A partir do dia 20 de abril acontece o 22º Festival Internacional de Documentários, “É Tudo Verdade”, no Rio de Janeiro e partir do dia 21 em São Paulo. Os documentários premiados e destaques participam a seguir de circuito de itinerâncias em Porto Alegre, do dia 3 à 7 de maio, e em Brasília, do dia 4 à 7 de maio.
A mostra conta com 7 produções nacionais inéditas no país, que estão selecionadas para a Competição Brasileira de Longas e Médias Metragens e 9, sendo 6 inéditas no Brasil, para a Competição Brasileira de Curtas Metragens. Também participam da Competição Internacional de Longas e Médias Metragens 12 documentários inéditos no país, e da Competição Internacional de Curtas Metragens, 9 títulos igualmente aqui inéditos. E pela primeira vez, o festival apresenta uma Competição de Longas Latino Americanos, com 7 produções.
O festival qualifica os curtas vencedores para inscrição direta junto a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood visando a disputa do Oscar de melhor documentário de curta-metragem.
As novidades dessa edição ficam por conta dos 82 títulos de 30 países, sendo 16 estreias mundiais. Retrospectiva Internacional sobre as produções soviéticas, agora 2017 é o centenário das revoluções de 1917. Retrospectiva Brasileira homenageia Sergio Muniz. Uma nova competição premia longas latino americanos. E haverá sessões especiais homenageando os cineastas Alexandre O. Philippe, Andrea Tonacci, Bill Morrison, Jean Rouch, João Moreira Salles e Raed Andoni.
Tudo isso de graça.
Sessão de abertura:
São Paulo: “Cidade de Fantasmas”, de Matthew Heineman (2016)
Rio de Janeiro: “Eu, Meu Pai e os Cariocas – 70 Anos de Música no Brasil”, de Lúcia Veríssimo (2017)
Competição Brasileira: Longas ou Médias Metragens:
“A Terceira Margem”, de Fabian Remy (2016)
“Cidade de Fantasmas”
“Em um Mundo Interior”, de Flavio Frederico e Mariana Pamplona (2017)
“Maria – Não Esqueça que Eu Venho dos Trópicos”, de Francisco C. Martins (2017)
“Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas”, de Sandra Werneck (2017)
“Quem é Primavera das Neves”, de Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado (2017)
“Tudo é Irrelevante. Helio Jaguaribe”, de Izabel Jaguaribe e Ernesto Baldan (2017)
“A Terceira Margem”, de Fabian Remy (2016)
Competição Internacional: Longas ou Médias Metragens:
“A Copa dos Trabalhadores”, de Adam Sobel (2017)
“A Prisão em 12 Paisagens”, de Brett Story (2016)
“Abacus: Pequeno o Bastante para Condenar”, de Steve James (2016)
“Comunhão”, de Anna Zamecka (2016)
“Luz Obscura”, de Susana de Sousa Dias (2017)
“No Exílio: Um Filme de Família”, de Juan Francisco Urrusti (2016)
“No Tempo que Chegará”, de Tan Pin Pin (2017)
“O Show da Guerra”, de Andreas Dalsgaard e Obaidah Zytoon (2016)
“Paris é uma Festa”, de Sylvain George (2017)
“Perón, Meu Pai e Eu”, de Blas Eloy Martínez (2017)
“Relações Próximas”, de Vitaly Mansky (2016)
“Uma Vida Alemã”, de Christian Krones, Olaf Muller, Roland Schrotthofer e Florian Weigensamer (2016)
Competição Brasileira: Curta Metragem:
“A Lembrança que eu Gosto de Ter”, de Filipe Carvalho (2017)
“Benção”, de Guilherme Reis e Marcelo Reis (2016)
“Boca de Fogo”, de Luciano Pérez Fernández (2017)
“Candeias”, de Reginaldo Farias e Ythallo Rodrigues (2016)
“Cópia Própria”, de Ian Schuler (2017)
“Festejo Muito Pessoal”, de Carlos Adriano (2016)
“Improviso Ambulante”, de Leandro Aragão (2017)
“Manual”, de Letícia Simões (2016)
“Se Você Contar”, de Roberta Fernandes (2017)
Competição Internacional: Curta Metragem:
“A Sibéria Não é Tão Gélida”, de Isabel Coixet (2016)
“Casa à Venda”, de Emanuel Giraldo (2016)
“O Acervo”, de Adam Roffman (2016)
“O Cuidador”, de Joost Van Der Wiel (2016)
“Olhos nos Olhos”, de Angelo Caperna (2016)
“Polonesa”, de Agnieszka Elbanowska (2016)
“Radiovisão”, de Gregor Zupanc, Igor Simić, Jelena Milunovic, Miloš Tomić (2016)
“Spielfeld”, de Kristina Schranz (2016)
“Territórios Extraordinários”, de Diego Lumerman (2016)
Competição de Longas Latino-Americanos:
“Atentamente”, de Camila Rodríguez Triana (2016)
“O Esquecimento (Im)possível”, de Andrés Habegger (2016)
“Rito de Passagem”, de Maite Alberdi (2016)
“Ruínas Seu Reino”, de Pablo Escoto (2016)
“Cidades Fantasmas”
“No Exílio: Um Filme de Família”
“Perón, Meu Pai e Eu”
Programa Especial:
“78/52”, de Alexandre O. Philippe (2017)
“Caçando Fantasmas”, de Raed Andoni (2017)
“Dawson City: Tempo Congelado”, de Bill Morrison (2016)
“Eu, Um Negro”, de Jean Rouch (1959)
“Já Visto, Jamais Vis”, de Andrea Tonacci (2013)
“No Intenso Agora”, de João Moreira Salles (2017)
O Estado das Coisas:
“A Batalha de Florange”, de Jean-Claude Poirson (2016)
“Cine São Paulo”, de Ricardo Martensen e Felipe Tomazelli (2017)
“Laerte-se”, de Lygia Barbosa da Silva e Eliane Brum (2017)
“Offshore – Elmer e o Sigilo Bancário Suíço”, de Werner Schweizer (2016)
“Permanecer Vivo – Um Método”, de Erik Lieshout (2016)
“Todos os Governos Mentem”, de Fred Peabody (2016)
