Besouro Azul
Diretor
Angel Manuel Soto
Elenco
Xolo
Roteirista
Gareth Dunnet-Alcocer
Estúdio
Warner Bros. Pictures
Duração
127 minutos
Data de lançamento
17 de agosto de 2023
Num momento em que filmes de super-heróis não estão tão em alta quanto já estiveram, com a DC passando por uma reformulação, agora sob o comando de James Gunn e tendo títulos cancelados, além da greve dos roteiristas e atores de Hollywood que impede a divulgação de novos projetos, o lançamento de Besouro Azul não deu sorte no timing, podendo ver um reflexo disso na bilheteria mundial. É uma pena, pois há um tempo desde que um filme de herói foi tão autêntico e divertido quanto Besouro Azul.
Entre universos cinematográficos que estão crescendo e se complicando cada vez mais, é um refresco ver um super-herói novo e dono da sua própria história. É claro que o Batman e colegas ainda existem nesse universo, Reyes foi para Universidade de Gotham e outras pequenas referências, mas em momento algum o filme pede para que a gente resgate algo do passado ou gaste energia conectando pontos distantes. Nós descobrimos o universo de “Besouro Azul” junto com o protagonista e sua família, criando uma relação com os personagens que enriquece o filme e o torna especial, ainda que não seja revolucionário.
Essa parece ser a intenção do diretor Angel Manuel Soto, apostar nas emoções para garantir ao filme um coração, sem se preocupar em fazer algo grandioso – e isso é uma coisa boa, pois seu objetivo é alcançado e o resultado é um filme despretensioso e emocionante, que te ganha no carisma. E se um escaravelho é o que dá superpoderes ao herói Besouro Azul, carisma é o superpoder do filme. Desde o elenco até a direção, o filme carrega coração a todo momento e o faz sendo fiel à representatividade latina que prometeu. Começando por Jaime e a família Reyes.
Jaime (Xolo Maridueña) está voltando para casa depois de ter ficado longe para se formar na faculdade e encontra sua família em uma situação financeira nada boa: seu pai perdeu a oficina em que trabalhava, a casa da família, que abriga além dos pais e irmã, seu tio e avó também, está para ser tomada. Jaime pega para si a responsabilidade de tirar a família dessa situação, afinal de contas ele foi para a faculdade, um fruto do trabalho árduo e sacrifícios dos pais para que ele e a irmã pudessem ter uma vida melhor do que a que eles tiveram, mas a realidade é que Jaime ainda está longe de alcançar esse sonho e acaba trabalhando com sua irmã num resort de luxo em que conhece a vilã Victoria Kord (Susan Sarandon) e sua sobrinha Jenny Kord (Bruna Marquezine), logo antes de ser demitido por Victoria, mas Jenny se compadece e lhe oferece a possibilidade de um emprego na empresa da família. É no meio disso (e de umas confusões mais) que Jenny lhe entrega o escaravelho e, ao se conectar “acidentalmente”, Jaime vira O Besouro Azul.
Sem spoilers, a trama central do filme é tão boa quanto qualquer trama tradicional de um filme de super-herói pode ser. O vilão é rico e quer utilizar a possibilidade de superpoderes para criar uma arma e ficar ainda mais rico. Como eu disse, o filme não é revolucionário. A diferença, no entanto, é justamente a família e o papel dela. A situação de Jaime com seus pais é absurdamente comum para nós, brasileiros, enquanto latinos, mas está muito distante de ser a realidade média do pessoal de Hollywood, tanto que é raramente explorada por filmes mainstream, como esse. É aqui que Besouro Azul faz a diferença: com seu comprometimento em honrar as raízes latinas (do elenco, da história, dos personagens, do diretor). A família de Reyes está com ele em cada passo de sua trajetória, dando força e sendo força.
A família Reyes também é responsável pelo humor do filme, também muito presente. É um humor mais “pastelão” e com referências à cultura mexicana. Ele nem sempre funciona, vez ou outra passa um pouco do ponto e encaminha a cena para o que pode ser mais uma paródia do que só um filme com comédia e acaba ficando um pouco fora do tom, mas quando funciona (e esse caso ainda é maioria) é uma delícia de assistir. Millagro (Belissa Escobedo) traz um toque sarcástico, o tio Rudy (George Lopez) é cheio de teorias da conspiração (nem todas absurdas) e a avó (Adriana Barraza) e a mãe (Elpidia Carrillo) ficam com o humor mais caricato, com um destaque para a avó que tem uma “surpresa” no final, já o pai de Jaime, Alberto (Damián Alcázar), traz as cenas mais sensíveis. Jaime é um bom mix de tudo isso, ele lembra o Homem-Aranha de Tom Holland com seu humor jovial e impressionável, mas isso não o torna menos original.
Além do grupo, na verdade, se juntando a ele, temos Jenny, a ponte entre a audiência e a família Reyes. Se havia desconfiança em relação ao tamanho da participação da Bruna Marquezine no filme, ela foi em vão. Jenny é central para trama em diversos sentidos, principalmente por conta de sua relação com a família Kord e o escaravelho e Bruna Marquezine entrega uma performance sólida e convincente. A relação entre Jenny e Jaime também adiciona um toque sutil, mas bem-vindo, de romance à história e Jenny acaba se encaixando bem na calorosa família Reyes, fechando um núcleo fácil de se torcer a favor para o segundo ato.
A química entre o elenco, o bom humor, a sensibilidade e, acima de tudo, o jeitinho latino é o que fazem de Besouro Azul não somente um bom filme, mas uma história fácil de se apaixonar e se envolver. Em sua fórmula, é um filme de super-herói, mas sua alma deixa claro que não é só mais um filme de super-herói.