Em 9 de abril de 2019 foi ao ar o último episódio da segunda e última temporada de “A Garota da Moto”, série do SBT que contava a história de Joana, uma mulher que teve de fugir para São Paulo com seu filho Nico, pois a família rica de um antigo amante julgavam o garoto uma ameaça para os herdeiros da fortuna. Na nova cidade, a personagem se torna uma motogirl, uma profissão que lhe permitia sustentar sua vida com o filho e permanecer anônima nas ruas da cidade.
Dois anos e meio depois, chega aos cinemas o filme homônimo que dá sequência à série. Pouco tempo depois dos eventos da segunda temporada, Joana (agora interpretada por Maria Casadevall) está mais segura com o filho, mas não consegue deixar seu senso de moral adormecido. Depois de presenciar uma operação criminosa com trabalhadoras escravizadas, a protagonista decide resolver com as próprias mãos, apenas para ser caçada pelos criminosos posteriormente.
Dessa forma, todo o filme se mantém na ideia de vingança dos criminosos contra Joana, ainda que tenham que usar seu filho Nico (interpretado por Kevin Vechiatto, muito conhecido pelo seu papel como Cebolinha) para chegar até ela.
Dando sequência aos acontecimentos da série, “Garota da Moto” tinha um grande potencial para dar certo, se tivesse se mantido mais crível e não tentado ser uma recriação barata da grande maioria de filmes de ação. A obra, muitas vezes, se vê em uma encruzilhada entre clichês sem graça e cenas de ação medíocres, surpreendentemente conseguindo seguir pelos dois caminhos sem olhar pra trás.
Dessa forma, entende-se que os problemas do filme começam justamente com o roteiro, que tenta forçar situações absurdas que arrancam do espectador qualquer noção de credibilidade para com a narrativa. É compreensível que uma moça pequena e aparentemente franzina consiga vencer homens armados com quatro vezes sua massa corporal, mas que tipo de chefe do crime faria todos os seus homens serem presos apenas para se vingar de uma civil?
Para piorar, um dos momentos do filme mais promissores, onde os bandidos adentram na escola quase vazia de Nico para caçar o garoto e sua mãe, foi banalmente apressada, jogando no lixo qualquer possibilidade de um bom entretenimento. Em uma escola enorme, com pelo menos cinco andares, o grupo composto por Joana, o filho, a professora e mais um colega com sua mãe não conseguiu se esconder por mais de três minutos de sequência de meia dúzia de homens armados.
De certo modo, parece que “Garota da Moto” subjuga seus espectadores, entregando uma obra final corrida que não se permite desfrutar da própria narrativa.
Já nos momentos finais do filme, onde Joana finalmente tem a chance de confrontar seu principal antagonista, a obra atinge o ápice de sua escrita absurda, onde a personagem crê que a mais eficiente das soluções é deixar seu filho distraindo um assassino de um lado para o outro, enquanto sobe dez andares com sua perna quebrada visando criar uma armadilha para o criminoso.
Com uma trama que mantém através do absurdo – propositalmente ou não –, a obra segue o trajeto errado e apresenta para o público um produto final cheio de clichês e cenas de ação desinteressantes. “Garota da Moto”, portanto, tinha potencial para ser muito maior e melhor do que é, porém se perde em uma narrativa preguiçosa que tenta ser um novo ícone de ação, mas que mal consegue ligar seu motor.