A Teia
Diretor
Adam Cooper
Gênero
Suspense
Elenco
Russell Crowe, Karen Gillan, Marton Csokas
Roteirista
Adam Cooper e Bill Collage
Estúdio
Imagem Filmes
Duração
110 minutos
Data de lançamento
02 de maio de 2024
Russell Crowe parece ter entrado em uma fase de sua carreira em que se envolve nos projetos que deseja sem ligar muito para o potencial de seu resultado ou do seu nível de qualidade, mas esse aparente desapego tem o lado positivo de Crowe injetar ânimo e um certo grau de energia para produções nem sempre tão inspiradas, como foi o caso de “O Exorcista do Papa”, em que Russell Crowe se divertiu tanto com o papel que nós, como espectadores, acabamos nos divertindo junto. Em “A Teia”, algo parecido acontece, não só com Crowe, mas também com outros atores que têm um talento superior ao do filme como um todo. “A Teia” não é exatamente ruim, tem seus momentos mais instigantes e, no fundo, é possível ver os traços de criatividade que permeiam a narrativa, mas o excesso de elementos derivados de outros títulos e gêneros dificulta que “A Teia” deixe uma marca relevante na mente do espectador.
No filme, o ex-detetive Roy Freeman (Russell Crowe) está levando uma vida pacata e complicada: bilhetes em todos os cantos de sua casa contêm todo tipo de instrução, como fazer café, o que tem na geladeira, até as coisas mais simples, como seu próprio nome. Um porta-retrato quebrado indica sua solidão, a bandagem em sua cabeça indica seu acompanhamento médico, o quebra-cabeça que ele tenta montar mostra sua vontade de continuar seguindo em frente e os bilhetes indicam o óbvio, a presença do Alzheimer. É impossível não fazer relação com Amnésia (Christopher Nolan) e logo entendemos toda a arquitetura dessa narrativa, uma história contada por flashbacks com informações relevantes que o protagonista provavelmente já sabia e acabou esquecendo por conta de sua (conveniente) doença. E a história em si tem início quando Roy é contactado sobre o caso de um presidiário condenado à pena de morte, cuja advogada acredita na inocência. O condenado em questão está relacionado a um caso antigo de quando Roy ainda era detetive e foi o depoimento dele e de seu parceiro de trabalho na época que colocou o menino na cadeia. Tomado por um novo senso de justiça e com a falta de momentos importantes dessa trajetória, Roy decide preencher essas lacunas visitando pessoas e memórias dessa época.
Essa procura de Roy por peças desse quebra-cabeça do passado (e do quebra-cabeça literal) revela uma história contada por feedback que é, praticamente, um outro filme. Essa outra história traz novos personagens, encabeçados por Laura Baines (Karen Gillan), Richard Finn (Harry Greenwood) e Dr. Wieder (Marton Csokas), e um enredo muito mais complexo, envolvendo uma pesquisa científica complexa, um triângulo amoroso e intrigas, com direito a segredos e crimes. A mesma história é apresentada de diversos pontos de vista, sem nunca dizer qual deles conta a realidade, o que poderia ser um artifício interessante num enredo menos “poluído”, mas que acaba apenas reforçando pontos soltos da história e evidenciando suas falhas.
A conclusão se torna previsível a partir da metade do filme, mas mesmo com as limitações e dificuldades, “A Teia” é curiosamente intrigante e nunca entediante, nos instigando a ficar até o final e entregando um filme com algumas situações criativas e um resultado que segue o esperado, em linha com o restante da história.
Por Júlia Rezende