Retrospectiva Internacional – 100: De Volta à URSS:
“Avante, Soviete!”, de Dziga Vertov (1926)
“Moscou”, de Mikhail Kaufman e Iliá Kopálin (1927)
“O Grande Caminho”, de Esfir Chub (1927)
“Sal para a Svanécia”, de Mikhail Kalatôzov (1930)
“Um Dia do Novo Mundo”, de Roman Karmén e Mikhail Slútski (1940)
“A Batalha por Nossa Ucrânia Soviética”, de Aleksándr Dovjenko e Iúlia Sôlntseva (1943)
“Diante do Julgamento da História”, de Fridrikh Ermler (1965)
“Olhe Para o Rosto”, de Pável Kogan (1968)
“O Início”, de Artavazd Peleshian (1967)
“Mais Luz!”, de Marina Babak (1987)
“O Poder de Solovkí”, de Marina Goldovskaya (1988)
“Elegia Soviética”, de Aleksándr Sokúrov (1989)
Retrospectiva Brasileira: Sergio Muniz:
“A Cuíca” (1977)
“Andiamo In‘Merica” (1978)
“Beste” (1969)
“De Raízes & Rezas, Entre Outros” (1972)
“O Berimbau” (1977)
“Rastejador, s.m” (1969)
“Roda & Outras Estórias” (1965)
“Você também pode dar um presunto legal” (1970/2006)
Projeção Especial: Homenagem a Ferreira Gullar (1930-2016):
“O Canto e a Fúria”, de Zelito Viana (1994)
“Ferreira Gullar: A Necessidade Da Arte”, de Zelito Viana (2005)
“A Arte Existe Porque A Vida Não Basta”, de Zelito Viana e Gabriela Gastal (2016)
Confira os locais e horários aqui!
Sinopses.
“Cidade de Fantasmas”: A câmera do premiado cineasta Matthew Heineman volta-se para os jornalistas ativistas do grupo Raqqais Being Slaughtered Silently (RBSS – Raqqa Está Sendo Assassinada Silenciosamente), que arriscam a vida diariamente para registrar em vídeos e fotos as atrocidades do Estado Islâmico, que tomou sua cidade, na Síria, em março de 2014, tornando-a sua “capital”.
“Eu, Meu Pai e os Cariocas – 70 Anos de Música no Brasil”: Revisita a história de Os Cariocas, um dos grupos mais importantes da música popular brasileira, pelo olhar de Lúcia Veríssimo, filha de um de seus principais expoentes, o maestro Severino Filho (1928-2016). A banda tornou-se conhecida em programas da rádio Nacional, notabilizando-se por arranjos vocais que marcaram seu estilo único.
“A Terceira Margem”: Em 1953, treze anos depois do início da célebre “Marcha para o Oeste”, os indigenistas irmãos Villas-Boas encontram, entre os índios Caiapó, o jovem João Kramura, um branco roubado de seus parentes e criado na tribo. Através do índio Funi-ô Thini-á, reconstitui-se a história de João e também a do próprio Thini-á.
“Em um Mundo Interior”: Alternando entrevistas de médicos, terapeutas e testemunhos de pais, o documentário retrata a complexidade do universo do autismo – uma disfunção neurológica que afeta a linguagem e a parte motora e, especialmente, a interação com os outros. Retratando diversos personagens, o filme cria condições para que o espectador possa compartilhar as situações.
“Maria – Não Esqueça que Eu Venho dos Trópicos”: Escultora, gravurista, pintora, desenhista e escritora, Maria Martins (1894-1973) foi uma mulher que desafiou o conformismo. Estudando escultura na Europa com Oscar Jespers, em Bruxelas, desenvolveu um talento que a aproximou do surrealismo. Depois radicada nos EUA, conhece Marcel Duchamp, com quem manteria uma ligação amorosa e artística de mútuas influências.
“Mexeu Com Uma, Mexeu Com Todas”: Reunindo depoimentos de vítimas e sobreviventes, o documentário coloca em pauta o abuso sexual. Depoentes como a farmacêutica Maria da Penha – que empresta o nome à lei de 2006 que criminaliza a violência contra a mulher –, a nadadora Joana Maranhão, a ex-modelo Luíza Brunet, a escritora Clara Averbuck e várias outras mulheres constroem suas narrativas.
“Quem é Primavera das Neves”: Em março de 2010, o cineasta Jorge Furtado escreve uma postagem em seu blog, indagando quem pode ter notícias sobre a tradutora Primavera das Neves, cujo nome o fascina. A busca o leva ao encontro deste documentário, em que é guiado por amigas de infância da tradutora, Eulalie Ligneul, e a artista plástica Anna Bella Geiger.
“Tudo é Irrelevante. Helio Jaguaribe”: Nascido no Rio de Janeiro em 1923, Helio Jaguaribe é um dos cientistas políticos mais importantes do Brasil. Pertencente a uma geração de intelectuais devotados a repensar o Brasil desde meados dos anos 1950, ele é um dos expoentes do nacional-desenvolvimentismo, que formulou teorias para um capitalismo autônomo no Brasil, apoiado na integração latino-americana.
“A Terceira Margem”: Em 1953, treze anos depois do início da célebre “Marcha para o Oeste”, os indigenistas irmãos Villas-Boas encontram, entre os índios Kaiapó, o jovem João Kramura, um branco roubado de seus parentes e criado na tribo. Através do índio Funi-ô Thini-á, reconstitui-se a história de João e também a do próprio Thini-á, que compartilha o mesmo trânsito atribulado entre dois mundos. Seguindo os passos de João, que encontra ressonância nos de Thini-á, colocam-se em cheque a ruptura da cultura indígena diante da invasão branca e a evolução dos conceitos de antropólogos e indigenistas ao longo de 60 anos.
