5.3/10

Coringa: Delírio a Dois

Diretor

Todd Phillips

Gênero

Drama , Musical

Elenco

Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Brendan Gleeson

Roteirista

Todd Phillips e Scott Silver

Estúdio

Warner Pictures

Duração

138 minutos

Data de lançamento

03 de outubro de 2024

A continuação musical acompanha Harley Quinn, psiquiatra do Asilo Arkham, quando ela se apaixona pelo paciente Arthur Fleck, conhecido como Coringa.

Quando “Coringa” foi lançado, em 2019, certamente não passou despercebido, não só pelo filme em si e pela atuação incrível de Joaquin Phoenix, que lhe rendeu o Oscar, mas também pela comoção descabida gerada numa parcela pequena, mas barulhenta, de fãs do personagem que o tomaram como um herói, uma figura da resistência, tal como os fãs que aparecem no filme. “Coringa” trouxe à tona a história de Arthur Fleck, um homem deslocado e sem traquejo social que levava uma vida às margens da normalidade com sua mãe abusiva e controladora. Apesar dos pesares, Arthur era o que poderia ser considerado uma pessoa “boa”, até que seus delírios aumentam e uma série de situações desagradáveis em sua vida o levam a um “surto” e ele se esconde atrás da imagem do Coringa para cometer assassinatos – o último deles em rede nacional, causando uma verdadeira revolução dos que se julgavam oprimidos pela sociedade e transformaram Arthur numa espécie de mártir anti-herói. Como uma pessoa pode ver de forma heroica um homem que, entre outras coisas, matou 6 pessoas, deveria ser um mistério, mas a atual situação da nossa sociedade nos mostra que nada nesse sentido é impossível hoje em dia. Em algumas premieres do filme nos Estados Unidos, a polícia chegou a ficar de prontidão para evitar qualquer tipo de violência por parte do público, já que esse era o clima que parecia rondar uma parte do público.

Se levarmos em consideração a imagem que esses fãs tinham do Coringa, o tornando maior do que o filme como uma obra de arte em si, faz sentido todo o “hate” que a continuação Coringa Delírio a Dois tem sido alvo. Enquanto, para esse público, Coringa construiu um herói, a sequência vem e o transforma em homem novamente, talvez lembrando ao próprio público de sua verdadeira condição. Independente de opinião acerca da narrativa, é inegável que Coringa: Delírio a Dois é um filme corajoso. Não é de hoje que muitos dos fãs de super-heróis são conhecidos como um público exigente e pouco tolerante e a escolha de colocar Arthur Fleck dividindo a tela e o protagonismo com uma mulher já era desafiadora, mais ainda fazer disso um musical. Uma das maiores polêmicas do filme pré-lançamento era a questão das músicas, a começar pela escalação de Lady Gaga para Arlequina (ou apenas Lee), uma artista que já provou seu talento para atuação, mas segue majoritariamente conhecida por sua carreira como cantora. O fato de todos da produção, elenco e equipe de marketing tentarem esconder a todo custo que o filme era, de fato, um musical, certamente não ajudou. Se você declara desde o princípio que o filme é um musical e o espectador reclama de ter muita música, a “culpa” é mais dele do que do filme, mas o contrário complica um pouco as coisas. 

Coringa: Delírio a Dois é um musical – e um muito bom, inclusive. As músicas fazem sentido dentro da narrativa criada e do desenvolvimento da psique de Arthur Fleck, que, desde o primeiro filme, cria para si realidades paralelas para não ter que lidar com a sua verdadeira. As músicas, clássicas e consagradas, são de muito bom gosto e, novamente, vão de encontro com a atmosfera criada no original (você deve se lembrar da cena final do primeiro filme ao som de “That’s Life” de Frank Sinatra). Diferente do que muita gente entende pelo conceito de “musical”, Coringa não tem grandes números de dança ou todos os personagens entrando nas músicas. O filme continua sendo introvertido, sombrio e tão desesperançoso como o primeiro. Ainda na prisão, Arthur conhece Lee na aula de coral da ala psiquiátrica (é daí que vem as músicas) e a conexão dos dois é imediata. Enquanto Arthur sempre esteve sozinho e inadequado, com relações imaginárias, ele agora tem uma pessoa real que não só o entende, mas está disposta a fazer tudo por ele. Assim como a massa de fanáticos que continua presente em todas as audiências de Fleck (incluindo nos cinemas, aparentemente), defendendo seu status como símbolo de algum tipo de revolução, Lee também tem o Coringa como herói e faz sua missão espalhar sua mensagem (que mensagem? Nem Fleck saberia dizer).

O mergulho que fazemos nesse estudo de personagem é interessante, a defesa de Arthur quer provar que ele era mentalmente incapaz de distinguir certo do errado no momento (vários momentos) de seus crimes, que ele tinha sofrido uma desassociação e Arthur Fleck e Coringa eram, na cabeça dele, duas pessoas diferentes; enquanto os fãs querem justamente o oposto: que ele assuma a personalidade do homem maquiado e disposto a desafiar (e matar) qualquer um que eles julguem merecedor de tal destino. O roteiro e a direção se alinham para contar uma história de conflitos internos e forças externas com uma visão artística impecável e uma visão de mundo mais realista se comparado ao primeiro, ainda que se utilize mais do fantasioso que é parte inerente do gênero musical. É compreensível que quem não goste de musicais tenha uma opinião negativa, assim como aqueles que compartilham com a visão de Lee sobre o status heroico de Arthur Fleck, mas é difícil encontrar sentido em críticas tão negativas a não ser o efeito manada, cada vez mais presente nas redes sociais.

 

Por Júlia Rezende

8.5

Missão cumprida

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