Dois É Demais em Orlando

O cenário do cinema brasileiro continua se desenvolvendo e explorando novos gêneros. Enquanto a comédia permanece como “carro-chefe” das produções de maior sucesso de público, ainda é um tipo de comédia focado no público adulto e relações familiares. “Dois É Demais em Orlando” traz uma nova opção para a família, sobretudo para as crianças, mas sem desconsiderar os adultos. Para alcançar todos os públicos, o filme é estrelado por Eduardo Sterblitch, um grande nome da comédia nacional, mas muito mais reconhecido pelo público adulto, fazendo dupla com Pedro Burgarelli, uma criança extremamente talentosa. Juntos, eles não só têm química, como constroem um laço capaz de superar todas as fragilidades do roteiro e criam um filme digno de um clássico de Sessão da Tarde.

A trama é simples, próxima do clichê: João (Eduardo Sterblitch) trabalha no estúdio de uma confeiteira youtuber e se recusa a ser um adulto chato – e a crescer, no geral. Criado pelo pai aficcionado por montanhas-russas, ele passou a infância em parques de diversão, até que seu pai faleceu quando ele tinha apenas 12 anos, deixando para João a paixão pelos parques. Depois de passar anos juntando dinheiro, João consegue garantir suas férias no parque da Universal em Orlando e sozinho, já que para ele, ir acompanhado é desperdício de tempo (afinal, Dois É Demais). Complementando a personalidade jovial e sonhadora de João, temos Cacá, ou Carlos Alberto (Pedro Burgarelli), filho da chefe de João e completo oposto dele. Cacá não é da aventura, ele está no time de natação, mas só como fotógrafo porque tem pavor da água, é uma criança séria e com alma de adulto. No entanto, Cacá e João têm algo em comum: os dois estão indo para Orlando no mesmo dia, João para ir aos parques, Cacá para finalmente visitar o pai que era um jogador de sucesso e agora vive em Orlando. O trabalho de Clara (Luana Martau) tem alguns contratempos e ela pede para João acompanhar Cacá na viagem até o pai. É claro que outras coisas acontecem e os dois acabam tendo que compartilhar a viagem. 

Os parques da Universal não são um cenário à toa. Na verdade, esses parques são o motivo do filme como um todo, “Dois É Demais Em Orlando” é um comercial de 90 minutos da Universal e isso não é escondido ou disfarçado. Esse tipo de influência direta tem seus empecilhos e, em mais de uma ocasião, acaba atrapalhando o roteiro quando se torna algo exagerado, como quando algum parque ou atração é mencionada e os personagens dizem o nome completo deles – o que soa nada natural. É um filme da Universal (em que mundo um grupo de brasileiros vai pra Orlando e a Disney não é mencionada uma só vez?), todos seus parques e personagens são celebrados e exaltados a todo tempo. Essa situação poderia ter prejudicado o filme sem chances de ser salvo, mas para a sorte do espectador (e da Universal), isso não acontece e, apesar da propaganda escancarada, o carisma do elenco e a mensagem sobre amizade superam e transformam o filme em algo realmente especial. 

Enquanto João e Cacá aprendem sobre convivência, amizade (com um antagonista engraçadíssimo em comum) e superar seus medos, há também uma subtrama surpreendente sobre Ricardo (Anderson Di Rizzi), o pai de Cacá e outro núcleo de humor com os colegas de trabalho de João. A direção de Rodrigo Van Der Put não inventa a roda, mas soube trabalhar muito bem as limitações da parte comercial e seu maior triunfo foi trabalhar a relação entre João e Cacá e transformá-los numa dupla adorável, usando as melhores características de ambos, suavizando o humor de Sterblitch sem podar sua criatividade. Com uma história redondinha, um cenário mágico, momentos realmente engraçados e muito carisma, temos uma ótima opção nacional para toda a família.

Por Júlia Rezende