“A Copa dos Trabalhadores”: Imigrantes asiáticos e africanos que constroem os estádios e instalações da Copa do Mundo de 2022, no Catar, participam, em 2015, de um torneio de futebol. Pensado como grande jogada de marketing pelas companhias contratantes dos operários, o evento torna-se uma oportunidade para que o documentário revele os bastidores de inacreditáveis condições de vida e de trabalho. Os operários não podem, por exemplo, deixar seus alojamentos sem permissão, muito menos trocar de emprego ou deixar o país. A maioria deles não vê a família há anos e enfrenta jornadas frequentemente denunciadas como inseguras e arriscadas, transformando-os em virtuais escravos em pleno século 21.
“A Prisão em Doze Paisagens”: Recorrendo a situações filmadas em diversas regiões dos EUA, a cineasta canadense Brett Story compõe uma instigante reflexão sobre como a atual filosofia do encarceramento em massa naquele país – hoje com 2,2 milhões de detentos – penetrou cada aspecto da vida. Ela viaja ao oeste do Kentucky, onde as oportunidades de trabalho deslocaram-se da decadente mineração de carvão para os postos em penitenciárias. Entrevista um empreendedor no Bronx que prosperou fornecendo pacotes de higiene adequados aos múltiplos regulamentos de cada prisão e, também, prisioneiras que combatem incêndios florestais na Califórnia e que temem não ter oportunidades semelhantes quando libertadas.
“Abacus: Pequeno o Bastante para Condenar”: Diretor do premiado “Basquete Blues” (1994), Steve James mergulha no singular processo da família Sung de imigrantes chineses, donos do banco Abacus Federal Savings, acusados de fraude hipotecária em 2012 pelo procurador-geral de Nova York, Cyrus Vance Jr., na esteira da grave crise financeira de 2008. Durante cinco anos, Thomas Sung, o advogado nascido em Xangai que fundou o banco em 1984, e suas três filhas, moveram uma desgastante e custosa batalha contra as autoridades, defendendo-se das acusações de envolvimento com irregularidades atribuídas a seus empregados e de recebimento de propinas.
“Comunhão”: Ola tem apenas 14 anos mas é a chefe de uma pequena família disfuncional. Cuida de um pai destituído de senso de realidade, que só pensa em TV e cerveja, e de um irmão autista de 13 anos, Nikodem. A mãe vive com outro homem e um bebê. Ainda assim, Ola acredita que ainda pode reunir sua família dividida. Conta, para isso, com a iminência da primeira comunhão de Nikodem, evento cuja preparação, como tudo o mais, recai apenas sobre seus ombros. Dirigido pela estreante Anna Zamecka, o filme acompanha com notável sensibilidade o processo de amadurecimento da adolescente, forçada a abandonar ilusões, mas recusando abrir mão de todos os seus sonhos.
“Luz Obscura”: Assim como os filmes anteriores da diretora Susana de Sousa Dias, “Natureza Morta” (2005) e “48” (2010), a origem deste documentário encontra-se nos arquivos da PIDE, a poderosa polícia política portuguesa, que atuou de 1926 a 1974. Aqui, o ponto de partida é a fotografia de uma mulher com um bebê no colo, o que conduz a uma investigação sobre os familiares de Octavio Pato. Neste processo, a cineasta se lança em um esforço de preenchimento das lacunas na memória de uma família, arrastada a uma vertiginosa desagregação depois de ter caído na rede da repressão política da ditadura de António de Oliveira Salazar.
“No Exílio: Um Filme de Família”: O cineasta Juan Francisco Urrusti resgata a memória de sua família, sobrevivente da Guerra Civil Espanhola e que se refugiou no México, em 1939. Seus pais, uma tia e os quatro avós vieram num barco de carga, o Sinaia, desfrutando, como milhares de outros exilados espanhóis, de uma acolhida calorosa numa época em que o México era governado pelo presidente esquerdista Lázaro Cárdenas. Recorrendo a entrevistas gravadas com os parentes, além de materiais de arquivo, o diretor retraça este percurso familiar em que seus ancestrais tiveram que reinventar-se em função da tragédia e assinala o contexto de seus destinos pessoais dentro do quadro mais amplo daquele período da história.
“No Tempo que Chegará”: Durante as comemorações do cinquentenário da independência de Singapura, a cineasta Tan Pin Pin acompanha a preparação de uma cápsula do tempo, que conterá objetos representativos desta era para o futuro. Ao mesmo tempo, processa-se a abertura de uma antiga cápsula, revelando artefatos de uma outra época que hoje exigem esforços de interpretação, num novo contexto em que as referências do passado foram, talvez, perdidas. Ao mesmo tempo, a diretora coleta imagens do presente que configuram rituais à procura de eternizar-se. Neste processo, presente, passado e futuro parecem confundir-se, tornando indefinidas as identidades não só de um povo como de cada indivíduo.
“O Show da Guerra”: Quando a Primavera Árabe chega à Síria, em 2011, a radialista e DJ Obaidah Zytoon e seus amigos começam a filmar, com suas câmeras e celulares, os protestos que tomam as ruas. Intuitivamente e sem nenhum planejamento prévio, captam em primeira mão os acontecimentos que iriam moldar a progressiva radicalização no país, finalmente destruído por uma guerra civil até hoje sem solução. Quando, em 2013, Obaidah deixa a Síria, leva na bagagem cinco discos rígidos contendo as imagens que renderam 200 horas de material bruto, do qual ela e o co-diretor, o cineasta dinamarquês Andreas Dalsgaard, extraíram este pungente, vívido e doloroso retrato.
