7.3/10

Todo Tempo que Temos

Diretor

John Crowley

Gênero

Comédia , Drama , Romance

Elenco

Florence Pugh, Andrew Garfield, Grace Delaney

Roteirista

Nick Payne

Estúdio

A24

Duração

108 minutos

Data de lançamento

31 de outubro de 2024

As vidas de Almut (Florence Pugh), uma talentosa chef de cozinha, e Tobias (Andrew Garfield), um homem recém-divorciado, mudam para sempre quando eles se conhecem. Após um encontro inusitado, eles se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor. Decididos a enfrentar as dificuldades, Almut e Tobias embarcam numa jornada emocionante, onde vão aprender que cada minuto conta quando estamos ao lado de quem amamos.

Se estivéssemos no início dos anos 2000, até mesmo 2010, “Temos Todo o Tempo” muito provavelmente seria um dos melhores filmes do ano. Com um casal protagonista de atores incríveis e uma química idem, o filme mostra cenas da vida de Tobias (Andrew Garfield) e Almut (Florence Pugh), desde o momento (desastroso) em que se conhecem, até o nascimento da filha e a doença de Almut e as consequências dela, mas o faz fora de ordem cronológica, indo e voltando no tempo. A maior parte desses momentos poderiam fazer parte de uma comédia romântica e é fácil torcer pelo casal, mas esse é um drama que lida com questões complicadas de maternidade, relacionamento, carreira e finitude da vida. Poderia ser um grande filme, se essas questões, que exigem um grau de profundidade, não fossem tratadas com tamanha simplicidade, talvez até mesmo por conta do tempo que vai e volta com bastante frequência. 

O que realmente torna “Temos Todo o Tempo” um filme ultrapassado, no entanto, é sua obstinação em enaltecer o personagem masculino, até mesmo às custas do sofrimento da pessoa que realmente estava doente: a mulher. Tobias é o homem perfeito, ele ama e é fiel à sua mulher, seu maior sonho é ser pai e, quando sua filha nasce, se torna também o pai perfeito. Ele é romântico, compreensível, bem-humorado e ainda começa a história sendo rejeitado por sua ex-mulher. Enquanto ele tem o combo do homem dos sonhos, Almut acaba ficando com o papel de antagonista. No começo, ela não quer ter filhos, quando fica doente, quer priorizar seu bem-estar e sua carreira – ela é uma chefe de cozinha extremamente talentosa, tem seu próprio restaurante, já ganhou diversos prêmios e ama o que faz. É claro que ela também ama Tobias e a filha, foi por causa da vontade dele de ter filhos que ela reconsidera suas próprias escolhas, mas o que o filme enfatiza, sob a direção de John Crowley, é como, diferentemente de Tobias, a família não é tudo para Almut. É claro que priorizar mais de um aspecto da sua vida é algo positivo, mas tudo depende do modo como isso é mostrado e, aqui, muitas vezes transforma Almut numa pessoa “insensível”. 

É impossível fazer uma análise do filme sem levar em conta essa caracterização, uma vez que toda a narrativa é desenhada em cima desses conceitos, mas ainda que fosse o caso, o filme pouco traz de novo. Em meio a tantas situações difíceis, o diálogo é praticamente inexistente. O casal não conversa sobre o que essas mudanças, sobretudo a doença, significa para cada um deles ou para a família. Sentimentos não são discutidos e o que é difícil é ignorado para dar lugar para mais uma cena que evidencia que eles podem ser o casal perfeito.  Por que eles dois são um casal perfeito? Jamais saberemos. Sabemos pouco sobre Almut e ainda menos sobre Tobias – só o que temos de informação sobre ele é que ele trabalha numa empresa de cereais matinais, é divorciado porque a ex-mulher dele não queria ter filhos e tem uma boa relação com o pai; não vemos um amigo sequer de Tobias (as de Almut aparecem como pano de fundo), um dia em seu trabalho ou qualquer coisa do tipo. 

É claro que, ainda que o filme poderia ter feito muito mais sucesso no passado, ele ainda fará sucesso agora. Uma história de amor com uma mãe que sofre de câncer é um tema que, aparentemente, não se esgota e a química entre Andrew Garfield e Florence Pugh é realmente envolvente, apesar de todo o resto. Haverá lágrimas nos cinemas (aconteceu bastante na minha sessão) e muita gente que consegue ignorar todas essas questões para focar num casal bonito com uma filha fofa e uma história de superação certamente amará “Todo Tempo que Temos”, mas com todas as suas fragilidades e superficialidades em detrimento de uma história que tinha muito potencial para ser algo mais, a sensação que prevaleceu para mim foi a de decepção.

 

Por Júlia Rezende

6

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