Pressagios de Um Crime

O jovem e promissor diretor santista Afonso Poyart começou sua carreira no audiovisual trabalhando com videoclipes e vídeos publicitários, mas alcançou realmente os holofotes nacionais quando conseguiu pouco mais de 2 milhões de reais para produzir e dirigir um projeto de sua autoria, que logo se destacaria no país todo por ser um filme diferente, dinâmico e com uma linguagem bastante moderna. Com o sucesso de ‘2 Coelhos’ (2012), o diretor chamou também a atenção de Hollywood, e após estudar algumas propostas de projetos, decidiu trabalhar com os ícones Anthony Hopkins e Colin Farrell no suspense ‘Presságios de um Crime’. O filme conta a história de dois parceiros do FBI, Joe Merriweather (Jeffrey Dean Morgan) e Katherine Cowles (Abbie Cornish), que estão atrás de um serial killer bastante cuidadoso e muito inteligente. Em um determinado momento, por não conseguirem rastrear o assassino, Joe decide visitar um velho amigo, o doutor aposentado John Clancy (Anthony Hopkins), que pode ajudar a desvendar o caso graças a sua sabedoria e suas habilidades paranormais.

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“Presságios” tem todos os elementos de um “crime thriller” tradicional, emprestando um pouco de ‘Seven’ (1995), de ‘O Silêncio dos Inocentes’ (1991) – a comparação é inevitável quando vemos Hopkins sendo consultado ou ouvindo música clássica -, mas principalmente se assemelha às famigeradas séries de TV do gênero como ‘CSI’ ou ‘Criminal Minds’, ou para ser mais específico, um crossover da série ‘Prova de Crime’ com ‘O Mentalista’, por exemplo. Mas o filme tem méritos ao fazer também uma clara tentativa de tocar em assuntos controversos, como a relação morte/eutanásia e religião/ciência, por exemplo. Por mais que seja um trabalho de “entrada” do diretor brasileiro em Hollywood, principalmente no aspecto estético e técnico vemos que Poyart conseguiu imprimir – na falta de palavra melhor – sua “marca” no filme, com alguns cortes dinâmicos, close-ups buscando as emoções dos personagens e a câmera sempre trêmula, embora o próprio diretor reconheça que ainda não tem um estilo próprio que o defina, por assim dizer, já que este é apenas seu segundo longa-metragem na carreira.

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Como mencionado anteriormente, o personagem de Hopkins lembra bastante o icônico Dr. Lecter de ‘Hannibal’, mas sua sutileza e sagacidade também remetem a outro filme muito intrigante chamado ‘Um Crime de Mestre’ (2007). Mesmo aos 78 anos, é incrível como o ator magnetiza o espectador em cena, funcionando muito bem dentro do universo diegético do filme. Colin Farrell também está ótimo, e assim como o restante do elenco, faz o possível para passar plausibilidade à trama, apesar do roteiro ser bem inconsistente e esquemático, impedindo que a plateia crie empatia com os personagens. As utilizações de flashes fortes e chamativos inseridos na trama dão um tom meio “macabro” ao filme, uma decisão interessante, fazendo parecer que o filme vai flertar com o terror, mas é uma pena que isso não aconteça, até porque não era este o objetivo do filme.

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Entretanto, “Presságios” é um filme problemático e muito por conta do seu roteiro “formulaico”. Os roteiristas parecem ter “bebido” um pouco além da conta da fonte dessas séries de TV criminalísticas e acabaram fazendo uma colcha de retalhos um tanto genérica do que um bom crime thriller representa. A própria linguagem estética e sombria do filme, desde o início já mostra ao espectador que ele estará diante de um assassino serial impiedoso e psicopata. Portanto, não estamos diante de um drama no qual precisa ser gerada uma emoção ao ponto de sofrermos junto com a (s) vítima (s) – o que é uma linha muito tênue para parecer forçado ou “cafona”-, mas estamos diante de um thriller onde espectador precisa se envolver com a investigação, o método, o mistério. E isso é subdesenvolvido no filme, através de frases clichês de efeito, da excessiva utilização de interlocutores para explicar tudo o que acontece, o papo forense que parece esclarecer, mas acaba levantando mais dúvidas por não fazer tanto sentido e etc. Sabemos que há uma preocupação em explicar/mostrar pouco e correr o risco de restringir muito o grande público (que prefere uma história mais didática), mas o cinema já provou várias vezes que não é impossível conceber uma trama mais equilibrada nesse sentido.

O saldo final para o diretor brasileiro é de uma boa estreia em solo norte-americano, normalmente elas nunca são fáceis e Poyart lidou bem com a situação como um todo. A longa utilização de “travelings” de 360º que incomodam um pouco (como a cena do interrogatório), ou cenas que parecem repetitivas (como uns três arrombamentos bem parecidos), são detalhes que a prática vai levando à perfeição. ‘Presságios de um Crime’ é mais do que parece, apesar de sua real mensagem da perda de alguém querido ficar nublada perante um tom bem inconsistente entre drama e thriller. O esforço do elenco e especialmente a química entre Hopkins e Farrell funciona bem, aliado a algumas boas ideias, como o encontro no bar ou os flashes macabros, por exemplo, mas há algumas pontas soltas que são difíceis de ignorar. Fica a torcida para que faça uma boa bilheteria, é quase certo que o filme encontrará seu público e tem potencial também para fazer uma boa carreira em home vídeo. E, afinal, bate sim uma nostalgia rever o lendário Hopkins revivendo um papel muito semelhante ao que lhe rendeu um Oscar de Melhor Ator, como Hannibal Lecter. Os fãs de séries policiais acabam de ganhar a oportunidade de ver na telona quase que um episódio prolongado, com direito ainda a participação de grandes nomes do cinema.




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