“Paris é uma Festa”: Em busca de traçar uma nova cartografia social de Paris, o diretor Sylvain George recorre a alguns adolescentes estrangeiros em seus percursos pelas ruas da capital francesa, após os dramáticos atentados que a sacudiram desde o final de 2015. Passam pelo crivo destes jovens discriminados, não raro invisíveis, paisagens, canções, violência de Estado, a situação de emergência, rosas brancas, a revolta, a busca de expressão, a tentativa de ocupação de um lugar nesse mundo. Olhando as imagens, o contrabaixista Nicolas Crosse propõe-se o desafio de tentar traduzir os sentimentos desses cidadãos marginalizados em música capaz de preencher as fissuras sociais.
“Perón, Meu Pai e Eu”: Autor de livros como “Santa Evita” (1996) e “O cantor de tango” (2004), o escritor e jornalista argentino Tomás Eloy Martinez realizou, há 45 anos, uma mítica entrevista com o ex-presidente Juan Domingo Perón. Depois da morte do autor, em 2010, seu filho Blas Martinez recupera as gravações. Inicia, então, um mergulho não só na história de seu país e nas visões conflitantes sobre o peronismo como também em sua própria vivência pessoal, à procura de explicações sobre seu distanciamento emocional do pai, decorrência de um período de exílio, mas também de revelações ocultas nas fitas resgatadas.
“Relações Próximas”: De maio de 2014 a maio de 2015, o cineasta Vitaly Mansky viajou por diversas regiões da Ucrânia, visitando integrantes de sua família. A partir de conversas com a mãe, o avô e tias, aos poucos ele forma um mosaico das opiniões dos moradores do país sobre os desdobramentos da grave crise política que divide a nação desde novembro de 2013, quando o governo voltou atrás de um acordo comercial com a União Europeia em favor de uma aproximação maior com a Rússia. Traça-se, assim, um amplo painel das contradições envolvendo o país e seus dilemas em torno de nacionalismo, independência e autoafirmação.
“Uma Vida Alemã”: Funcionária da máquina administrativa nazista, Brunhilde Pomsel (1911-2017) foi secretária e estenógrafa pessoal do ministro de Propaganda, Joseph Goebbels. Neste documentário despojado, em preto-e-branco, ela fala de seu trabalho, que incluía, entre outras coisas, maquiar estatísticas: aumentando o número de estupros cometidos pelo exército soviético contra mulheres alemãs e reduzindo o de soldados alemães mortos no campo de batalha. Apesar disso, ela nega qualquer sentimento de culpa. Com impressionante lucidez e sinceridade, ela se torna um símbolo da maioria silenciosa que, com sua passividade, permitiu a ocorrência de uma das maiores tragédias da história da humanidade.
“A Lembrança que eu Gosto de Ter”: Um homem retorna ao sertão pernambucano, na zona rural de Caruaru, onde viveu num sítio, até os 12 anos de idade. Gradativamente, por meio das próprias reminiscências e do encontro com personagens locais, vão ressurgindo os contornos mais definidos de memórias de sentimentos diversos – como a ternura das descobertas, os pequenos prazeres e brincadeiras em contato com a natureza, a descoberta dos medos, as perdas e a saudade dos momentos mais simples, como a lembrança de tomar sol acocorado e a caneca de leite, tirado da vaca, tomado logo cedo de manhã.
“Benção”: Documentário registra o cotidiano da benzedeira Dalila Senra Fabrini, de 97 anos. Moradora do bairro Santa Mônica, em Belo Horizonte, ela passa seus dias em oração, à espera de que cheguem os clientes, pessoas que buscam sua benção para problemas tão distintos como bronquite, doenças de pele, dor no joelho, desemprego e a inveja alheia. Para todos, dona Dalila, que descobriu sua vocação aos 32 anos, quando seu filho teve um problema de saúde, dedica palavras de esperança, mantendo viva uma atividade que está em franco desaparecimento no Brasil.
“Boca de Fogo”: Na cidade de Salgueiro (PE), os torcedores de futebol, na arquibancada, enfrentam o sol e o desconforto em busca das emoções dos jogos de futebol locais. Eles acompanham, pelo rádio, o peculiar comentarista Boca de Fogo, que lança seus comentários com sua voz poderosa e dicção inconfundível, tornando mais eletrizante cada lance das disputas.
“Candeias”: Filmado ao longo de cinco dias, entre 29 de janeiro e 2 de fevereiro de 2016, o curta retrata a dimensão da romaria de Nossa Senhora das Candeias, em Juazeiro do Norte (CE), que abre todos os anos o ciclo de romarias na terra de Padre Cícero. Imagens desta verdadeira maré humana nas ruas em momentos impressionantes, como a Procissão das Velas, povoam o filme, que capta detalhes do movimento dos romeiros, homens e mulheres simples do sertão nordestino expressando a religiosidade popular numa de suas mais expressivas manifestações.
“Cópia Própria”: Mergulhados na profusão de imagens que definem nosso mundo, buscamos conhecer a versão real, original, de cada uma delas – mas tudo o que encontramos é o mar de suas cópias. Nosso próprio olhar, afinal, é uma cópia.
“Festejo Muito Pessoal”: Tendo como ponto de partida o artigo “Festejo muito pessoal”, escrito em 1977 pelo crítico e professor Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977) e publicado postumamente, este ensaio poético estrutura-se com uma reapropriação de arquivos – evocando não só trechos de filmes citados no texto de Paulo Emílio, como de outros evocados a partir de afinidades diversas. Chama-se, assim, atenção para a importância da preservação dos filmes, diante da enormidade de títulos perdidos ao longo da história e não mais passíveis de recuperação.
“Improviso Ambulante”: O documentário investiga o fenômeno da improvisação, procurando superar os preconceitos em torno de sua aparente precariedade. Explora-se a ideia de que o ato de improvisar possa ser, antes de mais nada, um mecanismo inerente à natureza humana no sentido de buscar soluções e recursos novos, criando novos saberes, científicos ou não. Coerente com sua proposta, o próprio filme se materializa como vídeo-objeto de estética improvisada.
