PERLIMPS | ANIMAÇÃO COMO MEIO PARA UMA MENSAGEM IMPORTANTE PARA TODOS OS PÚBLICOS

Num mundo predominado pela natureza, conhecemos Claé e Bruó, dois guerreiros enviados pelos seus reinos (do Sol e da Lua), que são inimigos, para a Floresta Encantada para encontrarem e protegerem os Perlimps dos gigantes. Para contar essa história, Alê Abreu (cineasta de “O Menino e o Mundo”, filme indicado ao Oscar de Melhor Animação em 2016) cria mais um universo mágico e sem muitas explicações de seu funcionamento. “Perlimps” é uma animação claramente para crianças, o que pode causar um certo quê de desconfiança por, na maior parte do tempo, parecer simples demais. Entretanto, esse obstáculo é superado com louvor num final surpreendente.

Claé e Bruó são animais humanoides, uma raposa e um urso, com grandes responsabilidades, mas ainda é evidente que são crianças, nas vozes, no comportamento. Eles começam como inimigos por causa de seus reinos, cada um insistindo que o seu modo de vida é o certo (um é levado pelo instinto, o outro pela tecnologia), mas logo percebem que apenas suas forças conjuntas podem proteger o bem que têm em comum e encontrar os Perlimps, é aí que suas histórias convergem para virar uma só.

Assim como em sua última animação, Alê Abreu sabe manter seu trabalho essencialmente brasileiro sem recorrer a elementos que podem ser mais estereotipados e ainda construindo um filme universal, a própria escolha do título é um exemplo, “Perlimps” vem de “pirilampos”, um termo para vaga-lume (que são parecidos com os Perlimps da história), mas com uma sonoridade mais acessível aos demais idiomas. O visual do filme é um show à parte para os espectadores de todas as idades, com cores vivas e uma paleta que se encaixa perfeitamente nas situações dos personagens, assim como a trilha sonora forte, mas nunca agressiva ou que chegue a roubar a atenção do desenrolar da trama.

O enredo do filme se mantém minimalista até os seus minutos finais. É possível identificar uma segunda camada mais significativa por detrás do “óbvio”, mas ela aparece em momentos escassos e não muito claros, principalmente para os mais novos. Um ponto negativo desse minimalismo é o flerte com o “entediante” quando temos, por 90% do filme, apenas os personagens de Claé e Bruó conversando e um antagonista um tanto quanto abstrato.

É difícil criar um novo trabalho quando o antecessor foi um sucesso tão grande a ponto de chegar ao Oscar, a pressão de fazer algo novo, original e melhor, mas sem abandonar por completo o que fez o primeiro ser o que foi. “Perlimps” não supera “O Menino e o Mundo”, mas é uma importante adição à sua filmografia e afirma mais uma vez que sua carreira tem o potencial para ir ainda mais longe.

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