7.2/10

É Assim que Acaba

Diretor

Justin Baldoni

Gênero

Drama

Elenco

Blake Lively, Justin Baldoni, Jenny Slate

Roteirista

Christy Hall

Estúdio

Sony Pictures

Duração

130 minutos

Data de lançamento

08 de agosto de 2024

Lily Bloom decide começar uma nova vida em Boston e tentar abrir o seu próprio negócio. Como consequência de sua mudança de vida, Lily acredita que encontrou o amor verdadeiro com Ryle, um charmoso neurocirurgião. No entanto, as coisas se complicam quando um incidente doloroso desencadeia um trauma do passado e também, quando seu primeiro amor reaparece.

Como conceito básico, a arte não precisa de qualquer finalidade, ou função, para existir e ser compreendida como arte. No entanto, a partir do momento em que uma obra de arte decide servir a um propósito específico, deve ser julgada também por suas intenções? Essa é uma questão complexa, ainda mais quando o assunto da obra está diretamente conectado a questões sociais que demandam seriedade e um certo nível de profundidade para serem abordadas. No caso de “É Assim Que Acaba”, filme baseado no livro de sucesso da autora Colleen Hoover, a discussão a ser levantada é sobre relacionamentos abusivos e ciclos de violência doméstica. Separar completamente o entretenimento da função social desse filme é impossível, então falaremos de ambos os aspectos. 

O livro “É Assim Que Acaba” foi lançado em 2016, mas com a popularização do TikTok nos últimos anos, alcançou um novo ápice de fama depois de viralizar entre os “booktokers”, pessoas que utilizam os vídeos curtos da plataforma para falar sobre livros. A grande maioria desses livros têm elementos em comum e falam com um público bem específico, quase sempre meninas adolescentes/jovens adultas que preferem histórias de romance com tropos específicos e, depois de conhecer a história de “Isto Acaba Aqui”, fica evidente o porquê dele ter caído nas graças desse público. Da escolha de Taylor Swift como música tema para o filme, o elenco formado por pessoas dentro de todos os padrões de beleza imagináveis, até o triângulo amoroso e como ele se forma, é fácil entender para quem o filme é direcionado, mas pré-conceitos à parte, “Isso Acaba Aqui” conta sua história de uma forma surpreendentemente envolvente e consegue até mesmo escapar de alguns clichês de como relacionamentos abusivos são retratados – ao menos no começo.

Lily Blossom Bloom (Blake Lively), é o nome mais auto-explicativo de todos os tempos, é uma mulher apaixonada por flores (lily, blossom e bloom são todas palavras em inglês relacionadas a flores, e por mais que o roteiro tente fazer piada, reconhecendo que o nome é ridículo, mas “é o que é”, simplesmente não convence). Lily acabou de perder o pai, com quem aparentemente teve uma relação complicada, e vai espairecer na cobertura de um prédio. É lá que ela conhece o neurocirurgião impossivelmente bonito Ryle Kincaid (Justin Baldoni), ele é sedutor, misterioso e deixa bem claro que não está procurando por romance, mas que está interessado em Lily – ela quase cede, até que eles são interrompidos pelo hospital chamando Ryle para uma cirurgia. Eles se despedem sem trocar contato e Lily segue sua vida e enquanto está abrindo sua tão sonhada floricultura, ela conhece Alyssa (Jenny Slate), uma mulher que não precisa do dinheiro, mas quer trabalhar mesmo assim; elas logo viram amigas e depois descobrimos que Alyssa é irmã de Ryle, a partir daí, o romance decola. 

O primeiro ato de “É Assim Que Acaba” é, sem dúvidas, o mais forte. A construção do relacionamento entre os protagonistas coloca o protagonista na mesma posição que Lily: é simplesmente impossível não se apaixonar por Ryle e por mais de 1 hora, ele aparenta ser a personificação da perfeição, assim como o relacionamento dos dois. Ryle, além de obviamente bonito, sabe seduzir, sabe conversar, é engraçado, é simpático com todos ao seu redor e está sempre incentivando Lily – até que não é mais. O gatilho para que Ryle comece a mostrar seu outro lado é Atlas (Brandon Sklenar), quem nós conhecemos principalmente por flashbacks da adolescência de Atlas e Lily e entendemos que foi seu primeiro amor. Obrigado a lidar com seu ciúmes pela primeira vez, Ryle passa a mostrar que nem tudo em si é tão bonito quanto parece. 

“É Assim Que Acaba” é uma história sobre relacionamentos abusivos e ciclos de violência – ambas situações extremamente comuns na nossa sociedade, e o filme funciona como um guia do que se fazer nesse tipo de situação. A mãe de Lily (Amy Morton) sofria violência do marido, assim como a mãe de Atlas, e quando Lily passa pela mesma situação, é capaz de entender com facilidade o que está acontecendo. Por mais que seja um filme bonito sob quase qualquer perspectiva – a trilha sonora, a fotografia, as atuações e algumas cenas específicas – ele não deixa de ser superficial. A lição é clara: se o seu parceiro te agredir, você deve se separar, mas qualquer pessoa que tenha feito o mínimo de pesquisa sobre o assunto, ou conhece alguém da vida real nessa situação, sabe que quase nunca as coisas são tão claras assim. 

No filme, o relacionamento retratado não é abusivo até o momento em que a violência entre em jogo (e até quando a violência aparece, ainda há “justificativas”), mas a violência, geralmente, é apenas o modo mais “visível” de um abuso que começa emocionalmente. E simplesmente se virar e ir embora quando há violência também não é a realidade. Para contar essa história e ela continuar um filme bonito para o público-alvo específico, muitas “licenças poéticas” são tomadas, Lily é branca, dentro dos padrões, tem dinheiro desde jovem, uma rede de apoio e é uma empresária que nunca enfrentou qualquer dificuldade nesse sentido. Violência doméstica é um assunto absurdamente sério e também muito necessário de se discutir, sobretudo com as novas gerações, mas considerando a decisão de se utilizar o filme para essa discussão, ela poderia ter sido mais profunda e mais inclusiva, até porque há diversas oportunidades para isso, mas a decisão de manter a superficialidade está presente em outros aspectos do filme também, como na personalidade de Atlas ou até mesmo de Lily.

A intenção é boa, extremamente positiva e certamente fala diretamente com o público-alvo, mas apaga muitas realidades para fazer isso acontecer e abre a possibilidade de cair na ideia de que um relacionamento só é “errado” quando há agressão física. O livro foi escrito por uma mulher, assim como o roteiro adaptado, é uma história protagonizada por uma mulher e que fala de um problema, sobretudo, feminino; a direção, no entanto, é do protagonista Justin Baldoni. É uma boa direção, segura e que sabe controlar a sua narrativa, mas eu não deixo de me perguntar se uma história como essa não poderia ter sido melhor contada se tivesse mais uma perspectiva feminina. “É Assim Que Acaba” é um filme bom, ótimo se não fosse tão bidimensional quando consideramos a vida real, mas certamente agradará seu público-alvo e fãs dos livros.

 

Por Júlia Rezende

7.5

Em órbita

pt_BR