“Manual”: A cineasta Letícia Simões passou o primeiro semestre de 2016 frequentando o mestrado na Escuela Internacional de Cinema y TV, em San Antonio de los Baños, Cuba. O resultado está neste curta, em forma epistolar, em que ela conta à mãe suas impressões sobre o país, no momento em que desembarcava ali o presidente norte-americano, Barack Obama, realizava-se o primeiro desfile da Chanel e abriam-se lojas de grifes como Adidas e Clarins. O filme reflete as impressões de uma estrangeira diante da iminência de grandes transformações e do que restará da revolução socialista de 1959.
“Se Você Contar”: Seguindo o dispositivo do documentário “Jogo de Cena“, de Eduardo Coutinho, cinco mulheres dispõe-se a contar experiências de abuso sexual, sofridas por elas mesmas ou outras que não conseguiram expor-se diante da câmera. O filme retrata oito histórias que têm em comum detalhes impactantes, como o fato de que a maior parte dos casos não chega à polícia e que muitos agressores são pessoas que pertencem ao próprio círculo familiar, o que dificulta as denúncias e confunde as vítimas quanto à sua própria responsabilidade.
“A Sibéria Não é Tão Gélida”: Quando a cineasta catalã Isabel Coixet viaja pelo interior da Sibéria, para participar do júri de um festival de cinema, acontecem-lhe coisas inusitadas. Ela é tomada por sonhos estranhos e encontra um homem, de aparência amável, que lhe entrega uma sacola cheia de fotografias. Em cada uma delas, anotou cuidadosamente a data e o local onde foram tiradas. Com a ajuda de três amigas, a diretora procura decifrar o que se encontra por trás deste caleidoscópio imagético que guarda o registro de toda uma vida. E se indaga porque o homem teria entregue algo assim pessoal a uma total desconhecida.
“Casa à Venda”: Após a suspensão da proibição de venda de imóveis que vigorou por mais de 50 anos em Cuba, proprietários de casas preparam-se para dar início a um incipiente mercado imobiliário. Três famílias abrem as portas de seus lares, como diante de compradores em potencial, declinando os aspectos que, a seu ver, poderiam funcionar como chamariz para o fechamento de negócios. Nesses espaços íntimos, carregados de memórias e afeto, tornamo-nos cúmplices de histórias pessoais e também compartilhamos o retrato de um país, mais uma vez, à beira de um período de drásticas transformações.
“O Acervo”: Dois amigos descobrem um formidável acervo de objetos ligados ao cinema num lugar inusitado, em Omaha, Nebraska. Terceiro curta documental do diretor Adam Roffman, depois de “Spearhunter” (2015) e “All the Presidents’ Heads” (2016). Em Hollywood, Roffman é um conhecido decorador de set, parceiro habitual de diretores como Paul Greengrass, Martin Scorsese, Kathryn Bigelow, Robert Altman, David O. Russell e Ben Affleck.
“O Cuidador”: Há mais de 60 anos, o clínico-geral Nico van Hasselt mantém uma rotina de realização de dez atendimentos domiciliares, em média, por dia, num bairro de Amsterdã. Desde 1989, essa sua forma individualizada de praticar a medicina vem sendo confrontada por operadoras de planos de saúde. Mesmo com mais de 90 anos de idade, ele resiste à pressão para render-se à padronização do atendimento aos pacientes, limitando o tempo das consultas e uniformizando os métodos de tratamento e medicação. Para ele, a medicina é, acima de tudo, cuidar do outro. Mas até quando ele poderá manter sua posição?
“Olhos nos Olhos”: Uma câmera capta uma cena intimista no meio do trânsito e do barulho de uma grande cidade: uma moça e um rapaz descobrem a atração um pelo outro. Tendo como cenário o ambiente despojado dos conjuntos habitacionais, um ponto de ônibus ou um estacionamento ao ar livre, eles andam, param, conversam. O tempo parece suspenso entre os corpos, enquanto eles buscam uma forma de encurtar a distância entre eles, encontrando um caminho para que a comunicação amorosa se estabeleça. Tornamo-nos espectadores e cúmplices do surgimento de uma história de amor como as que nós próprios vivemos algum dia.
“Polonesa”: No interior da Polônia, o centro cultural da pequena cidade de Aleksandrow Kujawski vai sediar uma singular competição artística em torno do tema da “atitude patriótica”. Os candidatos podem optar por qualquer forma de expressão, música, performance, oratória, teatro ou recitação, desde que se trate de um trabalho próprio e original. A data marcada para a escolha do patriota modelo da região é o dia da independência da Polônia, em 11 de novembro. Os jurados são o prefeito, um padre, o diretor do centro cultural e uma poeta local.
“Radiovisão”: Dos arquivos de uma das rádios públicas mais antigas da Europa, a rádio Belgrado, saíram as nove histórias que serviram de base a esta animação. Pesquisados entre as inúmeras entrevistas gravadas entre os anos 1950 e 1990, protagonizadas por alguns dos maiores escritores, artistas e intelectuais que viveram na antiga Iugoslávia e na Sérvia, esses relatos inspiraram jovens ilustradores, animadores e artistas visuais sérvios na sua concepção neste novo formato.
“Spielfeld”: A pequena cidade de Spielfeld, com cerca de 1.000 habitantes, teve seu tranquilo cotidiano drasticamente abalado quando, no inverno de 2015, cerca de 100.000 refugiados atravessaram a fronteira austríaca sem nenhum tipo de controle. Como resposta, o governo apresentou o que chamou de “plano moderno de manejo de fronteiras”. No entanto, há muitos meses nem um único refugiado entrou em Spielfeld pela rota dos Bálcãs. Tudo o que resta do anunciado programa governamental é uma série de barracas vazias e uma cerca incompleta na floresta.
