6.8/10

Besouro Azul

Diretor

Angel Manuel Soto

Gênero

Ação , Comédia

Elenco

Xolo

Roteirista

Gareth Dunnet-Alcocer

Estúdio

Warner Bros. Pictures

Duração

127 minutos

Data de lançamento

17 de agosto de 2023

Jaime Reyes, um adolescente de origem mexicana que encontra um artefato alienígena que lhe dá um exoesqueleto mecanizado e poderes, tornando-o no Besouro Azul.

Num momento em que filmes de super-heróis não estão tão em alta quanto já estiveram, com a DC passando por uma reformulação, agora sob o comando de James Gunn e tendo títulos cancelados, além da greve dos roteiristas e atores de Hollywood que impede a divulgação de novos projetos, o lançamento de Besouro Azul não deu sorte no timing, podendo ver um reflexo disso na bilheteria mundial. É uma pena, pois há um tempo desde que um filme de herói foi tão autêntico e divertido quanto Besouro Azul.

Entre universos cinematográficos que estão crescendo e se complicando cada vez mais, é um refresco ver um super-herói novo e dono da sua própria história. É claro que o Batman e colegas ainda existem nesse universo, Reyes foi para Universidade de Gotham e outras pequenas referências, mas em momento algum o filme pede para que a gente resgate algo do passado ou gaste energia conectando pontos distantes. Nós descobrimos o universo de “Besouro Azul” junto com o protagonista e sua família, criando uma relação com os personagens que enriquece o filme e o torna especial, ainda que não seja revolucionário.

Essa parece ser a intenção do diretor Angel Manuel Soto, apostar nas emoções para garantir ao filme um coração, sem se preocupar em fazer algo grandioso – e isso é uma coisa boa, pois seu objetivo é alcançado e o resultado é um filme despretensioso e emocionante, que te ganha no carisma. E se um escaravelho é o que dá superpoderes ao herói Besouro Azul, carisma é o superpoder do filme. Desde o elenco até a direção, o filme carrega coração a todo momento e o faz sendo fiel à representatividade latina que prometeu. Começando por Jaime e a família Reyes.

Jaime (Xolo Maridueña) está voltando para casa depois de ter ficado longe para se formar na faculdade e encontra sua família em uma situação financeira nada boa: seu pai perdeu a oficina em que trabalhava, a casa da família, que abriga além dos pais e irmã, seu tio e avó também, está para ser tomada. Jaime pega para si a responsabilidade de tirar a família dessa situação, afinal de contas ele foi para a faculdade, um fruto do trabalho árduo e sacrifícios dos pais para que ele e a irmã pudessem ter uma vida melhor do que a que eles tiveram, mas a realidade é que Jaime ainda está longe de alcançar esse sonho e acaba trabalhando com sua irmã num resort de luxo em que conhece a vilã Victoria Kord (Susan Sarandon) e sua sobrinha Jenny Kord (Bruna Marquezine), logo antes de ser demitido por Victoria, mas Jenny se compadece e lhe oferece a possibilidade de um emprego na empresa da família. É no meio disso (e de umas confusões mais) que Jenny lhe entrega o escaravelho e, ao se conectar “acidentalmente”, Jaime vira O Besouro Azul.

Sem spoilers, a trama central do filme é tão boa quanto qualquer trama tradicional de um filme de super-herói pode ser. O vilão é rico e quer utilizar a possibilidade de superpoderes para criar uma arma e ficar ainda mais rico. Como eu disse, o filme não é revolucionário. A diferença, no entanto, é justamente a família e o papel dela. A situação de Jaime com seus pais é absurdamente comum para nós, brasileiros, enquanto latinos, mas está muito distante de ser a realidade média do pessoal de Hollywood, tanto que é raramente explorada por filmes mainstream, como esse. É aqui que Besouro Azul faz a diferença: com seu comprometimento em honrar as raízes latinas (do elenco, da história, dos personagens, do diretor). A família de Reyes está com ele em cada passo de sua trajetória, dando força e sendo força.

A família Reyes também é responsável pelo humor do filme, também muito presente. É um humor mais “pastelão” e com referências à cultura mexicana. Ele nem sempre funciona, vez ou outra passa um pouco do ponto e encaminha a cena para o que pode ser mais uma paródia do que só um filme com comédia e acaba ficando um pouco fora do tom, mas quando funciona (e esse caso ainda é maioria) é uma delícia de assistir. Millagro (Belissa Escobedo) traz um toque sarcástico, o tio Rudy (George Lopez) é cheio de teorias da conspiração (nem todas absurdas) e a avó (Adriana Barraza) e a mãe (Elpidia Carrillo) ficam com o humor mais caricato, com um destaque para a avó que tem uma “surpresa” no final, já o pai de Jaime, Alberto (Damián Alcázar), traz as cenas mais sensíveis. Jaime é um bom mix de tudo isso, ele lembra o Homem-Aranha de Tom Holland com seu humor jovial e impressionável, mas isso não o torna menos original.

Além do grupo, na verdade, se juntando a ele, temos Jenny, a ponte entre a audiência e a família Reyes. Se havia desconfiança em relação ao tamanho da participação da Bruna Marquezine no filme, ela foi em vão. Jenny é central para trama em diversos sentidos, principalmente por conta de sua relação com a família Kord e o escaravelho e Bruna Marquezine entrega uma performance sólida e convincente. A relação entre Jenny e Jaime também adiciona um toque sutil, mas bem-vindo, de romance à história e Jenny acaba se encaixando bem na calorosa família Reyes, fechando um núcleo fácil de se torcer a favor para o segundo ato.

A química entre o elenco, o bom humor, a sensibilidade e, acima de tudo, o jeitinho latino é o que fazem de Besouro Azul não somente um bom filme, mas uma história fácil de se apaixonar e se envolver. Em sua fórmula, é um filme de super-herói, mas sua alma deixa claro que não é mais um filme de super-herói.

8.5

Missão cumprida

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