7.2/10

Clube dos Vândalos

Diretor

Jeff Nichols

Gênero

Drama

Elenco

Austin Butler, Jodie Comer, Tom Hardy

Roteirista

Jeff Nichols

Estúdio

Universal Pictures

Duração

116 minutos

Data de lançamento

20 de junho de 2024

Acompanha a ascensão de um clube de motociclistas do meio-oeste americano por meio da vida de seus membros.

Enquanto andar de moto pode ser nada além de um trabalho para a maioria, para outros se trata de um estilo de vida. Por mais que tivessem mais força no passado, até hoje há diversos motoclubes pelo mundo, inclusive no Brasil, que resistem ao tempo e têm suas motos como uma paixão. O universo desses clubes e seus membros, hoje em dia são muito mais integrados com a nossa realidade, ocupando mais um espaço de hobby do que de propósito de vida, mas nem sempre foi assim. A cultura de motos, fortalecida por grandes marcas como Harley-Davidson, já teve sua Era de’Ouro, quando as roupas de couro eram sinal de status, glamour e – o mais importante – pertencimento. Os brasões nos coletes e jaquetas indicavam muito mais do que uma escolha de moda. O Clube dos Vândalos fala justamente desse período no tempo, mas principalmente de sua queda e das consequências que isso trouxe para aqueles cuja vida dependia disso.

A magia do filme está no fato que ele se baseia em pessoas reais, cujas vidas foram retratadas num livro – não de ficção ou biografia, mas num livro de fotografias de Danny Lions, lançado em 1968, sobre um clube de motos de Chicago, chamado Chicago Outlaws Motorcycle Club. O fotógrafo Danny Lions, que no filme ganhou uma versão ficcional, vivida por Mike Faist. Em uma época em que filmes sobre pessoas reais tentam cada vez mais imitar, em vez de representar o objeto da narrativa, O Clube dos Vândalos se destaca por pegar toda a atmosfera daquele grupo e daquela época e construir, dentro dessa ambientação, uma história crível e sensível, ainda que fictícia. 

Assim como no livro, a história de Clube dos Vândalos nos é contada a partir do ponto de vista de Kathy (Jodie Comer), uma mulher que não tinha qualquer conexão com motos ou moto clubs até que, “acidentalmente”, acaba num bar de moto com uma amiga onde conhece o misterioso e calado Benny (Austin Butler). É amor à primeira vista com eles e, num piscar de olhos, Kathy se vê parte do Clube dos Vândalos. A narração de Kathy nos permite uma perspectiva mais estrangeira em relação ao Clube e ao mesmo tempo mais relacionável. Kathy é uma mulher decidida e de personalidade forte, mas apesar do amor entre eles, ela e Benny quase sempre estão em páginas completamente diferentes. É também um bom contraste, enquanto Benny, e até mesmo os outros motoqueiros, preferem agir (com violência) a explicar suas motivações, a verborragia de Kathy nos ajuda a compreender essa família disfuncional com um pouco mais de clareza.

Enquanto Benny e Kathy são nossa porta de entrada para o mundo dos Vândalos, a composição dos demais personagens é igualmente relevante para a narrativa e para o despertar da nossa empatia em relação a eles. Todos têm suas peculiaridades e são bem desenvolvidos o suficiente para nos mostrar os diferentes motivos que faziam com que esses homens se juntassem e se protegessem como irmãos. Tom Hardy é Johnny, o fundador do clube e um pai de família, com emprego fixo e tudo o mais, destoando do restante dos membros do clube, mas seu senso de responsabilidade e família é um dos principais fatores para manter a união. Johnny, assim como Brucie (Damon Herriman), Cal (Boyd Holbrook) e muitos outros, também representam a velha guarda dos moto clubes e o real motivo para sua existência. O Clube dos Vândalos, assim como os outros da época, era um refúgio para aqueles que não sabiam o que era um lar ou simplesmente não se encaixavam em conceitos mais clássicos de família ou grupo de amigos.

O filme captura exatamente a quebra desse momento, em que valores são passados para trás diante do aumento das discrepâncias sociais do mundo lá fora e essas influências externas colocam em risco a estrutura dos clubes, que começavam a crescer exponencialmente. A humanidade dos personagens e essa transição entre o clássico e as novidades que podem o deturpar (uma situação que pode ser espelhada para tantas outras) fazem dessa uma história naturalmente cativante e fácil de acompanhar, mas é inegável que o filme poderia ter se beneficiado de um enredo um pouco mais assertivo e focado numa única linha narrativa que pudesse conter melhor todas as demais histórias, já que essa “falta de rumo” por vezes deixa a sensação de falta de propósito. 

A direção de Jeff Nichols (que também assina o roteiro) poderia ter explorado mais as possibilidades de um filme sobre motos – e não motos quaisqueres, Harleys e derivadas – nas estradas dos Estados Unidos, com planos mais inspirados e mais abertos, mas o cuidado com a câmera quando o objeto eram os personagens acabam compensando de alguma forma. Esse acaba sendo um filme de personagens, afinal; sobretudo sob o comando certeiro de Jodie Comer como Kathy, em seu sotaque carregadíssimo (e extremamente preciso, como você pode comparar nesse áudio da Kathy original), que prova mais uma vez ser uma das maiores atrizes de sua geração, e sua química silenciosa com o charme de Austin Butler, perfeito na pele do rebelde incompreendido, mas de bom coração, que concentra em si toda a cultura que o filme representa.

 

Por Júlia Rezende

8.5

Missão cumprida

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