“Territórios Extraordinários”: Partindo das alturas do vulcão Domuyo, apresenta-se as paisagens e personagens de Neuquén, província ao norte da Patagônia argentina. Percorrendo os picos e vales da Cordilheira do Vento, veem-se áreas naturais de pouco e difícil acesso, territórios protegidos e também os largos espaços onde velhos habitantes do local, em boa parte com mais de 70 anos, desenvolvem atividades como criação de gado e mineração de ouro. Pelos relatos de Marcelina Aguilera, Ananias Retamal, Felipe Méndez e Conradino Contreras, constrói-se o retrato de vitalidade e resistência de uma região.
“Atentamente”: No ambiente despojado de uma residência de idosos, Libardo e Alba começam a viver uma história de amor. A partir da descoberta de seus sentimentos, tudo o que pensam é em estar juntos. Torna-se uma obsessão para eles encontrar formas de juntar dinheiro que lhes permita pagar uma noite num hotel para que desfrutem de uma intimidade impossível na instituição. Ao mesmo tempo, têm que lidar com suas próprias fragilidades e hesitações.
“O Esquecimento (Im)possível”: O cineasta argentino Andrés Habegger realiza uma viagem profundamente pessoal neste documentário, em busca de resgatar memórias e informações sobre seu pai, Norberto Habegger, jornalista e militante Montonero desaparecido no Brasil, em 1978, numa operação conjunta entre militares argentinos e brasileiros. Percorrendo locais que fizeram parte de sua vida e voltando a fotos antigas e seus diários de infância, o diretor completa lacunas de uma história familiar interrompida.
“Rito de Passagem”: Um grupo de amigos com síndrome de Down, na faixa dos 50 anos, encara um momento de mudança. Frequentando a mesma escola, com as mesmas rotinas há quatro décadas, já não podem contar com seus pais. Todos sonham em encontrar um trabalho, ter uma vida independente e formar família. Mas têm pela frente não só os preconceitos da sociedade em volta como impedimentos legais criando obstáculos à realização de seus projetos de vida.
“Ruínas Seu Reino”: Colocando-se dentro de um pequeno barco de pesca artesanal, o diretor Pablo Escoto compartilha o cotidiano de pescadores que extraem o sustento das águas do Golfo do México. Em ritmo de ensaio poético, o filme retrata condições de trabalho fisicamente exaustivas, mas também momentos de contemplação de intensa beleza, passados entre o céu e o mar.
“78/52”: O documentário dedica seus 90 minutos à minuciosa análise de uma das cenas mais famosas da história do cinema: o assassinato, sob o chuveiro, do suspense “Psicose” (1960), de Alfred Hitchcock. Exploram-se inúmeros aspectos da sequência que, completa, não ultrapassa três minutos, o que não impediu, na época do lançamento, que o público gritasse ao vê-la nas salas. Passados 57 anos, o impacto pode não ser idêntico, mas sobrevive a mística da maestria técnica que tornou a cena uma das mais copiadas, parodiadas, referidas e estudadas de todos os tempos. Críticos, teóricos e cineastas como Peter Bogdanovich, Guillermo del Toro, Gus van Sant e outros dão seus depoimentos.
“Caçando Fantasmas”: Por meio de um anúncio de jornal, o cineasta palestino Raed Andoni seleciona um grupo de ex-prisioneiros que sofreram detenção e tortura em Al-Moskobiya, o principal centro de interrogatório israelense, onde ele mesmo esteve preso, quando tinha 18 anos. Os próprios homens reconstroem um cenário semelhante à prisão, reconstituindo as situações que viveram. A alguns é atribuído o papel de prisioneiro, a outros o de algoz. À medida que as condições se aproximam da realidade que cada um experienciou, as memórias reprimidas voltam e as emoções vêm à tona com toda a força de uma catarse.
“Dawson City: Tempo Congelado”: Em 1978, a construção de um novo centro recreativo levou a uma inusitada descoberta em Dawson City, Canadá: uma coleção de 533 latas de filmes e noticiários em 35 mm, datados entre os anos 1910 e 1920, perdidos há mais de 50 anos. O documentário recupera a história deste achado, permitindo refazer também parte da crônica da corrida ao ouro na confluência dos rios Klondike e Yukon, que atraiu mais de 100.000 garimpeiros. Mas ali também, em 1902, foi fundada a Associação Atlética Amadora de Dawson, que iniciou a exibição de filmes, tornando o lugar o ponto final de uma cadeia distribuidora que os enviava ao território do Yukon, a maioria dos quais, nunca devolvida.
“Eu, Um Negro”: Atendendo a uma proposta do cineasta Jean Rouch, jovens imigrantes que vivem de biscates no bairro de Treichville, em Abidjan, Costa do Marfim, representam diante das câmeras personagens de uma vida ideal. Contrapondo a pobreza de suas condições reais de sobrevivência, assumem nomes tirados do cinema, como Edward G. Robinson, Dorothy Lamour, Tarzan e Eddie Constantine e dublam as cenas filmadas em estúdio. Etnografia e fabulação intercalam-se neste fascinante trabalho do diretor francês, pai do cinema-verdade, que questiona na prática os limites do próprio conceito de “verdade”.
“Já Visto, Jamais Visto”: Revirando seu arquivo de imagens acumuladas ao longo de quase 50 anos, o cineasta Andrea Tonacci permite-se o exercício de uma revisita ao seu próprio sentido e também à sua existência e seu passado. Fotografias, vídeos familiares, trechos de filmes concluídos, como “Bang Bang” e “Blá Blá Blá” (68), ou obras inacabadas, como “Os Últimos Heróis” (66) e “Paixões” (94), passam diante dos olhos, convidando o espectador a mergulhar neles e encontrar seu próprio sentido nestes fragmentos de vida e de cinema, que encontram conexões nos fluxos da consciência e da memória de cada um.
