentar belos figurinos e caracterização, que ajudam a situar a narrativa em suas épocas, a fotografia saturada de efeitos gráficos não consegue sustentar uma sensação de realidade. O cenário que abusa do uso do “CGI” e “Chroma key”, para tentar esconder imperfeições, deixa tudo muito artificial e nos distrai o tempo todo, por culpa da sensação de falsidade. A seleção de trilha sonora, que acompanha a maioria das inserções de imagens históricas ajuda em alguns momentos, mas fica longe de empolgar e estabelecer um ritmo marcante. Além disso, em muitas cenas é utilizada de forma erroneamente grandiloquente e exultante, tentando forçar um drama que nem sempre combina com a sensação do espectador.
As bilheterias de ‘United Passions’ confirmam seu fracasso já anunciado desde seu início de produção. Ele recebeu financiamento, de uma quantia em torno de vinte milhões de dólares, da própria Fifa o que compromete sua narrativa, praticamente impedindo que se conte uma história idônea e imparcial. Mesmo tendo sido selecionado pelo festival de Cannes, arrecadou apenas duzentos mil dólares em suas primeiras exibições na Europa. O golpe final foi em seu final de semana de estreia nos Estados Unidos, onde arrecadou menos de setecentos dólares nos dois primeiros dias, chegando a ter uma sessão com apenas um pagante em uma das vinte salas em que foi exibido. Com as recentes denúncias de desvios de dinheiro e outros esquemas ilícitos relacionados à associação, muitos veículos de informação ficaram atentos, a como isso afetaria o desempenho financeiro do longa e agora se sabe que o resultado foi desastroso. Difícil ter certeza se ele teria melhores chances, se fosse lançado em outra época, mas pondo as polêmicas de lado e analisando-o como obra cinematográfica, suas falhas técnicas indicam que dificilmente pagaria seu próprio custo.
O mais interessante é quando se pensa nas relações da criação do longa com a própria história da FIFA. Não é de agora que se tem acusado a instituição de esconder as mais diversas irregularidades, mas neste ano surgiram as primeiras evidências mais contundentes. O próprio filme faz referências às desconfianças mais antigas sobre a sua administração, de forma muito superficial, mas sempre isentando Blatter de qualquer responsabilidade e transformando-o em um bastião da ética. E a maior representação de falta de escrúpulos, é associada a figura de João Havelange ou aos membros mais desconhecidos e que nunca são nomeados na narrativa. Ao assisti-lo sabendo das recentes denúncias, fica a sensação de que a produção audiovisual, foi pensada desde seu início, como uma forma de criar uma boa imagem da organização para a opinião pública.
As únicas partes do filme que merecem uma menção, são os momentos em que são inseridas imagens de arquivos, de diferentes edições das Copas do Mundo de Futebol e algumas encenações das partidas. Destaque para as cenas que reconstituem a partida final da Copa de 50, trecho com atores brasileiros desconhecidos e falado em português. Ele consegue recriar o sentimento do público, que já dava o jogo como ganho, utilizando o momento em que Jules Rimet (Depardieu), se desloca pelo túnel de acesso ao campo, crente de que entregaria a taça para a seleção brasileira, e pouco tempo depois, quando chegou ao gramado, o resultado era outro. Nestes momentos o longa-metragem consegue ganhar um mínimo de qualidade que justificam sua existência, mas mesmo assim, não consegue sair de um nível mediano, constituindo-se como um entretenimento que deve ser assistido em casa, pois não compensa uma ida ao cinema.
Trailer do Filme: