Gran Turismo – De Jogador a Corredor
Diretor
Neill Blomkamp
Elenco
Archie Madekwe, David Harbour, Orlando Bloom
Roteirista
Jason Hall, Zach Baylin e Alex Tse
Estúdio
Sony Pictures
Duração
135 minutos
Data de lançamento
24 de agosto de 2023
Gran Turismo – De Jogador a Corredor conta a história real de Jann Mardenborough, um piloto de corrida profissional. O que torna a carreira de Mardenborough interessante o suficiente para virar filme é o fato de que até sua primeira corrida profissional, aos 20 anos, ele nunca havia corrido num carro de verdade, apenas em simulação.
Jann Mardenborough (Archie Madekwe) é um jovem com o sonho de se tornar um piloto de corrida profissional, mas, se tratando de um esporte que requer um alto investimento financeiro, sua realidade como filho mais novo de uma família humilde da Inglaterra o afasta de tornar esse sonho uma realidade. Sem ter acesso a um carro de corrida, Jann passa todo seu tempo livre no que havia de mais próximo disso: o jogo – ou melhor, a simulação de corrida para PlayStation Gran Turismo. Para desespero de seu pai (Djimon Hounsou), um ex-jogador de futebol que torcia que ambos os filhos seguissem seus passos, Jann só demonstrava interesse pelo jogo, gastando cada centavo do que ganhava com empregos temporários para comprar os acessórios mais atualizados e alavancar seu desempenho no jogo.
Enquanto isso, Danny Moore (Orlando Bloom), um executivo de Marketing da Nissan, vê no GT uma oportunidade de colaboração de negócios. Diante do sucesso do jogo, Moore sugere que a Nissan seja a grande patrocinadora do GT Academy, um programa que selecionaria os melhores jogadores de GT do mundo para competirem entre si por uma vaga no time da Nissan para uma corrida profissional de verdade. Ele garante um grande espetáculo com a curadoria dos melhores treinadores e assim consegue a parceria. É aí que surge a figura de Jack Salter (David Harbour), um corredor aposentado e mal-humorado que agora trabalha como mecânico na equipe de um piloto jovem e prepotente que acredita que pode pagar seu lugar no pódio.
O filme se apoia fortemente nas sequências de corrida, elas compõem a maior parte do filme, mas têm sucesso em transmitir a tensão e emoção por trás do volante, tanto que não sentimos sua repetição. Como alguém que nunca jogou videogame ou assistiu uma corrida na vida, dizer que eu estava cética em relação a Gran Turismo é pouco, mas isso só me deixou mais surpresa quando percebi que não conseguia desgrudar os olhos da tela por um segundo. Pegando emprestado algumas técnicas de Ford vs Ferrari, a construção do som e a montagem das cenas nas pistas transmitem para a tela e para o espectador a velocidade que a grande maioria de nós não conhece na vida real. A direção de Neill Blomkamp também faz um bom trabalho ao saber mesclar nas horas certas os elementos característicos do jogo de simulação às pistas reais.
A trajetória de Mardenborough é a clássica jornada do herói por si só e tinha pouco espaço para dar errado. Ainda assim, sua história foi enriquecida com elementos ficcionais que fizeram toda a diferença para contornar o alto teor de merchandising que possui o filme. O primeiro deles é Jack Salter, David Harbour é mestre em interpretar o rabugento traumatizado que, no fundo, tem um coração mole e acaba cativando apesar dos pesares, e Salter é o personagem perfeito para isso, apesar de nunca ter existido na realidade. A dinâmica entre mentor e aprendiz funciona para a história como uma luva, Mardenborough é cheio de emoção e vontade, mas lhe falta maturidade e malícia para superar as adversidades apresentadas tanto pelo programa da GT Academy quanto pelos desafios da vida, enquanto Salter está mais do que acostumado com as pedras em seu caminho.
Outras licenças também foram tomadas, transformando o filme em algo mais melodramático e também interessante. Por mais que em algumas cenas seja possível perceber a manipulação imposta pela direção para fazer com que o espectador se envolva mais ativamente com a história contada, é uma manipulação que, eventualmente, te envolve, de fato. Seja a figura de Danny Moore ou de Audrey, o resultado é uma estrutura clássica que funciona e, seja você um fã de corrida ou um completo estranho em relação ao assunto, a adrenalina aliada a um – ou melhor – dois heróis cativantes garantem um bom filme.
Por Júlia Rezende