“No Intenso Agora”: Imagens recolhidas por sua mãe numa viagem à China em 1966 dão ao cineasta João Moreira Salles o fio inicial para este documentário. Colocando em paralelo estas imagens e outras de diversas origens e arquivos, ele capta não só aspectos de sua vida familiar como os movimentos pendulares que atravessaram alguns dos momentos políticos mais transformadores do século XX, como a Revolução Cultural chinesa, Maio de 1968 na França, a Primavera de Praga e também o sombrio 1968 de um Brasil sendo devastado pela ditadura e o AI-5. Memória social e comentário intimista interligam-se profundamente num filme em que se reflete sobre a passagem do tempo.
“A Batalha de Florange”: Crônica da crise em torno do fechamento dos últimos dois altos-fornos da siderúrgica indiano-britânica Arcelor-Mittal, no vale de la Fensch, em Florange, região nordeste da França. Entre 2012 e 2013, trabalhadores valeram-se de todas as formas de resistência e de luta para salvar a usina e milhares de postos de trabalho. Enfrentaram poderosos e autoridades, lidaram com traições e falsas promessas para protagonizar um capítulo dramático da desindustrialização da França.
“Cine São Paulo”: Desde 1940, quando seu pai comprou um cinema na cidade de Dois Córregos (SP), a vida de Francisco Teles foi definida por esse lugar. A sala, que já teve diversos nomes, mortes e ressurreições, é o símbolo vivo da passagem do projetor a carvão ao digital, da resistência diante da TV e do videocassete e também da memória afetiva na cidade de filmes como “O homem que sabia demais”, de Alfred Hitchcock, “Superman”, de Richard Donner, e “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles.
“Laerte-se”: Perfil da transgênero mais famosa do Brasil, a cartunista Laerte, que fala das particularidades de sua vida desde que decidiu viver como mulher, em 2009. Suas relações familiares (como com um neto que a chama de “vovô”), o apoio de amigos e familiares, as mudanças de seus personagens (como Hugo que, junto com ela, torna-se Muriel), suas posições políticas e críticas ao que considera “corporativismo trans” fazem parte das conversas.
“Offshore – Elmer e o Sigilo Bancário Suíço”: Quando, há seis anos atrás, o auditor Rudolf Elmer, do banco suíço Julius Baer, decidiu divulgar informações sobre milhares de clientes e corporações que mantinham contas nas ilhas Cayman, começa a cair o véu que encobria uma generalizada evasão fiscal. Enquanto o até então todo-poderoso sigilo do sistema bancário suíço sofre um de seus maiores abalos, Elmer tem sua reputação demolida e sofre processos, pagando um alto preço por transformar-se de agente interno em opositor.
“Permanecer Vivo – Um Método”: Em 1991, inspirado pelas histórias de vida de algumas pessoas com distúrbios psiquiátricos, o escritor francês Michel Houellebecq escreveu seu provocativo ensaio “Rester Vivant”(Permanecer vivo). Vinte e cinco anos depois, o roqueiro norte-americano Iggy Pop extrai do ensaio trechos que correspondem a alguns de seus próprios desafios pessoais, como quando, ainda um jovem artista, descobriu-se à beira da insanidade.
“Todos os Governos Mentem”: Adotando como título a máxima de I.F.Stone (1907-1989), o documentário explora a sobrevivência do legado do célebre jornalista investigativo norte-americano. Em tempos em que as grandes corporações midiáticas não raro optam pela perseguição aos altos índices de audiência em detrimento da busca da verdade, mais do que nunca é fundamental o trabalho de repórteres comprometidos com sua revelação a todo custo, tais como Glenn Greenwald, Jeremy Scahill, Matt Taibbi e Amy Goodman.
“Avante, Soviete!”: Encomendado pelo Soviete de Moscou para as eleições municipais, este deveria ser um filme-relatório que mostraria aos eleitores as ações da administração. Vertov, porém, recusa o simples institucional ao encadear as imagens por meio de um texto poético que reflete sobre a situação da cidade e da URSS como um todo no presente, no passado e no futuro.
“Moscou”: Primeiro trabalho de Kaufman e Kopálin dissociados de D. Vertov, esta sinfonia urbana do grupo Cine-Olho usa a estrutura de “um dia na cidade” para explorar visualmente Moscou e as transformações de suas ruas, edifícios e instituições, preocupando-se em nomear precisamente os locais mostrados, em contraste com a estratégia adotada em “Avante, soviete!“.
“O Grande Caminho”: Neste filme realizado para a comemoração dos dez anos da Revolução, Chub narra, por meio de atualidades cinematográficas e documentos oficiais, a primeira década de existência da URSS, passando por Outubro, pela guerra civil e pela progressiva recuperação econômica do país, destacando ainda movimentos simpatizantes e opositores surgidos no exterior.
“Sal para a Svanécia”: Neste retrato etnográfico nada convencional da vida de uma isolada comunidade camponesa no Cáucaso, o cineasta georgiano Mikhail Kalatôzov incorporou materiais filmados originalmente para uma ficção que realizou no local, mas que não foi acabada. O resultado é um filme híbrido, com roteiro do escritor Serguei Tretiakóv, frequente colaborador da revista LEF.
“Um Dia do Novo Mundo”: No dia 24 de agosto de 1940, 97 cinegrafistas espalhados por toda a URSS registraram os acontecimentos de um dia comum do país, de um café-da-manhã na casa de uma família à estreia de uma ópera de Prokófiev, passando por expedições no Ártico e pelo trabalho na rádio. Seguindo o estilo então em voga, uma vigorosa canção patriótica acompanha os eventos.
“A Batalha por Nossa Ucrânia Soviética”: Primeiro documentário feito depois da entrada da URSS na Segunda Guerra Mundial por Aleksándr Dovjenko, famoso cineasta ucraniano mais conhecido por suas ficções, que participou também de campanhas militares e foi muito ativo na imprensa durante o conflito. Aqui, seu tom pessoal e poético impregna o texto e as imagens deste registro dos horrores da guerra.
