Campeões

Em Campeões, um remake do filme espanhol Campeones (2018), um treinador de basquete profissional com problemas comportamentais é pego dirigindo bêbado e, para evitar a prisão, aceita um acordo de serviço comunitário para treinar um time de basquete cujos jogadores têm deficiência intelectual.

O treinador em questão é Marcus (Woody Harrelson), um homem apaixonado por basquete e que sonha em trabalhar na NBA, mas seu comportamento explosivo e falta de empatia sempre o atrasaram nessa jornada e ele acabou trabalhando como assistente de Phil (Ernie Hudson), um antigo amigo, num time de uma pequena divisão. Marcus é o responsável por atrasar a própria carreira, ele é, indiscutivelmente, um grande treinador, mas sua falta de tato para lidar com os jogadores e foco apenas no aspecto técnico do jogo. Sua vida é dedicada inteiramente ao esporte e quando, em mais um ataque de raiva, Marcus acaba agredindo fisicamente seu amigo Phil, ele é demitido do último time a lhe dar uma chance. Uma decepção leva à outra e Marcus bate o carro enquanto bêbado, o que o leva até os Amigos, um time de basquete local composto de membros com deficiência intelectual.

Se já faltava tato com os jogadores sem deficiência, ao chegar no centro comunitário com os jogadores com deficiência intelectual o choque é ainda maior. Ele chega usando termos ofensivos e atitudes meio tortas, não por maldade, mas por pura ignorância. Marcus é um cara legal, no sentido mais amplo da expressão, mas tem muito o que aprender sobre ele mesmo, a vida e as pessoas ao seu redor. Todo aprendizado vem das pessoas que Marcus conhece nessa cidade pequena que ele, a princípio, se vê “preso” pelos 90 dias de seu acordo e o aprendizado não é só para Marcus. Nós, como espectadores, também temos muito o que aprender com a história, o comportamento de Marcus e a forma como os jogadores encaram a vida.

O time dos Amigos, que estava sem um técnico, recebe Marcus de braços abertos, que tem o desafio de transformar essa família num time. Os jogadores têm histórias de vida diversas, e é uma boa representação das pessoas com deficiência intelectual no geral, que podem ser afetadas em níveis diferentes. Benny (James Day Keith) mora sozinho e tem um emprego num restaurante, Craig (Matthew Von Der Ahe), Cody (Ashton Gunning) e Blair (Tom Sinclair) moram juntos num lar comunitário assistido, já Johnny (Kevin Iannucci) mora com a mãe e a irmã Alex (Kaitlin Olson), mas está a procura de sua independência. Para completar o time, temos Arthur (Alex Hintz), Showtime (Bradley Edens) e Darius (Joshua Felder), esse último não fica nem um pouco animado com a presença de Marcus e se recusa a jogar para ele. Todos do time são extremamente carismáticos e apresentam suas particularidades de uma forma que é, ao mesmo tempo, leve, didática e sensível.

Não há nada de realmente novo na história (independente de ser um remake), Marcus e Alex (cuja personalidade poderia ter sido mais desenvolvida) começam um relacionamento como uma ficada de aplicativo e progridem para algo mais sério com o tempo, o destino de Marcus é fácil de se decifrar, assim como o do time, mas nada disso tira o encanto do elenco carismático e envolvente e a forma gentil como suas dificuldades e deficiências são apresentadas, respeitando as limitações de cada um, ao mesmo tempo que destaca sua força e coloca em perspectiva conceitos que, até então, já estavam concretizados nas nossas mentes.

Por Júlia Rezende