Argylle – O Superespião
Diretor
Matthew Vaughn
Elenco
Bryce Dallas Howard, Sam Rockwell, Henry Cavill
Roteirista
Jason Fuchs
Estúdio
Universal Pictures
Duração
139 minutos
Data de lançamento
01 de fevereiro de 2024
“Argylle – O Superespião” é um daqueles filmes que brincam com a metalinguagem contando uma história dentro de outra, ou várias. Baseado num livro homônimo, a metalinguagem vai para além das telas: o livro foi escrito pelo pseudônimo “Elly Conway” e quem é a verdadeira autora? Ninguém sabe. “Elly Conway” é também o nome da protagonista do filme, que é a autora de um livro chamado… Argylle. Elly Conway, a do filme (Bryce Dallas Howard), está finalizando o 5º livro da sua saga, um verdadeiro fenômeno que atrai fãs de todos os tipos, inclusive espiões, os objetos centrais de sua trama. Os livros são reconhecidos, justamente, por serem muito precisos quanto ao trabalho e habilidades do serviço de espionagem, mas em contraponto, Elly não poderia estar mais longe desse tipo de ação, ela vive numa casa isolada com apenas seu gato como companhia, além de seus personagens, que ela imagina como pessoas reais muitas vezes. Sua mãe (Catherine O’Hara) insiste para que ela viva um pouco e encontre uma companhia (humana) para compartilhar seu sucesso, mas Elly se diz plenamente satisfeita.
O caminho de Elly começa a se mostrar menos comum do que parecia quando ela (e seu gato) conhecem um estranho (um inspirado Sam Rockwell) numa viagem de trem. O estranho, que se apresenta como Aidan, diz que é um espião e que está lá para salvar sua vida. Na mente de Elly, a imagem de Aidan e de Argylle (o espião protagonista de seus livros e interesse amoroso quando sonha acordada, interpretado por Henry Cavill) se confundem, assim como todo o resto. Essa confusão entre o “real” e o (ainda mais) fantasioso é o que carrega o filme até o final e dá um toque único em meio a tantos clichês do gênero de ação e comédia. Os clichês, na verdade, são intencionais – “Aryglle” funciona também como uma paródia, ainda que sutil nesse aspecto.
“Argylle” diverte por sua trama rendida ao “ridículo” numa narrativa que os justifica. A história é contada de tal forma que, em vez dos absurdos (como as sequências de dança misturadas com luta) nos tirarem da imersão com pensamentos de “isso é impossível”, podemos aproveitá-los com a consciência de que, de fato, é impossível, mas cabe dentro do que já havia sido estabelecido com o público e podemos, junto com a protagonista, aproveitar os frutos de seu imaginário. É inegável que o filme tem defeitos, muitas vezes o enredo parece ir para muitos lugares diferentes, tentando abraçar mais do que o necessário e, inevitavelmente, ser perdendo no caminho, mas nada que comprometa o resultado positivo geral.
O elenco é cativante tanto na comédia quanto na ação e a direção de Matthew Vaughn é criativa o suficiente para dar uma nova roupagem a tropos simples e torná-los interessantes. A constante alternância entre realidade e fantasia, entre os personagens dos livros e da vida real de Elly e como sua própria história sobrepõe às suas criações (com um plot twist), criam o ambiente necessário para um filme de ação e aventura que não se leva tão a sério, mas ainda está comprometido com a trama que se propôs a contar.
Um filme não precisa ser perfeito para ser considerado uma boa opção de entretenimento, para isso, basta entreter e isso, “Argylle” tem sucesso ao fazer. Toda sua estrutura, incluindo sua conclusão, deixa aberta possibilidades para uma franquia ambiciosa, resta saber se haverá, realmente, um conteúdo para sustentá-la e que seja capaz de elevar o nível para expandir esse novo universo.
Por Júlia Rezende