Depois de um ano especialmente conturbado para o setor do entretenimento (e para o mundo, é claro), as grandes produtoras encontram formas de se adaptarem e fazerem com que seus conteúdos cheguem ao maior número de pessoas possível. A solução encontrada tem sido os serviços de streaming. Nos EUA, por exemplo, a Warner/HBO já anunciou que todos os seus grandes lançamentos de 2021 serão lançados simultaneamente nos cinemas e na plataforma HBO MAX (que chega no Brasil no mês de junho).
Com o lançamento do live-action de Mulan cancelado nos cinemas por conta da pandemia, o Disney+ testou pela primeira vez o Premier Access, mesmo serviço sendo oferecido para o lançamento de Raya e o Último Dragão. A animação chegará aos cinemas no dia 04/03 e ao Disney+ no dia 05/03, mas no streaming estará disponível por um valor adicional de R$69,90. Pagando esse valor, o seu acesso ao filme se torna livre dentro do streaming, para assistir quantas vezes quiser. O período de compra do Premier Access vai do dia 05/03 a 19/03, como um filme que fica em cartaz no cinema. Após esse período, o filme “sai de cartaz” para quem não comprou e depois volta a ficar disponível a todos os assinantes do Disney+, livremente e sem custo adicional, a partir de 23 de abril.
Diante dessa nova modalidade, fica uma dúvida: vale a pena pagar esse valor adicional por Raya e o Último Dragão?
A qualidade do novo filme de animação da Disney é inegável, simples assim.
Raya é uma princesa guerreira, bem no estilo Mulan, também de descendência asiática, que vive no reino fragmentado de Kumandra com seu pai. Os dois têm uma relação muito próxima e um objetivo em comum: reunificar povos que uma vez, centenas de anos atrás, viviam juntos em harmonia não só com os humanos, mas também com dragões. No entanto, quando os humanos se viram ameaçados por Druuns, monstros que transformavam em pedra todos por quem passavam, os dragões sacrificaram sua existência para salvar a humanidade. A partir daí, por conta da ganância e, principalmente, da desconfiança humana, o reino se repartiu em 5 que passaram a se verem como inimigos.
A parte em que habita Raya possui a pedra na qual toda a energia do sacrifício dos dragões foi concentrada e todos os líderes dos outros reinos a desejam. Quando Raya é traída e a pedra se quebra, os Druuns ficam livres novamente e é aí que a aventura realmente começa.
Raya passa anos sozinha (na verdade, ela tem a companhia de um tatu-bola chamado Tuktuk) à procura do Dragão que teria sobrevivido ao sacrifício, e quando finalmente a encontra, temos uma ótima surpresa. Raya por si só já é uma personagem adorável e cai fácil no gosto geral, mas todos os coadjuvantes conseguem manter o mesmo nível de carisma e empatia.
A jornada da jovem guerreira é uma mistura perfeita de trama moderna, em que a princesa luta ao invés de ser salva, ao mesmo tempo em que resgata aspectos emocionais e significativos que apenas clássicos da Disney podem oferecer. A grande questão da jornada de Raya é aprender a confiar, a ser o primeiro a estender a mão num mundo em que estamos sempre desconfiados até mesmo de nossas sombras e também a importância da família e da aliança que criamos durante os caminhos que percorremos.
A última dragão, Sisu, está longe de ser o que esperamos de um dragão nos moldes de conhecemos, e isso só a torna mais especial. Sisu também passa pela sua própria jornada de autoconhecimento de forma sutil e eficiente.
O roteiro escrito por Qui Nguyen e Adele Lim, ambos asiáticos – última inclusive sendo responsável pelo roteiro de Podres de Ricos, um dos maiores filmes protagonizados por asiáticos – ajuda a manter a diversidade presente e bem representada pela história que envolve mitos e cultura do leste da Ásia, mas além disso traz questões mais complexas do que costumamos ver em filmes infantis. É verdade que muitos dos elementos da narrativa são previsíveis, mas é a forma como esses elementos são tratados que traz um olhar novo para a jornada de Raya.
Com direção de Carlos López Estrada (Blindspotting) e Don Hall (vencedor do Oscar com Big Hero 6), Raya e o Último Dragão tem um dos visuais mais bonitos dentre as animações da Disney e os momentos de tensão são intercalados com os momentos cômicos de forma que o filme possa ser leve ainda que trate de assuntos densos muitas vezes.
No final das contas, a animação vale o preço do ingresso ou do Premier Access, que parece caro à primeira vista, mas que acaba compensando o preço do cinema para um casal, por exemplo. Ainda assim, pra quem tem Disney+ e não está disposto a desembolsar um valor a mais, a espera não tirará o brilho da história de Raya e o Último Dragão.