“Diante do Julgamento da História”: Vassíli Chulguín, figura-chave do movimento Branco antibolchevique, visita Leningrado após décadas de emigração e prisão nos campos soviéticos. Em diálogo com um historiador, ele reflete sobre a monarquia, a revolução e suas próprias decisões. Ao invés de simples culpa e arrependimento, surge a complexidade de suas opiniões sobre os caminhos da Rússia.
“Olhe para o Rosto”: No museu Hermitage, diante do quadro “Madonna Litta” de Leonardo da Vinci, o cineasta aponta sua câmera não para a pintura, mas para os rostos das pessoas comuns que admiram a obra. Um gesto aparentemente simples que evidencia um dos anseios do chamado período do Degelo: que as atenções se voltassem não apenas para as massas, mas também para os indivíduos.
“O Início”: No aniversário de cinquenta anos da Revolução de Outubro, o cineasta armênio Artavazd Pelechian, ainda aluno do instituto de cinema VGIK, retoma, transforma e condensa procedimentos cinematográficos de Chub, Vertov e Eisenstein para realizar um ensaio visual e sonoro com imagens de arquivo da história da URSS e de sua influência ao redor do mundo.
“Mais Luz!”: Marcando os 70 anos da Revolução em meio às incertezas e euforia da glásnost e perestroika, o filme propõe uma “conversa franca e aberta sobre o passado e o presente”, refletindo sobre os erros e acertos do país desde 1917. Seguindo o espírito de abertura, são apresentados materiais contendo personalidades há muito tempo apagadas da história oficial.
“O Poder de Solovkí”: Criado em 1923 e funcionando até 1939, Solovkí foi um dos primeiros campos soviéticos de trabalhos forçados. Mais de sessenta anos depois de suas detenções, antigos prisioneiros políticos relembram suas experiências e o cotidiano do campo onde imperava, como diziam os guardas do local, não o poder soviético, mas o “poder soloviético”.
“Elegia Soviética”: No centro desta meditação realizada no ocaso da URSS, desfilam retratos de mais de uma centena de líderes soviéticos, tanto conhecidos – como Lênin, Trótski e Stálin – quanto hoje obscuros. Destacando-se dos demais, Borís Iéltsin, então caído em desgraça, é acompanhado por Sokúrov em três momentos distintos.
“A Cuíca”: O instrumentista Osvaldinho da Cuíca conduz uma apresentação histórica sobre a presença da cuíca em vários países do mundo e sua popularização no Brasil a partir do carnaval. Assim como “O Berimbau”, fez parte do movimento pela obrigatoriedade da exibição de um curta brasileiro antes de todo longa-metragem estrangeiro, determinada por uma lei nunca revogada mas não cumprida até hoje.
“Andiamo In‘Merica”: Base da proposta de uma série, idealizada por Sergio Muniz e Thomaz Farkas, sobre as correntes migratórias para o Brasil, tendo como piloto a imigração italiana. Analisam-se aspectos culturais, políticos, sociais e culinários desta presença italiana em São Paulo que, no começo dos anos 1980, é a terceira maior cidade do mundo em número de descendentes daquele país.
“Beste”: Em Santa Brígida, norte da Bahia, João Batista dos Santos prepara uma “beste”, como é chamada na região a besta, arma rudimentar e primitiva muito usada antes do aparecimento da pólvora e das armas de fogo, e que se acredita ter chegado ao Brasil ao tempo de sua descoberta, no século XVI. Originalmente, era parte do documentário “Rastejador, s.m.”.
“De Raízes & Rezas, Entre Outros”: Documentário montado com sobras de vários filmes que fazem parte do que foi chamado pela crítica de “A Caravana Farkas”. A narração é feita principalmente não através de um texto lido, mas com fragmentos de poemas e de letras de inúmeras canções brasileiras e latino-americanas.
“O Berimbau”: A partir de um depoimento do instrumentista Papete, explica-se a história do berimbau na África e a chegada do instrumento à Bahia. O curta fez parte do movimento da ABD (Associação Brasileira de Documentaristas) numa luta, desde 1975, para que um curta brasileiro acompanhasse obrigatoriamente a exibição de todo longa-metragem estrangeiro.
“Rastejador, s.m”: João Batista dos Santos e Joaquim Correia Lima são velhos rastejadores profissionais, originalmente dedicados à caça de animais. Suas habilidades para guiar-se no mato e encontrar sinais de passagem foram requisitadas para rastrear pessoas, tornando-os eficientes auxiliares das “volantes”, patrulhas especializadas na perseguição a cangaceiros no Nordeste brasileiro nos anos 1930.
“Roda & Outras Estórias”: Apresentando cinco canções do então desconhecido cantor Gilberto Gil, o filme, produzido a partir de contribuições de amigos, propôs-se como um protesto contra a ditadura civil-militar recém-iniciada em 1964 e como um ato de agitação cultural em tempos de autoritarismo ufanista.
“Você também pode dar um presunto legal”: Filmado clandestinamente, o documentário faz uma reflexão sobre a atuação do Esquadrão da Morte, sob o comando do delegado Sergio Paranhos Fleury, que serviu de guia e treinamento para a violenta repressão política, com torturas e assassinatos durante a ditadura militar. Inclui uma imagem nunca divulgada pela TV brasileira do delegado Fleury sendo condecorado pela Marinha brasileira.
“O Canto e a Fúria”: Em sua primeira autobiografia para a câmera, Gullar fala. Resume sua trajetória, estética e política, lembrando passo a passo a evolução de sua obra múltipla.
“Ferreira Gullar: A Necessidade Da Arte”: A estética segundo Ferreira Gullar, a partir de uma entrevista e da leitura de trechos de alguns de seus principais escritos críticos.
“A Arte Existe Porque A Vida Não Basta”: Um resumo da vida e da obra do Gullar, tendo por linha mestra um espetáculo musical comandado por Marco Nanini e com participações de Paulinho da Viola, Adriana Calcanhoto e Laila Garin.