Durante o domínio alemão na Segunda Guerra Mundial, o filme conta a história de três pessoas de origens e posições bem diferentes, cujos destinos se cruzarão em meio a guerra. Olga (Yuliya Vysotskaya), uma aristocrata russa e defensora de judeus inocentes; Jules (Philippe Duquesne), um oficial francês que precisa servir aos interesses alemães e Helmut (Christian Clauss), um jovem oficial da SS que os alemães acreditam que pode ser o substituto de Hitler pós-guerra. A direção é do russo Andrey Konchalovsky – indicado ao Emmy e vindo de uma família extremamente talentosa, irmão do diretor Nikita Mikhalkov e filho do poeta Sergey Mikhalkov – que dirigiu aqui no ocidente o filme ‘Tango e Cash: Os Vingadores’, com Sylvester Stallone e Kurt Russell. Porém, seu novo projeto ‘Paraíso’ é bem diferente, retratando talvez o episódio mais obscuro da humanidade sob vários ângulos diferentes.
A recriação da época é bem fiel e soa muito plausível na tela. O filme frequentemente alterna a história com entrevistas dos três personagens principais explicando qual foi o seu papel durante a guerra, como se fosse um interrogatório. Konchalovsky – que coescreveu o roteiro – dirige de forma bem paciente, apresentando os personagens principais gradativamente ao longo do filme para que o espectador possa conhecer e compreender separadamente a história de cada um deles. Em ‘Paraíso’, o diretor retoma a parceria com uma de suas atrizes favoritas (Vysotskaya, em atuação impecável e tocante), como fizeram no elogiado filme para a TV ‘The Lion in Winter’ (com Glenn Close e Patrick Stewart).
O filme é eficiente em mostrar a complexidade em ter que seguir ordens na guerra e como cada um reage moralmente a essa situação. O título do filme se refere a ideia dos alemães de reconstruírem o mundo o tornando ‘ideal’, um verdadeiro paraíso. Além de mostrar os dois lados da aristocracia (não importa o quão nobre você é se estiver do lado ‘errado’ da guerra), há diálogos bem interessantes, como o encontro de Helmut com Gimmler no qual este último explica que ‘guerras vêm e vão, o que fica é o vasto valor cultural deixado’. Uma frase extremamente ambígua, mas que não deixa de ser verdadeira e assustadora. Como de costume em filmes sobre o holocausto, é claro que há momentos impactantes e desumanos, mas em momento algum parece haver uma manipulação deliberada de Konchalovsky para comover o espectador, ao invés disto, ele confia na maturidade do público para ‘julgar’ as ações dos personagens.
A fotografia de Aleksandr Simonov merece destaque por seu excepcional trabalho de iluminação e utilização de sombras – como na cena do anel entre Gimmler e Helmut. Como mencionei, a reconstrução da época é impressionante, desde os uniformes do figurino, passando por carros, que ganham ainda mais força aliados à exibição em preto-e-branca em alguns momentos. Todo esse esmero técnico contribui muito para uma direção mais segura de Konchalovsky, pois mesmo retomando um assunto já extremamente desgastado no cinema (a Segunda Guerra) e passando pelos inevitáveis clichês, como a dura realidade dos abusos de superiores e condições desumanas, o filme ainda consegue ter sua identidade própria e ser relevante.
OPINIÃO FINAL: Apesar de não ter nenhum momento tão marcante e memorável, ‘Paraíso’ ainda é um bom drama de guerra que merece ser visto pela crueza com a qual é apresentado. Em certo momento, há a introdução de um romance que parece não ter encaixado bem na história, mas é inegável que o filme ao menos expande a discussão sobre a motivação absurda dos alemães em construírem um mundo que fosse apenas o seu ‘ideal’. Mesmo com um ritmo lento e cansativo, a direção de Konchalovsky é agradável de assistir, seus enquadramentos acomodam bem os personagens nos cenários, nossos olhos podem passear pelo ambiente e observar seus gestos e posturas, além dos closes nos rostos dos personagens durante as entrevistas (bem ao estilo Dreyer de direção), que nos permitem ver todas as nuances das ótimas atuações do elenco. Um filme que mostra o lado frio da administração do holocausto durante um momento critico da guerra em 1942 e como isso afetava a vidas dos envolvidos de maneira irreversível.
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